segunda-feira, 5 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 5 -

- MEIAS DE SEDA -
- 5 -
Ao falar ele começou desta forma, pois não havia mais tempo a gastar dado os processos que se acumulavam em sua mesa de trabalho no escritório da Delegacia de Policia da cidade. Apesar de conhecer por longa data o cidadão Jubal ele – o delegado – teve mesmo que chamá-lo para depor. Como nada teve de importância o delegado apenas disse ao suspeito acusado de sedução:
--- O senhor pode sair. Quando as duas mulheres ou moças fiquem para ouvir o que tenho a dizer. Quando a “inocente” jovem chegou aqui para denunciar o acusado, disse que era uma moa de dezessete anos. Depois, ela falou que tinha apenas dezesseis anos. Agora, a senhora mãe traz a noticia de que a moça tem vinte anos. Três idades para um só caso. Além do mais nada pode a senhora provar por não ter identidade, um documento valido em todo o País. Em tal caso dou por encerrada a denuncia de sedução e recomendo a senhora mãe a levar sua filha para casa, dar-lhe boa surra ou então mando prende-las por desacato a autoridade. Estamos entendidos? – perguntou o delegado a mãe e a filha ali presentes já um tanto perturbadas com o fracasso da denuncia.
--- Tá bem delegado. Eu sei agora que ela mentiu. Ela vai ver o que eu dou pra ela. Vamos fuxiquenta! – falou a mãe de Zilene enraivecida.
Jubal ainda olhou bem de perto a cara de dona Doca e saiu da sala agradecendo ao delegado pelo seu desempenho competente. Após alguns momentos para deixar Jubal se adiantar na saída, as duas mulheres foram ruminando descompostura pelo meio do caminho sendo a mais valente a senhora mãe que parava de cantar a mesma ladainha com a sua filha que a meteu numa enrascada de forma maldita. Zilene, por seu lado, apenas dizia:
--- Eu não queria isso, mãe. Eu queria somente fazer um medo a ele. – falou Zilene acabrunhada.
--- Que medo que nada! Você me fez perder meu melhor freguês, sinhá molestada! – descompôs a mãe da moça, dona Doca.
Enquanto isso, Jubal seguiu para a Rua da Pedra quem alguém chamava Rua da Água seguindo com destino ao seu sitio, o capinzal onde tomaria o seu cavalo e seguiria para fazer compras de carne indo depois direto para a sua casa onde cuidaria do almoço. A carne entregaria, com certeza, a Oceanira, filha mais velha dos três filhos que lhe sobraram do casamento. Com a chegada no alto da rua, ele ficou a meditar em ir ou não ir. No seu relógio já estava marcando quase às 11 horas. Do jeito em que saiu da Delegacia de Policia notava-se um Jubal melancólico, pois era a primeira vez que fora intimado a depor num processo que não deu em nada. Apenas uma intriga da moça Zilene foi o que resultou em tudo aquilo. O caso era bem simples: ele – Jubal – não quis a oferta de fazer sexo com a jovem mulher. E, talvez por vingança, ela foi a Policia depor contra o homem. A sua cabeça fervia de raiva por conta da jovem Zilene e ainda da sua mãe, dona Doca que se arrazoou em pedir a sua prisão.
--- Filha de uma puta! Sacana! Mulher infame. Mais do que a filha. Ou ambas se não me engano. – pensou o homem tecendo em intriga. Esse pensamento saiu devagar, manso ainda para o momento em que Jubal se viu um homem preso.
