quarta-feira, 21 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 21 -

- MEIAS DE SEDA -
- 21 -
O Jornal da Cidade informou certo. Naquele ano de paz presidente da República do Brasil, marechal Gaspar Dutra esteve da cidade em companhia da Primeira Dama Carmela Teles para acompanhar o Governador, José Augusto Varela e a Primeira Dama do Estado em uma série de eventos que o seu Governo inaugurava na capital. A programação foi extensa, mas o principal evento foi na Praça do Governador onde houve a palavras de vários oradores, terminando com a do Presidente Dutra. Por fim, foi feita a distribuição de brindes a garotada que se satisfez com aqueles parcos brindes; um carrinho de madeira como um carro de conduzir água, uma corneta, uma bonecas, tudo o que satisfizesse as crianças da cidade. Seu Jubal esteve a olhar de fato a cerimônia. Ele montado em seu cavalo de nome Pintado debaixo de uns pés de fícus do lado oposto da aglomeração de pessoas que foram participar da solene cerimônia de discursos ouviu todos os que falaram. Em seguida, cuspindo de lado, Jubal partiu para o sitio do capinzal. Na ocasião, ele se lembrou o amigo Osias que havia perdido a perna. Deu a gangrena e por isso, os médicos tiveram que tomar tal decisão. O homem estava nessa época em sua casa. Com o passar do tempo, Osias passou a usar muletas para poder andar. O sonho que estava a nutrir de comprar uma fazenda no interior foi por água a baixo. Toda a sua economia escorreu pelo ralo. Ao passar do tempo, Osias se sustentou com um emprego da filha Walquiria e dos arranjos que o seu amigo Jubal lhe arranjara. Para não dizer que estava dando esmola, Jubal arranjou uma carroça puxada por um burro mulo e Osias foi tomar conta do sitio que um dia fora dele. Acabrunhado com a desgraça, Osias aceitou a oferta dada por Jubal. Aqueles foram tempos difíceis para o jovem velho Osias. Com o pessoal que o conhecia ele parecia não falar no assunto. Quem perguntasse se ele comprou de novo o sitio, respondia então que Jubal estava fazendo negócio. Com isso, nunca ninguém soube na verdade que Osias vivia da caridade do amigo.
Walquiria trabalhava em uma fabrica de essências onde preparava perfumes dos mais variados tipos e vendia além dos perfumes, vaselinas e óleos de cheiro natural para quem quisesse passar no cabelo. Havia bastantes compradores dessas mercadorias que saiam a vender pela cidade, principalmente nos bairros pobres. A perfumaria era do senhor Nestor Rossetti, viúvo, pai de um casal de filhos. Ela atendia a freguesia e Walquiria enchia os frascos de perfumes. Tinha um mais barato que parecia tirado de um de uma ampola de injeção de um odontologista ou de ampola de clorofórmio que Walquiria enchia e tapava com uma borracha. Esse perfume era para se usar uma única vez, por ser tão pouco e tinha uma saída imensa. O pessoal que vendia de porta em porta levava dúzias de perfumes desse estilo. Se alguém pedisse uma essência de um perfume mais ao custo, Nestor Rossetti também atendia ao freguês porque perfumes ele sabia de quais essências eram feitos. De Royal Briat a o tal Madeira do Oriente era tudo a mesma coisa para ser feito. Nestor Rossetti pegava a fórmula e mandava Walquiria encher, não raro, um litro do perfume de que o freguês solicitava. Foi assim que Walquiria aprendeu os segredos dos perfumes.
A freguesia da Loja de Fragrância era intensa todos os dias da semana inclusive aos sábados pela manhã porque o comercio não abria à tarde nesses dias. E era a atender seu Rossetti no balcão e Walquiria no laboratório. Os barris de essência vinham do sul do País e alguns do exterior, inclusive de países do Oriente Médio, pois dali advinha as mais suaves fragrâncias tiradas de madeiras orientais. Com esse requinte de sábia moça Walquiria se eternizou perante o velho Rossetti até um dia que ele pediu ao pai sua mão em casamento. Walquiria, com o tempo, casou com o velho Rossetti e passou a viver em casa largando o serviço de auxiliar de perfumaria. Mesmo assim, sempre quando era preciso, a mulher estava na frente dos negócios, uma vez que o velho Rossetti andava muito cansado. O seu pai, Osias, continuava a trabalhar no sítio de feno fazendo o serviço que aprendeu. Somente com uma perna e trabalhando para Jubal, ele nunca deixou o serviço.
