quarta-feira, 7 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 7 -

- MEIAS DE SEDA -
- 7 -
Os dois começaram a conversar assuntos de criança, casos naturais, ela mostrando o irmão do outro lado da linha e chamando para que chegasse até onde ela estava. O irmão não quis e com a cara emburrada, disse que era hora de ir e que ele já ia embora, andando sobre o trilho, olhando por entre os olhos, calado enfim e só a olhar de cabeça baixa como um menino acuado por causa de outro homem que estava a conversar com a sua irmã. A menina estendeu a mãozinha e pediu para que ele viesse onde ela estava e ele dizia sempre que não. Então Salésia argumentou com o homem:
--- Esses meninos de hoje. – disse Salésia como se fosse maior de idade.
Jubal sorriu com a observação feita pela menina e respondeu apenas.
--- É normal. Ele não me conhece. Está na defensiva, - falou Jubal contemporizando a situação surgida entre o garoto e ele.
--- Ele é Ênio. Mais velho que eu. Hoje faço 11 anos de idade. Nem vai ter festa. Minha mãe disse que vai fazer no domingo. Eu quero só um bolo. – falou Salésia alegremente.
--- Você faz 11 anos hoje? Que maravilha. Aceite meu abraço afetuoso, Salete. – respondeu o homem.
--- Salésia o meu nome. Não é Salete. Você não ouviu quando eu disse? – perguntou Salésia.
--- Ah Ouvi. É porque minha cabeça está velha. – respondeu Jubal disfarçando o erro.
A menina sorriu leve como que soube naquela hora da velhice do homem. E ela voltou a chamar o irmão para onde ela estava. O garoto disse que não ia e rumou para a sua casa no alto, na Rua Ocidental de Cima.
--- Menino besta. Nunca vi. – respondeu Salésia como a se desculpar de Jubal.
--- É normal. E você tem outro irmão? – perguntou Jubal.
--- Tenho Euclides. Eu chamo ele de “Sequilho” porque é magro.
--- Sequilho? – o homem perguntou alarmado e caiu na gargalhada. Uma gargalhada imenso que ele teve de se acocorar no chão para evitar um tropeço. E disse de novo.
--- Sequilho mesmo? – continuando a sorrir estonteante.
--- É. Sequilho. Quem manda ele ser raquítico! – comentou Salésia de forma insinuante
E a conversa prosseguiu por um minuto a mais quanto então Jubal perguntou a menina onde ela morava e o seu pai o que fazia coisas simples de saber. Salésia sorriu e disse que morava lá em cima:
--- Lá em cima. Olhe. Tá vendo? Na Rua da Prisão. Aquela que desce. E meu pai é maquinista de trem. Dirige o trem da Estrada. Ele passa aqui todos os dias. – falou Salésia se enchendo de prazer e contentamento.
Aproveitando a oportunidade Jubal disse de imediato que o seu pai era um homem forte para dirigir um trem.
--- Ele é forte. Mas não é fortão assim. – mostrou Salésia com seus bracinhos fininhos a largura que tinha o seu pai.
Uma mulher surgiu na encosta do paredão que separava a Rua Ocidental de Cima e de Baixo a procura da menina que havia ficado na estrada de ferro a conversar com um estranho. Era a sua mãe que a chamou de imediato para subir e ir para casa pois seu irmão já chegara e lhe dissera que Salésia tinha ficado com um forasteiro. A mulher sabia que havia ali um capinzal de um certo senhor Jubal. Porém não queria saber da filha metida com pessoas mais velhas que ela. De cima de onde estava ela olhou um pouco aflita com a filha e sorriu para o homem ao dizer:
--- Essa menina me tira os cabelos da cabeça. – rosnou a mãe da menina.
--- Já vou indo. Depois eu volto. Não diga nada a ela. Viu? – respondeu Salésia a Jubal
--- Bom dia senhora. Estávamos conversando eu e ela. Podes crer. Sua filha é muito esperta. Igual a minha de onze anos. – disse Jubal à mulher mãe de Salésia.
--- Isso é danada! – sorriu a mulher para o homem.
--- Eu sei o que é criar filhos nessa idade. Sou um pai e sei disso. Ela agora vai se aquietar. Tenha certeza. – respondeu Jubal para tranqüilizar a mulher.
A mulher sorriu mais uma vez quando a menina já estava na parte de cima da rua e corria para onde estava a sua mãe dizendo algo que não interessava a mulher. Quando já estava bem longe do capinzal, a mulher acochou o braço da menina e logo disse:
--- Já disse que não quero você conversando com estranhos. – rosnou a mulher de forma baixa para a menina.
--- Arra meu braço. E ele não é estranho. É um amigo meu. – disse Salésia se despregando de sua mãe e correndo para a sua casa chorando pelo muxicão que levou em seu bracinho fino.
A sua mãe tentou correr atrás, mas a velocidade da menina era bem maior. Por outro lado, Jubal largou o cavalo para dentro do curral de onde ele tirara para ir a sua casa logo cedo da manhã. O outro cavalo, Pintado, estava solto no sítio e relinchou ao ver passarão meio da entrada o seu amo e o cavalo Otário. Após trancar o portão do curral o homem seguiu para o interior do casebre onde trocou a roupa pelo outro traje de trabalho. Ele amarrou a cintura com um cordão e saiu para o campo. E já estava uma meia hora a arrancar e plantar capim quando os soldados chegaram para apanhar a ração dos cavalos do Batalhão. Jubal notou a presença dos soldados. Aquilo não alarmou o homem porque já vira no cercado uma carroça para levar a ração. De imediato Jubal se soergueu e deixou o capinzal em paz e foi despachar a cota da ração que teria de mandar. Os soldados ajudaram o homem a carregar o feno e encher a carroça de transporte. Com um pouco de tempo um soldado disse a Jubal que ouviu falar do chamado que ele teve no dia passado para ir a Delegacia de Polícia e falou que em outro dia o mesmo aconteceu com um sargento da Polícia, apenas que em outro Distrito. O sargento estava sendo acusado de sedução por parte de Zilene, a mesma que fez a denuncia contra Jubal.
--- É danado mesmo. E tem gente que ainda acredita nesse tipo de gente. – replicou o homem ainda ferido com o que lhe sucedera.
--- Pois é. Essa mulher não presta mesmo. Desculpe por sua amizade com a mãe da moça. – respondeu o soldado.
--- Não tenho amizade mais com a mãe dela, não. E nem com ela. Só quero distancia. Me diga quem foi o sargento. – pediu, por favor, o homem.
--- Imagine quem? Um delegado do interior. – e sorriu o soldado.
--- É bom que eu saiba disso. Não custa nada. O bodoque vai e vem. Deixa está! – ressalvou Jubal se alegrando com a notícia.
A conversa parou por ai, pois os dois guardas da Policia tiveram que voltar para o Esquadrão onde tinha que despejar o feno e pôr extensão à ração dos demais cavalos ali existentes. O tempo era quente para Jubal que aproveito para entrar na cabana e beber um pouco de água. Ao voltar, tomou um pouco de ar fresco no naquele final da manhã, pois estaria a voltar para casa em poucos minutos. Ele amolou o facão de sabre na tira de pano untado com amolador que estava pendurada no caibro do alpendre enquanto passava o trem de carga conduzindo mercadorias e outros objetos do interior para a capital. A zoada que a maquina fazia já não intranqüilizava o homem pois já era do seu costume ouvir a passagem de trens a todo momento do dia. O apito soou estridente espantando a gente do Paço que teimava em ficar sobre a linha.


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