quarta-feira, 28 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 26 -

- MEIAS DE SEDA -
- 26 -
Certo dia Jubal estava cortando e plantando feno no seu sitio, aborrecido com os mosquitos do mangue que a todo o tempo estava para infernizar a sua natureza. Se ele matava um com uma tapa aparecia outro a lhe azucrinar a vida. E eram tapas e mais tapas nos mosquitos do mangue. O sol quente da manhã lhe fazia mais impaciente com aos mosquitos a ponto de dizer palavrões contra os mutuns a todo custo. No sitio, quando a maré estava baixa, era sempre assim. Às vezes Jubal passava óleo de cabelo para se ver livre dos mutuns. Naquele dia nem se lembrara do tal óleo e se ele se lembrara, esquecera no momento seguinte. Como era tempo de cortar o feno, pois os soldados do Esquadrão da Cavalaria estavam para aparecer a qualquer momento Jubal preferia seguir nas tapas a parar para passar óleo de cabelo ou de coco principalmente na nuca, ponto preferido pelos mutuns para matar a sua sede, coisa que ele lembrava e esquecia. E ele estava ali cortando o feno, com o suor molhando toda a face, quando, inesperadamente surgiu à figura de Salésia.
--- Oi! – foi o que ela disse de forma alegre e sem cismar de tantos mutuns a ferir Jubal.
O homem se ergueu e olhou aquela linda mulher a lhe fazer rodeios. Com tanto suor a lhe cobrir a face, Jubal só teve tempo de sair do monte de feno e cumprimentar com um beijo a moça. Em seguida, perguntou o que ela estava a fazer em um lugar tão sujo como aquele. A moça sorriu e disse a seguir.
--- Vim trazer um convite para você. Na verdade, é para nós. E não quero ouvir um não por resposta. – disse Salésia a sorrir.
O homem nem podia pegar naquele lindo e esmerado convite feito em papel cetim, todo incrustado de brilhantes ou parecendo brilhantes. Apenas indagou a jovem moça o que trazia o convite. Ele estava pingando de suor e impaciente, levando a moça para debaixo do alpendre da velha casa de taipa. E moça então respondeu sem abrir o envelope aparentemente lacrado.
--- É apenas um convite para você ir comigo assistir a apresentação de uma orquestra sinfônica e uma companhia de balé que vai haver no teatro. E você pode levar a sua filha, Oceanira. – explicou a moça de forma simples.
--- Mas eu? Olha como estou? – respondeu Jubal inquieto.
--- Não é agora, besta. É mais pra frente. Você compra um terno novo. Sapatos, meias, calça, camisa, paletó e tudo mais. Gravata também. Só isso. Eu vou com você fazer as compras. Tá bom? – indagou Salésia sempre a sorrir.
--- Mas eu metido nessa coisa toda? Nem morto! – respondeu Jubal impaciente.
--- Ah, vai. Ora se vai. E por sinal vai hoje à tarde. Dá tempo. Tem que ver a roupa, jóias e coisas mais que Oceanira vai usar. E eu já disse a ela. Ela concordou e está morta de alegria. – falou Salésia de forma afirmativa.
--- Mas minha filha. Eu não posso nem em pensar em usar esta coisa. E assistir o que? – perguntou Jubal a Salésia querendo melhor compreender.
--- Minha filha eu gostei. – (sorriu Salésia). – Mas veja que você tem que mudar de vida. Conhecer outras pessoas. Abrir a sua cabeça ôca. Viajar, conhecer lugares, ver que não é você o único a capinar feno. Tem mais gente. Tem tanta coisa na vida. Tem a Itália, a Espanha, Portugal, França. Em todos esses lugares tem quem faça o que você faz. Encha o pulmão de ares. Veja o mundo. O Brasil. Veja tudo isso. – repreendeu Salésia de modo firme.
O homem ficou pensativo em quanto ele perdera na vida. Havia lugar mais próspero que aquele recanto onde se metera. O que ele fazia era capinar e plantar. Os lucros ele depositava na Caixa Rural. Aquele era o seu mundo. Mesquinho mundo. Jubal baixou a cabeça só em pensar aquela vida que levava. Ir ao café, pegar depois na foice, cortar capim, andar de cavalo, ir para casa e depois voltar a fazer tudo de novo. O homem quis chorar de momento a pensar do tempo perdido.
