sexta-feira, 30 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 28 -

- MEIAS DE SEDA -
- 28 -
Na segunda-feira Inaldo estava logo cedo no Café de dona Nazinha, no Mercado da Cidade a tomar o seu café com mungunzá e tapioca. A mulher servia a todos com a ajuda de duas empregadas. Essas mulheres cuidavam do café quente e bem apurado, dos bolos, cuscuz, tapiocas, mungunzás e até mesmo ovo frito ou cozido. Dona Nazinha ficava no despachar. Era uma correria infernal que a pobre mulher fazia todas as horas da manhã e parte do almoço, quando era o feijão, macarrão, arroz e carne de sol ou carne verde. Guisado, por excelência. Inaldo nem via o sacrifício da mulher em despachar todas as pessoas. Contudo, ele sabia que era muito movimento de manhã cedinho. No seu caso, Inaldo queria apenas saborear o que havia para comer, pois as sete horas estaria na repartição onde trabalhava. Pela repartição municipal havia também serviços demais para se dar conta. Era uma coisa pela outra. No café parava todo tipo de gente. Eram balaieiros, carregadores, almocreves ou mesmo funcionários públicos e plantadores de feno, como era o caso de seu Jubal. E ali estava Inaldo a saborear o seu mungunzá.
De repente, eis que surge um carregador de balaio, assustado, com os olhos quase saindo das órbitas, tremendo todo ao dizer a dona Nazinha que continuava ocupada com os seus afazeres:
--- Dona Nazinha! Dona Nazinha! A senhora viu como está à mulher do canto? – perguntou o carregador.
--- Que me importa! Não devo nada a ela e nem ela me deve! – falou Nazinha toda arrebitada.
--- Mas olhe! A mulher está chorando. Não sei por quê? – acentuou o balaieiro.
--- Por que não pergunta a ela? Quem tem filha sabe o que tem a fazer! – retrucou Nazinha no seu vai e vem do balcão.
--- Filha? A filha dela? Que houve Nazinha? – indagou Inaldo surpreso.
--- Dera um tiro nas costas dela e pronto! – falou Nazinha rumando para o forno do café onde se assava batatas.
--- Tiro? Ah meu Deus! Tiro mesmo? Pei e bufo? – indagou Inaldo assustado demais.
--- Um tirinho de nada. A moça vai escapar. Nem se preocupe. Você já esteve com ela e sabe da vida que a moça leva. – arrematou Nazinha despreocupada da vida.
--- Vou lá perguntar como foi o caso! – respondeu Inaldo ao sair do café ainda sem nem degustar toda a sua refeição.
Inaldo saiu até o Café de Doca e encontrou a mulher chorando com a mesma atividade que fazia todos os dias. A mulher nem olhava quem despachava e mesmo assim fazia seus pratos, muitas vezes se enganando de freguês. Cuscuz para um quando era apenas tapioca. Mungunzá para outro quando o home queria somente café. E assim ela levava à vida de aperreio esperando que chegasse à tarde. No café tinham duas mulheres. A outra começou a trabalhar desde que a moça saiu de casa. Quando Inaldo chegou dando bom dia a mulher disparou contra ele como uma arma carregada atirando desaforo para todos os lados.
--- Que é que você quer? Você é o culpado por tudo isso, canalha. – respondeu a mulher de forma ríspida.
--- Mas eu? – indagou surpreso Inaldo.
--- E vá embora daqui! Não quero mais te ver nem pintado! – esculachou a mulher sem qualquer defesa do rapaz.
Inaldo, revoltado com a decisão da mulher e sem saber de nada, voltou ao Café de Nazinha interrogando a razão de toda aquela raiva de dona Doca. Ele é que deveria estar com raiva. E não a mulher. Cabisbaixo, ele ocupou o tamborete na mesa de dona Nazinha e ficou ali a pensar quando a mulher do café se achegou para perto dele. E disse como foi o atentado sofrido por Zilene. A moça ficaria recuperada, ao ver de Nazinha e ao falar do medico. Nazinha não falava com Doca e ouviu falar do caso por outras pessoas. Inaldo ficou sentido. Em certo momento, chorou.
