segunda-feira, 19 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 19 -

- MEIAS DE SEDA -
- 19 -
No sábado pela manhã, coisa de 8 horas, Suzana, sua irmã Joana e os seus filhos Salésia, Ênio e Euclides foram à praia do Meio. Para tanto embarcaram no bonde que fazia a linha e foram aproveitar a delícia de um sol ameno e quase quente àquela hora da manhã. Solavancos de lado, as duas mulheres olhavam as casas que já estavam construídas em cima do morro por onde o Bonde passava até chegar ao seu terminal em um ponto onde já começava a descida da ladeira de pedras de praia. O Bonde ao passar pela frente onde houve um crime de morte praticado por uma empregada da casa, que assassinou a pauladas a noiva do rapaz dono da habitação e a sua tia, enterrando em um buraco em baixo de um cajueiro Suzana olhou e disse a sua irmã.
--- Foi aqui! – falou Suzana apontando a casa.
--- Sim. A mulher pegou trinta anos de cadeia. – comentou Joana.
--- Vamos ver se tira esse tempo. – argumentou Suzana meio negativa.
--- Aqui o que, mãe? – perguntou Salésia a sua mãe Suzana.
--- Nada, filha. Um caso que aconteceu há muito tempo. – respondeu Suzana querendo desconversar.
--- Eu já era nascida nesse “caso”? – voltou a perguntar Salésia.
--- Sim. Você tinha um ano. Tá bom. Já contei de mais. Vamos saltar para ir à praia que é o melhor que se faz. – disse Suzana aos meninos vez que o Bonde chegara ao fim da linha. O motorneiro tinha mudado de cabine e o cobrador estava a colocar a lança de como que vinha ao contrario para o bonde seguir adiante.
A garotada desceu a ladeira calçada de pedra de praia em desembestada correria aos gritos de sua mãe para que parassem, pois do contrario cairiam no barranco que estava a esquerda de quem descesse. E a garotada nem ligava correndo de qualquer jeito que levavam os pés nos fundilhos. A mãe Suzana torna a gritar para que parassem e eles, mesmo assim continuavam a correr. Era uma loucura sem dó. Quando Salésia obedeceu e parou a sua mãe veio com tudo dizendo;
--- Eu não mandei que parassem! Vocês são surdos? Parem já ou então ficam de castigo na praia. Quer ver? – indagou Suzana a garota enraivecida.
A menina com a cara sem vergonha murchou de modos. E começou a descer devagar enquanto os meninos continuaram a correr até estancar de vez. Eles ficaram a olhar sua mãe e a sorrir da irmã Salesia. Enquanto isso a sua mãe dizia com muita raiva.
--- Vocês não vêm mais para a praia. Estão ouvindo? – respondeu Suzana aos garotos.
Na Praia do Meio estavam os pescadores puxando a rede de pesca. Eram uns vinte pescadores dos dois lados da rede. Meninos e homens puxando devagar e sem parar em uma cadência ritmada aquela enorme rede de pesca que fazia cada homem ou menino se curvar para trás somente fazendo a força que estavam a praticar. As casas de taipa eram a alegria de sua gente a avançar das encostas do morro para o mar. Meninas se alegravam ao ver seu pai puxando a rede. Elas estavam escoradas na parede da choupana. Umas com o dedo no nariz enquanto outras, muito bravas levavam a tapa na irmã para que tirasse o dedo do nariz:
--- Coisa feia, nojenta! – repreendia a irmã mais velha.
A irmã chorava ou apenas dizia:
--- Deixa minhas catôtas! – respondia a irmã mais nova.
