terça-feira, 20 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 20

- MEIAS DE SEDA -
- 20 -
Quando a hora passava Suzana viu que era tempo de sair e partir para com sua malhada de filhos e também a irmã Joana. O sol estava esquentando e a cada passo mais gente chegava aquele recanto afrodisíaco que era a praia do Meio. Meninos jogando bola, meninas pegando tica, mulheres alvoroçadas e os pescadores viajando com suas redes de pesca depois de um proveitoso lance de arrasto e mais um punhado de peixe atum que o Lunático havia dito. Com os botecos das casas plantadas bem próximo a beira mar, onde despachavam gêneros alimentícios para os pescadores e também a cachaça, o querosene de lampião, registrando um bom movimento Suzana resolveu partir em direção ao terminal de Bonde na altura da via que estava ao largo tendo o seu final naquele canto. Ao subir a ladeira de pedra, passou por uma casa quase enterrada na sua parte de trás pelo morro que descia. Ela falou para irmão que ali morava um homem da alfândega:
--- Olhe os meninos dele. A mulher também mora aí. Dizem que ele veio para cá pra se tratar de uma doença. – relatou a mulher.
--- Foi mesmo? Qual doença? – perguntou Joana curiosa.
--- Tísico. – falou Suzana a sua irmã.
Nesta hora os garotos já subiam à ladeira vizinha a estrada de pedra da praia numa correria desenfreada. A mulher gritava para as crianças deter, pois de um lado tinha um barranco que os meninos poderiam cair. Após tanto gritar por esperar, a menina Salésia estancou por pouco e olhou para a sua dileta mãe que vinha subindo morta de cansada sem nem mais forças para abrandar com ela naquela subida íngreme. A mulher dizia apenas.
--- Se não parar vão ficar de castigo! – falava Suzana para a sua filharada composta de dois garotos e uma menina.
No fim da subida tinha uns degraus feitos de cimento e areia, compactos, que dava para a descida da praia por onde jogava a água da chuva quando esta acontecia. Logo após tinha uma mureta sustentada por pilares pequenos e os postes maiores com as suas luminárias, quase todas despedaçadas pelo vandalismo. E ela sempre dizia ao ver tal destruição da coisa pública feita pelos anarquistas pequenos.
--- Que horror! Aqui não se presta nem para colocar luminárias! – soletrava Suzana.
Por dentro da mureta de cimento tinham os tanques da Companhia de Água e Esgotos. O depósito servia atrás de seus tanques imensos, para abastecer as casas que ficava ao largo do bairro onde as construções mais nobres começavam a despontar. Na esquina do lado esquerdo da rua ficava uma pensão de mulheres de vida livre, em um elevado formado pelo morro que cobria vasta extensão do Juruá. Suzana, a irmã Joana e os garotos subiram no Bonde quando esse chegou e partiriam para o Centro da cidade. A menina Salésia, ao sacolejar do Bonde, caiu no sono no colo de sua mãe, sentada de um lado e dormindo com a sua cabecinha colada as pernas da mulher. Quando, depois de longo tempo, o Bonde fez a curva na Praça do Governo, a menina acordou pelos gritos do seu irmão Ênio ao dizer que se estava chegando à praça. Ali havia balanços, gangorras, trapézios, escorregos e muitos outros entretenimentos para meninos e jovens. As mães cuidavam dos seus rebentos para evitar a ocorrência inesperada de algum acidente. O parque só funcionava a tarde apesar de ter os afoitos que pulavam a cerca onde o parque estava e faziam suas proezas no balanço enquanto não chegava o guarda da praça e punha todos para fora. Na praça mesmo, tinhas belos pés de fícus cortados de forma jeitosa que dava majestosos aspectos de coelhos, cuscuz e tronos onde se tirava retrato de recordação. Na Praça do Governo também havia quatro tanques de água de forma retangular feitos de cimento, grandes e fundos, onde se conservavam tartarugas para quem a garotada jogava pipocas. No meio da Praça tinha um correto e no seu final, um bar em forma de um avião de assas abertas. Naquele local se vendia bebidas, comidas e, para a criançada, sorvetes e guaranás. O bar era pouco freqüentado a não ser pelos habituais beberrões dos fins de tarde.
Os meninos ficaram alegres de poderem ver todo aquele recinto ao qual lhes parecia atrativo de se notar as ocorrências magistrais de suas poucas idades. Cada qual que puxasse o saco de sua mãe para que os levasse à tarde ao parque de diversões.