No alto da ladeira ele enfim tomou a decisão: Buscaria o cavalo para seguir a sua casa, certamente. O cavalo de Jubal tinha um nome interessante: “Otário”. Era porque certa vez, Jubal dava banho no cavalo com água tirada de uma cacimba no quintal do sitio. O homem já tinha dado banho em “Pintado”, o outro cavalo que era assim chamado por trazer umas marcas no seu pelo. Depois de dar banho em Pintado, ele foi ao segundo cavalo. Quando estava banhando o animal, as moscas fizeram uma zoada em seu pelo, pinicando, talvez, e o cavalo não suportou aquele amontoado de moscas. E deu com o pé no chão espantando as varejeiras. O coice do quadrúpede foi bem em cima do pé de Jubal, dilacerando a unha do pé direito. Quase morrendo de dor pelo pontapé do cavalo, Jubal apenas disse:
--- Arra danado! Não tá vendo meu pé? Ô com os diabos! – aclamou Jubal cheio de dor
E saiu dali a procurar uma touceira de bananeiras que ele havia plantado no sítio e descascou um pouco do troco de uma bananeira e lavou o pé com a seiva da pacobeira então saindo para o interior da cabana a procurar um pano onde retirou um pedaço para enrolar seu dedo maior. Depois disso, calcou as botas que ele sempre trazia, e meteu o pé dentro do sapato. Quem o visse assim, os carroceiros, os que mais compravam todos os dias a ração dos animais, perguntavam:
--- Que foi isso seu Jubal? – perguntava um carroceiro surpreso.
--- O desgraçado desse otário que me pisou o pé. – respondia ele malsinado.
E por isso mesmo, de otário em otário, ficou sendo chamado o animal: Otário. Quem visse Jubal montando o seu cavalo perguntava logo:
--- É o Otário? – perguntava alguém.
--- É ele mesmo! – respondia o homem a seu interlocutor com raiva ainda do coice.
Independente de Otário e Pintado ele foi seguindo até o sitio, descendo a rua com seu chapéu de panamá cobrindo a cabeça e fechando parte dos olhos sempre olhando para o chão a pensar no que sucedera ainda há pouco. Sempre sisudo, ele entrou pela porteira e pegou o mesmo Otário, um cavalo bom de raça e rumou para fora deixando o outro animal a relinchar como quem disse – E eu? – No seu caminhar ele relutou em seguir direto para o Mercado da Cidade. Sabia ele que havia um açougue mais próximo, na Rua Vaz Gondim chamada “Casa da Carne”. Essa Casa ficava em uma esquina entre a Rua Vaz Gondim e a Rua Coronel Cascudo. E foi lá que ele comprou a carne de sol para Oceanira fazer o almoço do dia. A sobra ficaria para o jantar. Ele teve o cuidado de examinar a carne que comprava para não ter desapontamento com os famigerados tapurus que a sua querida esposa Nora, quando vira, certo dia deu um tremendo alarme assustando toda a vizinhança do lugar. Ele, então sorriu baixinho ao se relembrar do ocorrido.
Ao chegar em casa, Jubal entregou a carne a Oceanira recomendando que a filha lavasse bem a peça que trataria pois assim teria maior cuidado com os tapurus. A filha obedeceu e disse ao pai:
--- Está faltando farinha. – reclamou Oceanira.
--- Mande Olinda comprar da venda de Ney de Burro. – respondeu o homem deixando o dinheiro em cima da mesa.
--- E não tem tomate também. – respondeu a moça.
--- Compre logo tudo. Amanhã eu faço a feira no Paço. Quero só vê o que vai faltar ainda nessa casa. Tem feijão? – perguntou Jubal com olhar aflito.
--- Tem não. Um pouquinho de fava. – respondeu a filha.
--- Puta merda! Não tem nada nessa casa? Deixa que eu vou comprar. – e pegou o dinheiro para ir a venda de Ney de Burro.
--- Vou também, paizinho. Aproveito para ele me dá confeito. – disse a menor das duas filhas, Olinda, agarrando a mão do pai.
--- Vamos lá, filha. – falou o pai a sua filhar menor.
--- Não vai levar Otávio? – perguntou a menina.
--- De cavalo, então. – disse o homem com um sorriso na face.
--- Obá. Vamos Tavinho. De burro. – falou a menina.
Otávio que estava com o dedo socado no nariz se recusou em ir. A menina insistiu e o menor não quis de modo nenhum. O homem ficou a olhar o garoto que estava metido na saia de sua avó e pediu com carinho para que ele lhe fizesse companhia. O garoto se enfurnou mais ainda na saia da avó sem querer sair. A avó Chiquita disse ao filho Jubal que era melhor ele ir somente com Olinda, pois o garoto estava com gripe e o sol estava quente para ele. O menor se aquietou e subiu no colo da avó Chiquita.

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