O passar do dia para Inaldo foi terrível. Mesmo tendo deixado a moça por causa da traição que ele sofrera, nutria de qualquer modo certa afeição por Zilene. E ao saber que ela sofrera um atentado como o de domingo, Inaldo sentiu revoltado. Ele pensou em até voltar a beber. Mesmo assim, seu instinto falou mais forte e Inaldo não caiu em tentação. Preferiu ele ir contar a Jubal o que tinha ocorrido com Zilene. Talvez assim fosse melhor. Após assinar o ponto na Prefeitura, Inaldo saiu para o sitio de Jubal tendo que passar primeiro na feira do Paço. Quando chegou às imediações da Feira, viu um tumulto com gente e policiais. Ela parou por precaução e notou que a Policia prendera um certo rapaz e lhe tirara a arma de fogo. Inquieto, perguntou a um alguém que estava na Feira.
--- Que foi isso? – perguntou Inaldo um tanto cheio de medo.
--- Foi Tulipa. Ele parece que matou uma puta, ontem. – esclareceu o homem sem nada mais dizer.
--- Terá sido Zilene? – perguntou de forma aleatória Inaldo.
--- Parece que é. – respondeu o homem.
Os soldados levaram o homem algemado e Inaldo se afastou para dar passagem a Policia, pois os homens estavam a serviço. Ninguém falou coisa alguma. Ou seja. Nem Inaldo nem os policiais. O jovem olhou bem a cara do moço Tulipa para ver se o conhecia e não obteve resposta. Devia ser mais dos tais que perambulavam pelos bordeis da cidade. O elemento foi subindo pela ladeira e Inaldo desceu até o sitio de Jubal para lhe contar o sucedido. Ao chegar à porteira do sitio, essa ainda estava fechada a cadeado. Ele esperou um pouco. E depois seguiu para a sua repartição com a cabeça toda embrulhada pelo sucedido. Mais tarde ele teria que ir ao hospital para saber do estado de saúde de Zilene. Afinal, ela fora um encanto de mulher, fogosa como sempre. Daí passou a lembrar as noites maviosas que esteve com aquela moça. Belas e eternas noites de até certas loucuras. Na sede do prazer, ela fizera de tudo com o seu amante. Beijos eram o de menos. E naquele instante Inaldo queria apenas chorar para desfazer o que passou.
Andando e caminhando de volta para a repartição, Inaldo cruzou com o seu novo e cordial amigo chamado Mauricio, cujo nome poucas pessoas sabiam e o chamavam de Lunático por os motivos que o jovem aparentava ser. Um “oi” para cá e um “olá” para lá eis que os dois se encontraram na metade da praça que havia próxima a Prefeitura. Inaldo nada perguntou de historias de cobras e de gemas para Mauricio. Esperou um tempo que ele por fim falasse. E Mauricio falou então.
--- Você já leu O Santo Graal? – perguntou Mauricio sem se importar com a resposta
--- Santo o que? – franziu a face Inaldo ao perguntar a Mauricio.
--- Já vi que não leu. Pois compre um exemplar para nós podermos discutir mais a vontade. Leia mesmo. – falou Mauricio exultante de esperança com Inaldo.
--- Mas o que tem esse livro? – perguntou Inaldo se lembrando de Zilene apenas.
--- Bem. Se eu falar agora, você não ira lê-lo talvez. É melhor você ler para depois conversarmos. Certo? – interrogou Mauricio.
--- Como é que se escreve esse. ...gral? – questionou Inaldo curioso com o assunto
--- Não é gral. E sim, Graal. Tem dois A no meio. É bom você ler. – respondeu Mauricio
--- Vou ver se encontro. Santo. ... Como é que é? – perguntou outra vez Inaldo.
--- Graal! Você vai encontra na cidade. Procure-o. – respondeu Maurício
--- Santo Graal! É nome de Santo, é? – perguntou Inaldo meio assombrado.
--- Leia o livro. Depois você me pergunta. – sorriu Mauricio.
--- Você não quer me pegar? – indagou Inaldo, desconfiado.

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