segunda-feira, 12 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 12 -

- MEIAS DE SEDA -
- 12 -
Quando Jubal chegou à casa de Osias, eram mais de 8 horas da manhã pelo tempo que passou na praça conversando com o pai de Salésia e a sua mãe, Suzana. Bateu a porta e Osias logo chegou. Eles, os dois, tiveram uma conversa animada com certeza com a rua em que Osias morava, cognominada Rua da Salgadeira, por causa do Matadouro ali existente e por morar também pessoas que viviam de salgar fatos de gado, de porco e de criação. Depois de mais tempo Jubal entrou no assunto principal: o outro capinzal o qual Osias estava interessado em vender. O local era imenso e pelo preço que estava sendo vendido se tratava de uma pechincha. Jubal não quis entra nos detalhes do baixo preço e acertou a compra. Ele pagaria uma parte na hora e o restante no dia seguinte. Assim foi feito. Os dois foram visitar o novo sitio de Jubal pelo qual não havia duvidas nem contragosto. Ao descerem a Rua Ocidental de Baixo, - Jubal a pé puxando o cavalo para ter a seu lado o parceiro Osias - eles foram advertidos pelo apito de um trem vindo da Estação Central em direção a Tração para efeitos de manutenção, com certeza. Eles os dois, olharam para a máquina e tiveram a precaução de parar. A locomotiva passou e entrou na curva. Ao entrar a tal curva, que era normal, o condutor da máquina foi tomado de surpresa pelo corpo de um homem deitado em um trilho somente com a cabeça e o restante do corpo para o lado de fora dos trilhos. O motorneiro não teve nem ação para frear a maquina cuja velocidade em que vinha não daria tempo. Passou por cima da cabeça do homem deitado partindo em dois corpos e crânio.
O motorneiro ainda olhou o que restava do homem e viu o corpo estremecendo no chão. Em instantes a locomotiva parou e o maquinista veio ver o estrago que fez dizendo impropérios como podia.
--- Sacana de bêbado. Não sabia que não podia dormir ai? Puta-merda! – dizia o velho maquinista.
Em um instante ajuntou uma multidão junto ao corpo do degolado. Jubal e Osias também chegaram ao local, pois viram cena de longe onde estavam antes de dobrar em direção ao sitio agora de Jubal. Havia uma celeuma por causa da degola. Uns diziam que era um bêbado, outros que era o nome dele “Toré” e só andava bêbado. O condutor da maquina teve que deixar o local para avisar a Central daquele acidente cruel e lamentável. Jubal também lamentou o fato assim como Osias o fez. O tumulto durou toda a manhã até chegar um carro do Instituto Médico da Policia para recolher o corpo e fazer as devidas anotações costumeiras.
Na verdade, Toré era um homem que fora abandonado por sua mulher, uma mulher de programa há uns dois meses. Mecânico de carro de passeio ele se degradou na cachaça que já era o seu ponto forte. Porém, o derradeiro feito foi ter encontrado o seu lar vazio, pois a mulher o deixara, não só pela cachaça, porém para assumir outra amizade com outro homem. Desde esse dia, Toré desandou cada vez mais na cachaça bebendo dia e noite sem mais ter fim. Certa vez ele chegou a dizer que o seu mal foi ter amado alguém cuja confiança ele perdera. Isso foi depois de a mulher lhe deixar. Quando alguém encontrava Toré em uma calçada ele pedia, por favor, para que não dissesse a ninguém que o havia encontrado. Isto era com qualquer pessoa, conhecida ou não. Para todos os mecânicos que o conheciam havia uma só resposta: Toré amou demais e o amor foi a sua ruína total. Ele dormia em qualquer lugar onde estivesse. Pois ele estava à procura da morte. Seu nome real era Lindolfo. Ele era mecânico de mão cheia até pegar o vício de beber.
Ao meio dia chegou até a casa de Salésia o noivo da sua tia Joana. O seu nome era Pedro Nunes, editor chefe do Jornal da Cidade que saía todas as manhas, menos nas segundas-feiras por causa do feriado do domingo. Quando Nunes entrou em casa de Salésia a noiva veio abraçá-lo em uma demonstração de afeto e carinho. Nunes, apesar do calor, também fez o mesmo. Coisas de namorado. Ali ficaram por breves minutos. Logo em seguida surgiu Suzana, malhando com os dois por estarem agarradinhos:
--- Isso é só agora! – falou sorrindo Suzana.