Há quase meia hora os homens trabalhavam no afã de conquistar algum pescado, pois estavam atentos ao que o vigia dissera antes que eles lançassem a rede. De cima do morro de onde o vigia podia ver melhor, dissera que havia peixe em abundancia em mar aberto. E apontava o local de se lançar rede. Pois assim os pescadores fizeram o que o homem lhes havia dito. Aproveitando a maré, mesmo em plena manhã de sol, eles estavam a fisgar o seu pescado. Na praia, estavam Suzana, sua irmã e seus três filhos prontos para tomar banho de mar. Elas ficaram bem longe dos pescadores e de suas redes de pesca. Longe onde não atrapalhava o trabalho daqueles e destemidos senhores das águas. Para não perder o que se sucedia Suzana de quando em quando olhava para o aglomerado de pescadores puxando as suas redes para fora do mar. A sua irmã Joana já estava a se banhar em plena praia e os lindos meninos, após aquela algazarra que eles costumavam fazer entravam também nas ondas do mar àquela hora na sua cheia. Aquele era um mar revolto e Suzana costumava prevenir aos garotos:
--- Cuidado vocês. Não precisa ir muito longe. O mar está brabo! – gritava Suzana da beira da praia.
Enquanto isso passava apressado, como sempre andava, sacolejando os braços, de modo inquieto, bem por trás de Suzana, na rua sem calçamento, aquele homem que a todos conhecia: o Lunático. Quem avistou o Lunático passando apressado foi a menina Salésia que estava saindo do banho de mar e vindo para junto de sua mãe. Assim que viu o Lunático a menina Salésia apontou para ele chamando a atenção de sua mãe.
--- Olha quem vai ali, mãe! O doido! – falou Salésia espantada.
A mulher se virou e olhou bem para cima até enxergar a figura do Lunático a caminhar apressado com o seu destino incerto, a conversar com o tempo. Homem alto, físico forte, cabelos crespos, pele nem alva nem morena, cabeça erguida como um soldado a marchar, era ele de cima a baixo. Sempre que ele passava na cidade ou até na praia, os meninos tinham medo que ele viesse a apanhar um deles.
--- Lá vem o doido! – gritavam as meninas e meninos pequenos.
E ele passava sem dar conversa a ninguém. Somente queria conversar com ninguém. Ao se perguntar a ele que horas eram o Lunático respondia:
--- As mesmas de ontem! – respondia o Lunático.
Aquele homem era um pouco incerto da bola. E podia estar em qualquer lugar onde menos se esperava. De uma delegacia de polícia a um Hotel de porte esmerado. De uma Missa a uma praia. E era assim que vivia o Lunático porque era assim que ele vivia nas paragens da vida. Havia quem dissesse que ele era um rapaz inteligentíssimo que havia estudado até o ultimo ano de Medicina. Isso era o que o povo sabia do rapaz. Naquele dia de manhã, ele surgiu de repente na orla marítima e parou para ver o arrastão que os pescadores estavam a fazer. Conversando com ninguém ele chegou a dizer que aqueles homens estavam loucos, pois o peixe que havia eles não tinha fisgado. Era bem mais além. O cardume de atum se projetava no mar bem próximo a praia e ninguém vira tais pescados. Então, Lunático caiu na gargalhada para o desespero dos pescadores que estavam mais a beira da estrada.
--- Que está fazendo, Doido? – perguntou um pescador.
--- Os pescadores não viram um cardume de atum bem à frente deles. – e caiu na gargalhada mangando da tolice dos homens do mar.
--- Onde estás vendo esse cardume? – perguntou o pescador.
--- Bem aqui na frente. Veja. – disse o Lunático.
O homem notou a presença de atum e correu para dizer aos outros pescadores com veemência, pois a rede estava praticamente vazia. Os pescadores teriam que atirar novamente a rede na água se quisesse ter uma boa pescaria de atum novo. Foi o que ordenou o mestre de pesca aos pescadores. E eles após breve relutância lançaram a rede no mar outra vez bem no cerco dos atuns arrastando todo aquele espécime para a praia. Logo que procuraram o Lunático para saber de onde tinha visto tanto peixe, o homem havia desaparecido para outros cantos remotos daquela praia o para outro ponto onde ninguém teria possibilidade de ver. Sabia-se que ele talvez tivesse dizendo ao leu para ninguém ouvir;
--- O deus está aqui. Não procurem em outra parte. Ele está no ventre da mãe de cada um. Esse é o deus verdadeiro. Não existe outro. Eu sou filho de deus porque a minha mãe me gerou. Eu sou apenas um espermatozóide que se infiltrou no óvulo da minha da minha mãe. E ela dizia: eu sou a mãe do filho de deus.

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