terça-feira, 6 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 6 -

- MEIAS DE SEDA -
- 6 -
Na manhã do dia seguinte Jubal estava logo cedo na Cidade. Porém evitou em ir ao Café de Dona Doca com quem tivera um desacerto no dia anterior por causa de uma denuncia infundada que fez a sua filha Zilene contra o homem. Entrou ele pela porta de frente do Mercado, na parte esquerda do prédio como quem entra, e foi até a banca do peixe para ver o que havia de novo na ocasião. Eram cinco e meia da manhã e os vendedores de peixe nem ainda chegaram ao seu local de venda. Ele percorreu o setor de carnes de segunda que ficava a frente do local de peixes. Então olhou para as carnes ofertadas, fez cara de quem não gostou e logo saiu. Jubal pegou o rumo de fora do mercado onde se vendia frutas as mais diversas: manga rosa, caju, abacate, jaca entre outras e verduras a granel. Ele logo apanhou uns cajus e mangas e então procurou fazer uma mini-feira de produtos comestíveis que levaria para casa. Ele passou na banca que vendia maracujá e perguntou o preço. A mulher lhe disse e ele pediu uma cesta para colocar os maracujás e as outras frutas e temperos já comprados nas outras barracas. De imediato foi até ao café que ficava em uma outra rua, seguindo-se pela Rua Ulisses Caldas, passando-se por uma requintada sorveteria de esquina aquela hora fechada e só se ouvindo o zoar do maquinário para conservar os picolés e sorvetes, entrou pela rua que ainda não tinha ido fazer quaisquer negócios e onde estava também o Royal Cinema. Ele caminhou um pouco com a cesta nas mãos e teve que entrar em um café que só abria às seis horas da manhã. No café havia pouca gente. Alguns notívagos se eram que assim os chamassem. Ele pediu mungunzá, cuscuz e uma caneca de café. Uns poucos fregueses se ajuntavam em uma mesa e trocava conversa que só a eles interessava.
--- Mas fecharam o Cine Royal? – disse um.
--- Foi. Mas abriu outro. Uma na Deodoro. – disse outro.
--- Ali só entra gente de bem. – comentou um terceiro.
--- A mim pouco importa. Não vou a cinema!. – respondeu um quarto rapaz.
--- Pois é. E o jogo? – perguntou o primeiro.
--- Uma merda. O America perdeu para o ABC. Droga! – respondeu um dos que estavam a conversar.
Então, Jubal ouviu tudo o que a rapaziada contava e pouco se importou. Era melhor ele ir a Feira do Paço onde podia haver melhores acontecimentos a se verificar. Ele pagou a conta e rumou para o Paço. De longe – não muito – Jubal olhou para o seu sitio do alto da Rua Ocidental de Cima. Em baixo, parecia tudo normal. Os seus cavalos ainda estavam presos com certeza. Ele apurou a vista para ver se havia alguém pelo cercado. Porem não havia alma vivente sequer. O homem desceu por uma espécie de rampa e chegou a Feira do Paço onde pode observar o que havia ali.
--- Só tem mamão maduro. Nem carne boa existe. Peixes? É melhor eu apanhar meus caranguejos. – comentou o homem a outro companheiro.
--- Tem carne de porco ali. – respondeu o companheiro de Jubal.
--- Esse? Nem vivo! Estão cheios de vermes. Olhe a carne dele! Aquilo é verme! Não me serve. – contrapôs Jubal como quem entendesse de carne de porco.
--- É mesmo. E o povo compra! – relutou o companheiro de Jubal.
--- Aqui se compra tudo. – voltou a dizer Jubal com a cara azeda.
Ainda assim, o homem arranjou uns umbus para não dizer que não comprou nada. Logo a seguir saiu da Feira e foi até o seu sitio verificar os cavalos como estavam e umas poucas galinhas que ele comprara faziam poucos dias de um dos carroceiros em pagamento a ração dos cavalos do pobre homem. Jubal montou o cavalo, e passou do Mercado novamente para fazer a feira que havia de fazer. Farinha, feijão, açúcar, café, arroz e macarrão entre outros produtos de primeira necessidade. Fez de tudo para não passar nem por perto do café de dona Doca. Após tudo arranjado, fez a volta e saiu pelos fundos do mercado, onde havia batentes cheios de fezes e urina dos bêbados do meio da noite. Pegou o cavalo e rumou para a casa. Ainda era cedo da manhã e ele podia chegar até mais tarde.
Eram 9 horas da manhã quando Jubal voltou ao seu sitio de capim montado em seu alazão que ele o chamava de Otário por causa de um coice dado em seu pé pelo animal tempos passados. Ao chegar à porteira de seu sitio, Jubal se apeou do animal e, sem querer, viu uma menina passeado sobre um trilho da estrada do trem que passava por perto do capinzal. Ele notou a presença da garota de seus 11 anos de idade e não deu maio atenção. Nesse instante, a garota perdeu seu equilíbrio e foi ao barro, mais não caindo de vez. Foi somente um tombo. Coisa de cai e levanta. Então Jubal sorriu das peripécias da menina por causa da queda. A menina se aprumou de novo na linha férrea e notou a presença de Jubal que ainda estava a sorrir. E ela falou:
--- Caí uma queda! – disse isso e sorriu de larga franqueza.
--- Levante-se e suba de novo. – respondeu o homem ainda a sorrir.
--- Eu sei. Já sou acostumada. – disse a menina sorrindo também.
--- Esta vendo? Eu não ando nessa linha nem a pau. – falou o homem sem sorrisos.
--- Eu ando. Você mora aí, é? – perguntou a menina a Jubal se interessando no assunto
--- Trabalho aqui. Moro noutra casa. – disse Jubal se tranqüilizando.
--- Trabalha em que? – indagou a garota mais interessada.
--- Planto capim. – respondeu Jubal mais interessado.
--- Planta? Como? E capim se planta? – averiguou a menina de modo aturdida.
--- Planta, sim. Ele nasce depois. Eu corto para plantar de novo. – respondeu o homem.
--- Que você faz com o capim? – indagou a menina inquieta com o assunto.
--- Eu vendo. Para a Polícia, para a Prefeitura. – explicou Jubal não querendo partir mais do assunto.
--- E a Polícia come capim? – perguntou a garota surpresa.
--- Não. A Polícia não. Mas os cavalos do Esquadrão. – explicou o homem.
--- Esquadrão? O que é isso? – perguntou a menina aterrada com a resposta.
--- Você já foi a um desfile? – perguntou Jubal a menina.
--- Uma vez. Minha mãe me levou. Faz tempo. – disse a menina.
--- Você viu cavalo no desfile? – perguntou Jubal.
--- Parece. Não lembro. E o que tem isso? – indagou a menina.
--- Esses cavalos comem capim. Eu mando todo dia para a Polícia. – explicou Jubal
--- Ah sim. Eles comem o seu capim. Que bom! Já sei por que tem cavalo gordo. Eles comem seu capim. Né? - - sorriu a menina cheia de graça.
E a menina começou a atravessar a linha do trem para chegar mais perto de Jubal que ainda estava fora segurando o seu cavalo. Ela olhou admirada para o animal e viu as correntes dos arreios, a montaria, bridas e outros acessórios de montaria. Ela notou tudo isso um de cada vez para depois perguntar ao homem que serviam isto, para que aquilo, se cavalo morde meninas, como se faz para ele andar, o que fazer para estancar na sua carreira e um monte de questões que Jubal, paciente, dava a resposta a cada uma dos assuntos inquiridos pela garota. Ao final de tudo, Jubal perguntou como era seu nome. E a menina respondeu:
--- Salésia. E você como se chama? – perguntou a menina.
--- Jubal. O meu nome. - respondeu o homem à garotinha em sorrisos.

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