--- Está bem querida. Eu quero sair desta vida. Vou conhecer o mundo ao seu lado. E hoje vamos ao alfaiate trocar de muda. – respondeu Jubal se alegrando então.
--- Ao alfaiate não. Vamos a uma loja de requinte onde você pode escolher a roupa que quiser. Vamos andar arejar a mente, ver coisas maravilhosas além do feno! – articulou a moça de forma simples.
Por fim, Jubal concordou em ir ao balé e assistir a orquestra, coisa que ele nem sabia da existência. A moça sentou no tamborete improvisado de madeira tosca e olhou de forma encantadora o homem que ela amava por todo o tempo de sua vida. Em instante delirante se segurou ao seu eterno colo e lhe encheu de encantados beijos eternizastes e sublimes. Beijos de encantos e doçuras. Os pássaros da manha de sol passaram por cima do casebre e gorjearam cantos de amor. O toque que eles faziam até parecia o gorjear das cotovias. Lembranças de um amor eterno apareciam a Jubal de modo freqüente. Salésia lembrava enfim a outra corte simples até, que ele nunca esquecera. Nora era agora o seu presente para todo o sempre.
Desse modo, às primeiras horas da tarde, os dois estava a vasculhar coisas em uma loja da Ribeira a procura de um fardamento adequado que servisse a Jubal. O seu nome completo era Jubal Valadares Guimarães, num altruístico para um cortador de feno. O da moça era Salésia Mendes Campos. Eles com esses nomes pareciam até portugueses ou de descendência portuguesa. Mesmo assim, não se importaram com os nomes que tinham. Todavia, quando Salésia ouviu de Jubal o dizer de seu completo nome, isso há algum tempo, a jovem ficou a imaginar como seria lindo ter o nome de Valadares. Salésia Mendes Valadares ou Salésia Mendes Guimarães. Era um nome de penhor. Porém, disso esquecera com o passar do tempo. Naquele instante que estava com Jubal ao seu lado, escolhendo o traje de gala que ele vestiria e os ornamentos de sua filha, Oceanira, nada lhe importava jamais. Notava-se que o homem era um tanto desajeitado para escolher a vestimenta e por isso tinha Salésia a ajudar em tudo o que lhe acertava fazer.
Após se ver satisfeito com a vestimenta que escolhera Salésia lhe disse que era bom verificar as vestes de Oceanira, pois ela era uma linda e exuberante mulher com a sua idade de 15 anos. Porém Jubal relegou a escolha deixando para Oceanira fazer com Salésia essa procura no dia seguinte. As duas mulheres poderiam ficar mais tempo e a vontade, desde a manhã, a procura do que usar. E assim foi combinado. Um detalhe, porém. O noivo teria que vir com a sua filha para a casa de Salésia e de lá rumar de carro no dia do concerto para chegarem ao teatro de forma elegante. O homem ficou a pensar e depois concordou. Da casa de Salésia sairia a sua mãe, Suzana, a sua tia Joana e o seu marido, Pedro Nunes. Era um presente magistral, pois no dia do acontecimento era também a data de aniversario de 15 anos que estava a fazer à jovem Oceanira. Era nesse ponto que Jubal se importava. Depois, se faria um bolo e tudo estava feito, não precisando mais de outros gastos.
Entretanto, Salésia tinha outra idéia em segredo que não diria a Jubal antes do tempo. O aniversário de Oceanira era um marco na historia das duas moças, e só um concerto não era o suficiente para pagar a data. Ele teria que fazer uma nova festa organizada com rigor, em um salão de festival onde se daria a Oceanira um presente triunfal. Este era o que havia de nobreza na festa de aniversario da filha de Jubal Valadares. As duas moças andavam de aconchego com uma surpresa para o pai de Oceanira. Quase todo dia a duas se encontravam, ou na Igreja ou na pracinha, para combinar o que se faria no dia do seu aniversario. Salésia dizia uma coisa que era arrebatada por Oceanira por outra e assim se fez um acordo: não se dizer nada ao pai da jovem nubente. Por isso, sem saber de nada, Jubal aceitou que as duas meninas estivessem no dia seguinte acompanhada da mãe de Salésia a procura do traje de Oceanira. Tudo isso fora marcado sem que Jubal soubesse. Nem mesmo a própria mãe de Salésia. E no dia seguinte, às oito horas da manhã, Oceanira já estava pronta para seguir a casa da sua amiga e então vagar pelas lojas que havia na Ribeira, ponto chique da moda da capital.

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