Certa vez, em uma segunda-feira, Suzana, sem companhia da sua filha Salésia, desceu até a Feira do Paço. Com um saco de pano por entre o braço ela foi comprar frutas, verduras e carne seca, pois a carne verde ela comprava no Mercado da Cidade. Suzana esperou que o trem passasse com destino à Tração, pois o carro e os vagões já haviam chegado de pouco tempo das cidades do interior. De imediato, tendo o campo livre ela atravessou as duas linhas que existiam no local. Suzana estava a escolher as frutas quando Jubal se aproximou da mulher e soltou uma brincadeira. A mulher tomou um susto e quase que deixa cair às frutas no chão. Para amenizar o susto Jubal lhe disse:
--- Teve medo? – sorriu o homem com paciência.
--- Demais! – sorrio a mulher se recompondo.
--- Onde está Salésia? – perguntou Jubal para deixar tudo a vontade.
--- Ela? Foi à escola. Estou livre por esses dias e meses! – sorrio Suzana.
--- É bom saber que ela se dedica ao estudo! – recomendou Jubal de modo tranqüilo
--- Ela é estudiosa. Em penso que vou até mudar de estabelecimento no próximo ano. – destacou Suzana olhando então para o homem.
--- Isso é bom. A minha filha mais velha termina esse ano. E a menor, no ano que vem. - respondeu Jubal com tranqüilidade.
--- E o senhor? – perguntou Suzana de forma sutil.
--- Que tenho eu? – perguntou Jubal.
--- Não se casou mais? – indagou Suzana de forma maliciosa.
--- Não penso nisso. Para mim só existe apenas um grande amor e uma vez na vida. – respondeu Jubal delicadamente.
--- É interessante como o senhor pensa. Tem gente de casa e descasa para casar de novo e descasar depois. É só o que se escuta. – falou Suzana de olhos fitos em Jubal
--- É. Deve ter mesmo. Mas não me apetece. Minha mulher foi à única até hoje. – falou o homem.
--- Nem um caso? – indagou Suzana mais uma vez.
--- Não existem casos. Existe atrapalho de vida. – respondeu Jubal.
--- É. O senhor tem razão. Eu tive um e vou continuar assim. – confessou Suzana.
--- Isso é bom. Agora eu vou partir. Vou cumprir com o meu dever. – respondeu Jubal
--- Ah Isso é bom. Depois apareço por lá. – respondeu a mulher.
--- Apareça. Apareça. E leve Salésia! – falou Jubal de imediato.
--- Vejo que o senhor é louco por Salésia. – respondeu Suzana
--- Ela é uma boa menina. Eu ainda estou pensando no aniversario dela. Ela me convidou e eu não pude ir. Não me esqueço da data. Dia 26 de abril. – decifrou Jubal
--- Nossa! Que memória. Eu vou dizer o que o senhor me disse. Ela vai ficar louca por não ter vindo hoje comigo. Minha Nossa Senhora! – argumentou Suzana.
Daí Jubal saiu para o sitio onde ele mantinha a sua família sem contar com o percentual que tirava do outro sito que pertenceu a Osias. Mesmo assim portando a sua deficiência o homem, Osias tomava conta tiragem do feno e do pagamento dos fregueses prestando parte do lucro para Jubal todos os finais de semana. Para Jubal aquilo era por suma procedência, pois não tinha que se incomodar diretamente com o segundo sítio. E assim foi seguindo para o seu primeiro sítio onde poria as coisas em ordem, certamente. No instante em chegou ao cercado encontrou na porteira o seu com o amigo Inaldo que parecia chorar amargamente. Isso o surpreendeu de modo com tamanho choro do rapaz. Inaldo era um homem sorridente, galhofava com todos os demais, residia de bar em bar quando não era hora de trabalho, não se envolvia em balburdia e naquele instante era um homem desprezível. Tinha bebido, sim. Mas era por isso que Inaldo chorava. Talvez algo um pouco mais grave. Era um enigma para Jubal o que tinha acontecido a Inaldo. Ao chegar na porteira do cercado cumprimentou o velho amigo e este respondeu:
--- Ajude-me, por favor. Ajude-me. – rogou Inaldo entre lágrimas.
--- Que aconteceu amigo? – indagou Jubal de forma paciente.

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