--- Vamos mãe. De tarde! – dizia meio chorosa Salésia.
--- Vamos ver. Vamos ver. – respondia Suzana.
No Jornal da Cidade que um homem lia naquela ocasião, tinha a noticia de que o Presidente da Republica e sua mulher, mais o Governador do Estado e a Primeira Dama tinha reservado um dia para vir à cidade. Foi isso que Joana conseguiu ler, pois o homem dobrou o jornal em seguida. Desse modo, Joana puxou a manga da blusa da irmã e disse o que tinha lido rapidamente em um jornal que o velho homem levava. Não diria mais alguma coisa porque não dera tempo de ler o que estava impresso, pois o homem guardara o jornal. Suzana ficou curiosa em saber os detalhes da visita de Presidente aquela altura dos acontecimentos. Um Presidente do Brasil era coisa rara de visitar a cidade. Ela se lembrava de um, apenas, que veio assinar um protocolo com o Presidente dos Estados Unidos a bordo de um navio no estuário do rio e nada mais.
Ainda na manhã daquele sábado, Jubal esteve na casa do seu velho amigo Osias de quem comprou o seu sítio de plantação de capim. Ao chegar à casa de Osias notou grande presença de gente a procura de saber mais algum detalhe sobre a vida do homem que, ao que parecia estaria hospitalizado outra vez. Surpreso com tal fato, Jubal procurou entrar na sala de visita e saber também algo que estaria a acontecer. Jubal procurou a mulher de Osias e ela não estava em sua casa. Somente a moça, Walquiria, filha de Osias era quem por ultimo estava presente. Depois de um sufoco medonho ele chegou até Walquiria e perguntou por Osias, primeiramente. A moça respondeu que ele tinha baixado o hospital. Estranhando o porquê do motivo Jubal voltou a indagar a razão.
--- O seu pé estava inchado e muito quente. O enfermeiro achou até que estava arroxeado. E preferiu o deslocar na noite passada direto para o hospital. –respondeu a moça com lágrimas nos olhos.
--- Estava roxo? – perguntou Jubal inteiramente surpreso.
--- É. Roxo muito. Até a perna. – falou a moça um pouco chorosa.
--- Minha Nossa. Ele estava tão bem! E agora vem essa! – respondeu Jubal assustado.
--- É. Só Deus agora. – caiu no choro a moça.
Após alguns instantes Jubal falou à moça que estava indo naquele instante ao hospital para saber detalhes da enfermidade. E se continuaria Osias internado e por quanto tempo era de se esperar uma resposta. E respondeu a Walquiria:
--- Não se assuste. Reze. Mais tarde eu volto. Eu ou sua mãe. Espere! – recomendou Jubal como forma de tranqüilizar a moça.
A moça soluçou e entrou. Jubal montou o seu cavalo “Pintado” e rumou direto para o Hospital a procura de informação de Osias. No caminho que fez ele deduziu que Osias não estava mais bebendo e nem fumava. Mulheres da rua, as damas ele não sabia se Osias andava. Mesmo assim, isso não fazia efeito. Jubal se lembrou do sitio. Ele deveria por de imediato em seu nome, vez que a Prefeitura cobrava impostos pelo uso da terra e até aquele tempo Jubal não tinha legalizado a certidão de compra e venda.
--- Ora merda! Por que eu vou pensar nessa história? O homem está doente. Pé inchado e eu pensando em um punhado de terra? – argumentou Jubal em seu pensar.
Após um bom percurso da casa de Osias até o Hospital, mesmo montando o seu cavalo Jubal chegou à casa de saúde onde procurou saber do estado de saúde de um enfermo de nome Osias que dera entrada na noite que passou. A moça que o atendeu pediu para que Jubal esperasse um pouco, pois estaria a ver o quadro de convalescência dos novos pacientes. O homem concordou com tal decisão. Após algum tempo a moça retornou ao trabalho e disse que o paciente estava na sala de cirurgia.
--- Cirurgia! Cirurgia! – indagou Jubal a moça com muita apreensão.
--- Sim senhor. É onde ele está! – retrucou a moça do hospital.
--- Agora é que são elas! Mas cirurgia? – indagou por outra vez Jubal sem acreditar.

Nenhum comentário: