sexta-feira, 23 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 23 -

- MEIAS DE SEDA -
- 23 -
Um punhado de gente correu para ver a demonstração do Lunático para se ver Deus numa casca de ovo. Os talhadores de carne diziam até que ele não passava de um louco, mulheres que vinham desviavam de caminho para não passar por perto. Os balaieiros nem olhavam o que se estava fazendo do café, outros fregueses ficaram curiosos para depois mangar do Lunático. Uma azáfama de gente se punha em pé em torno do Café de dona Nazinha. Ao seguir com a sua demonstração o Lunático teve sua vez de sucesso.
--- Olhe bem o que eu faço! – disse o Lunático de olhos bem abertos para Inaldo
E ele partiu a casca do ovo derramando gema e clara em um pires que estava posto para esse fim. A gema ficou toda cheia em meio da clara. Uns assobiavam mangando do Lunático. Outros diziam que era o dia de Nazinha fazer café de graça para todos. Um evangélico viu a demonstração com a cara desfigurava.
--- Você está vendo a gema? – perguntou o Lunático feliz da vida.
--- Estou! – respondeu Inaldo de forma curiosa.
--- Olhe bem. Vê se você enxerga um olho no meio da gema. Enxerga? – perguntou o Lunático sorrindo.
--- Então você está vendo Deus. Sabe por quê? – perguntou o Lunático de forma séria.
--- Não. Por quê? – perguntou Inaldo surpreso.
--- Bem. É o seguinte. Quando a minha mãe “teve” com meu pai... A Bíblia diz sempre “teve”. Não diz de outra forma. ...O anjo “teve” com Maria. É sempre “teve”. Bem, Quando o meu pai “teve” com a minha mãe ele injetou nela, na sua concepção, um punhado de espermatozóide... Cerca de 40 milhões de seres como eu. E eu procurei o óvulo de minha mãe para abrir uma porta e entrar. Então entrei e tranquei a porta. Os que ficaram de fora desceram para o “inferno” que era o útero de minha mãe. Esse se incumbiu de fazer a limpeza. Varrer para baixo, para a terra. Se você já leu as Escrituras tem ali o que Jesus disse: “Muitos serão chamados e poucos os escolhidos”. Ele disse mais: “Pai nosso que estás no Céu”. Queria ele tão somente dizer que eram o espermatozóide, o pai e o óvulo o céu. Para mim, que era pequenino quando cheguei ali, aquilo era o Céu. E veja bem. Eva significa vida. Se eu disser Eva estarei dizendo “vida” como também Adão é apenas “humanidade”. Humanidade – esperma – e Vida – a Eva. É tudo muito simples. Agora, os judeus, os católicos, os evangélicos, os espíritas, os maometanos fazem uma confusão estupenda de que Deus é um ser supremo criador do céu e da terra. Na verdade ele é o criador porque ele me gerou, também gerou as borboletas, as aves, a cobra, o peixe, o elefante e todos os bichos da terra e do mar. Foi tudo gerado dessa forma. Ele é o óvulo, tão somente. É o que gera. É isso que eu tinha a dizer. Entendeu agora? – falou o Lunático sorrindo.
--- Quer dizer que eu sou uma gema? – perguntou Inaldo assustado.
--- Não. Você não é a gema. Você é o espermatozóide que fecundou a gema. É isso que você é. Está vendo agora? – perguntou o Lunático sorrindo.
--- Puta merda. E eu vim de um ovo? – perguntou Inaldo assombrado.
E todos ficaram abismados com as explicações dadas pelo Lunático aquele punhado de gente. Alguns até duvidaram do que ele falou. Outros não deram a menor importância e Jubal só disse apenas isso.
--- É. Tenho que cuidar do meu capim. – falou Jubal e saiu da mesa.
Quando Walquiria foi pedida em casamento por seu patrão, Nestor Rossetti, o seu pai, Osias ficou bastante emocionado com a ação do velho homem. Rossetti era homem dos seus 60 anos, viúvo, pais de um filho e uma filha. O filho era advogado e a filha dona de casa casada também com outro advogado. Nestor Rossetti tinha corpo de gigante, pele alva, cabeça careca, mãos firmes e tudo o mais que um descendente de italiano tem. Walquiria era de pele morena, silhueta bela, altura de 1,60 metros, corpo franzino e nunca namorou na sua vida. Ela vivia de casa para o trabalho. Aos domingos assistia Missa da Catedral com a sua mãe, mulher modesta e dona de casa. O seu pai, antes de negociar o sitio onde ele tirava sustento de sua família, era de média altura. Ao sofrer uma gangrena na perna, ele teve que amputar a parte afetada. Para não dizer que estava passando fome, Jubal arranjou uma carroça puxada por burro mulo e o velho foi cuidar novamente da fazenda de feno. A filha tinha arranjado um trabalho em uma Loja de Fragrância onde aprendeu a fazer perfumes. Encantado com a jovem moça, certa vez o dono, senhor Rossetti a pediu em casamento. Lago depois estava marcado a data de ambos contraírem núpcias. A testemunha de Walquiria foi seu Jubal Valadares, da herança portuguesa. Com relação à outra testemunha de Walquiria ela tomou por certamente gostar bastante, a mulher Zulmira Cardoso moradora próxima a residência de Walquiria que tinha o nome completo de Walquiria Coimbra. Houve o casamento civil e religioso e a noiva dessa forma passou a ser chamada de Walquiria Coimbra Rossetti.
Na festa do casamento o noivo alugou um recinto no Grande Hotel onde receberia os convidados e amigos do noive e da noiva. A festa começou às nove horas da noite de uma sexta-feira onde todos os presentes vestiam as mais ricas e nobres vestes que lhe aprouvesse. No elegante salão de baile do Grande Hotel, um eximiu pianista arranjou a cerimônia com toques de tarantela e música clássica como suíte e para completar, a meia-noite a valsa nupcial de Mendelssohn. Entre os elegantes da noite estavam Jubal Valadares e sua filha Oceanira, moçinha de quase 15 anos de idade. Entre os acordes do piano todos ou quase todos dançaram as canções e suítes. Jubal, para essa festa, alugou um vestuário para si e para a sua filha dando-lhes uma elegância sobremaneira com requintes de homem nobre e de filha dileta. O pai da jovem Walquiria Rossetti estava sentado em uma cadeira de rodas que para se deslocar tinha a ajuda de um rapaz dos seus 19 anos trajando roupas a contento. Aquele foi o casamento do ano para o gerente do Hotel, pois ninguém havia se casado assim do salão daquele flat. Em determinado momento, Jubal notou a presença de sua amiga, a já nem tão pequena Salésia, de vestimenta elegante, sua mãe, pai e tia com o seu respectivo esposo. Há algum tempo, Joana contraíra matrimonio com o jornalista Pedro Nunes em uma festa simples para a qual Jubal foi convidado e não pode comparecer. Tão logo ele observou o pessoal se apressou em cumprimentar a todos mostrando sua filha mais velha e tecendo significativas homenagens a moça Salésia que para si já era uma verdadeira senhorita. A garota se apressou em agradecer os cumprimentos recebidos e enaltecer a elegância que o homem lhe depositara.
E dirigindo-se a filha do homem procurou conquistar a sua simpatia e a lhe chamar para ir tomar algo refrescante que devia haver no bar do Grande Hotel. A moça Oceanira não se fez de rogada e atendendo a atenção do seu pai, Jubal, fez do convite uma esmerada emoção por ter encontrado alguém de sua idade que devia já tê-la conhecido porque o seu pai falara muito a ela ao seu respeito. Saíram as duas a conversar fruticas e a sorrir de tudo. As duas mocinhas arranjaram do que tratar e se aproximaram de outras mocinhas conhecidas de Salésia combinando uma saída para lugares mais amplos e de melhor aconchego. Enquanto as horas passavam, as jovens tagarelavam sobre namoro entre coisas próprias de gênero, até mesmo de filmes que passavam no majestoso cinema da cidade. Quando a Marcha Nupcial começou a tocar as mocinhas nem estavam na metade dos seus segredinhos a contar.
No dia seguinte, Jubal se preparava para sair logo cedo do dia quando Oceanira lhe chamou enquanto todos dormiam. Ela queria passar o dia na casa de Salésia, porque foi convidada. O seu pai refletiu um pouco e depois disse que concordava desde que ela voltasse com ele ao final da tarde. O acerto foi feito e Oceanira ficou de sair às oito horas da manhã quando o seu pai viesse lhe buscar. Assim combinado, assim foi feito. O homem foi até o Café de Nazinha onde pôs conversa fora dando um tempo a chegar o horário combinado para levar sua filha à casa de Salésia. Foi um dia maravilhoso para as duas mocinhas, onde passearam, Oceanira viu de perto a Estrada de Ferro e depois fizeram uma visita ao pai da jovem onde as duas chuparam cana, tiraram manga do pé e chegaram até a andar de cavalo, coisa que Salésia nunca tinha feito. Para um maior cuidado, Jubal não permitiu que elas andassem pela linha do trem, pois era arriscado. Em um campo, passando de um lado para o outro, onde também Jubal era dono, as mocinhas fizeram de gato sapato. Era uma amizade que se consolidava. Quando a tardinha chegou era a hora da partida da casa de Salésia. Jubal escorou o cavalo na calçada da moradia e colocou no alto a sua filha Oceanira.

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