O homem sorriu em seguida e a moça também como quem disse:
--- Deixe a gente aproveitar! – teria dito Joana.
--- O amor é cego e a vida é longa. Vê se eu ando agarrada com Artemio?. – falou Suzana aos dois pombinhos.
--- É bom enquanto dura. – respondeu Joana sorrindo.
Logo a seguir chegou Salésia dando um “oi” para Nunes e em seguida dizendo.
--- Houve um acidente ali. – falou a menina.
--- Acidente? Onde? – perguntou preocupado o jornalista.
--- Bem ali. Na curva do trem. – retrucou a menina.
--- Morreu gente? – inquiriu Nunes já preocupado.
--- Um bêbado. – respondeu Artemio que vinha chegando à sala.
--- Ah. Um bêbado. Sempre um bêbado. Eu vejo isso amanhã. – rebateu Nunes.
--- É isso. O morto foi um tal de Toré, se não me engano. – falou Artemio.
--- Toré? Mas Toré o mecânico? – voltou a perguntar o jornalista assustado.
--- É. Você sabe quem é? – indagou Artemio.
As mulheres ficaram se entreolhando pensando em qualquer assunto.
--- Mas se foi o mecânico eu conheço. Mas Toré? – voltou a indagar Nunes assustado.
--- É. Só sei disso. O condutor esteve aqui ligeiramente. Eu disse que era melhor ele dar parte no escritório e fugir por alguns tempos. Nunca se sabe o que vai acontecer. – falou Artemio.
O rapaz ficou pensativo, pois queria saber se na verdade era o mesmo Toré que ele conhecia mecânico de mão cheia que consertava os carros do jornal quando havia precisão. De uns tempos em diante, ele nunca mais apareceu no jornal e, procurado, tomou-se conhecimento que Toré vivia bêbado pelas calçadas do bairro, dormindo até, acordando para beber de novo por causa de uma mulher que o abandonou. Certa vez alguém lhe perguntou:
--- Moço! Por que estás a beber tanto? – perguntou a pessoa talvez inquieta.
Ele nada respondeu. Apenas pediu que lhe pagasse mais uma dose de cana. A pessoa desistiu e foi embora. Toré era jovem. Quem arrasou tudo foi à mulher e a cachaça. Não se sabe por que a mulher o abandonou. Talvez por causa das cachaças que ele costumava beber após o serviço. Ou talvez por outros motivos. Sabia-se que ela era muito jovem, talvez mais que ele. Tudo isso fez Nunes tomar o rumo do necrotério após o almoço, por volta das três horas da tarde. A noiva insistiu com ele a ficar. Porem Nunes queria ter certeza de quem fora a vítima. E assim, ele pegou o caminho naquela hora da tarde.
Ao chegar ao necrotério, foi logo notando uma pequena aglomeração de gente e entrou na sala das autópsias. Ali viu o corpo coberto com um lençol e uma parte ao lado também coberta. O odor era impressionante dos remédios que punham nos mortos, principalmente o formol. Sem mais, Nunes perguntou de quem era aquele corpo. O funcionário disse apenas que era de uma pessoa chamada Lindolfo. Isso de nada adiantou para Nunes, pois não saberia qual era o seu nome. Se fosse Toré, talvez pudesse saber. Um funcionário disse a Nunes que a mãe da vítima se encontrava no salão que era na verdade uma sala apertada. Nunes seguiu até a sala e por ali notou a presença de uma senhora de longa vida a assuar o nariz com a saia comprida. Ele foi até a mulher e perguntou. Ele então perguntou a mulher se ela era a mãe de Toré. Ela disse que sim.
--- Por favor, doutor. Dê a vida a meu filho. – respondeu a velhinha desconsolada.
Diante daquele quadro, Nunes chorou. Ele nada podia fazer. Para Nunes parecia que a velhinha não tinha noção do que acontecera a seu filho dileto ao fazer tal súplica. Passaram-se minutos até que uma irmã de Toré, aos prantos também veio a Nunes apenas dizer que ele era o seu irmão.


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