sábado, 31 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 29 -

- MEIAS DE SEDA -
- 29 -
Quando Mauricio Lunático se despediu de Inaldo, esse pegou o caminho direto para a Prefeitura onde ainda tinha despachos para fazer. Pensava ele no caso de Zilene talvez por lembrança dos tempos em que os dois viveram juntos. Quando entrou em sua repartição, tudo apagou de vez e apenas se preocupava com o seu trabalho. E foi assim a trabalhar que certo amigo chegou até o seu birô a perguntar por uns processos que estavam parados há certo tempo. Ele reconheceu a pessoa e disse que tudo estava nas mãos do Secretario. De modo que o rapaz agradeceu e tencionava partir. No meio de tudo isso, Inaldo se lembrou de perguntar ao visitante que Inaldo chama de “Padre” se ele conhecia um livro de nome Santo Graal. O chamado “Padre” pensou um pouco e disse que nunca tinha ouvido falar neste livro. No entanto, o “Padre”, cujo nome era Paulo Vasconcelos, teria um encontro com Bispo da cidade e ele perguntaria se o Bispo tinha conhecimento de tal livro. Terminado o assunto, Inaldo voltou ao trabalho.
À tarde, às três horas, Inaldo esteve no Hospital para saber como estava passando a moça de nome Zilene. A outra moça da recepção pediu que ele esperasse um pouco que voltaria com a resposta. E assim foi feito. Alguns minutos após, a moça chamou o rapaz e disse que a paciente estava passando bem, mas não recebia visitas no momento. A paciente estava sedada e ficaria assim até o médico decidir o que teria de ser feito. Inaldo agradeceu a maneira pela qual foi tratado e se despediu da jovem recepcionista. Ao sair do Hospital Inaldo topou com dona Doca, a mãe de Zilene. Essa fez que não tinha visto e passou direto para a recepção. Inaldo ficou parado um pouco vendo se a mulher seria melhor atendia, mas se deu a mesma coisa. E dona Doca se sentou em um banco de madeira com a cabeça emborcada para baixo e Inaldo notou que a mulher chorava copiosamente. Sem mais nada a fazer, o rapaz rumou para o ponto do Bonde que passava ali, e esperou até que o transporte chegou.
Nessa ocasião o rapaz fez o percurso até a Ribeira e passou a procurar pelas livrarias do bairro um exemplar do que Mauricio informou: O Santo Graal. Em uma livraria não tinha, na outra estava para chegar – dizia o balconista – enfim a volta já estava longa quando Inaldo entrou em uma casa mais parecida com um sebo, perguntando se havia ali o livro Santo Graal. O homem meio arqueado pediu que ele esperasse um pouco, pois teria que procurar a brochura. O tampo passou devagar quando o homem chegou com um livro meio velho dizendo:
--- Só tenho esse. Nunca ninguém procura raridades por esse local. – relatou o homem
Em tal momento Inaldo folheou o livro e disse que aquele servia, pois não encontrara nenhum em qualquer livraria do bairro. O homem fez o embrulho do livro e entregou ao rapaz agradecendo pela cortesia e dizendo que ainda tinha outros livros, como dos Sumérios, entre outros. O rapaz agradeceu e disse que era para pensar, pois gostaria de ter em mãos as raridades que o livreiro tivesse. O homem corcunda agradeceu em sua voz tênue pela atenção do rapaz.
Após, passado alguns dias, Inaldo, já tendo lido todo o livro, eis que se encontra com Mauricio e relata a ele que tudo não passa de uma lenda que aponta o Cálice Sagrado como tendo sido o cálice usado por Jesus na ultima ceia. Em resposta, Mauricio declarou que esse tal cálice era a representação de um corpo de mulher como se podia ver. E que Madalena seria esta mulher. Na ceia veio o embrião masculino. Isso era a ceia. O relacionamento de Jesus com Madalena. O Santo Graal é o sangue real, disse Mauricio ao seu amigo Inaldo. Foi no sangue real que Jesus fez a sua procriação. E a filha de Jesus nasceu no Egito, depois da morte do Mestre. E que o Mestre mandou José de Arimatéia levar o “seu santo graal” ou em outras palavras, a sua mulher com a sua filha para local distante, pois ali era perigoso para Madalena ficar. E Arimateia conduziu Madalena até a Gália, que com o tempo se chamou de França.
--- Essa é de morte! – relatou Inaldo alucinado com a lenda contada por Mauricio.
O rapaz fechou o livro e disse que teria que ler por mais vezes possíveis, pois a dúvida lhe encobria o espírito. Tudo, para Inaldo, era bastante complexo. Por fim, os dois se despediram e cada foi para seu rumo. O Santo Graal é ainda hoje uma lenda medieval.
Após oito dias a moça Zilene recebeu alta do hospital com a recomendação de voltar para novos exames. Zilene estava em cadeira de rodas e o médico preveniu a sua mãe que, por cuidado, ela ficaria daquele jeito até completar um mês, pois estava incerto de como Zilene estaria em progresso. E assim findou o primeiro mês com a moça sentada em cadeira de rodas, até mesmo para asseios e necessidades imprescindíveis. A jovem moça passou mais um mês na cadeira ficando em casa de sua mãe o dia todo. Para acudir em suas necessidades freqüentes, dona Doca conseguiu enfim contratar uma mulher que estava o dia inteiro ao redor da jovem moça.
Enquanto isso, mesmo de se passar um mês, Jubal teve o compromisso de ir para o concerto da Orquestra Sinfônica ao lado de sua jovem noiva, da filha Oceanira e da mãe de Salésia, da tia e do esposo de Joana, tia de Salésia. No seu elegante traje de gala, Jubal era o simpático homem que fazia companhia da sua noiva. Oceanira vestia um traje todo em cetim brocado de cor azul. A saia era larga e cheia de aparatos por baixo somando três anáguas brancas, um par de meias, sapatos, luvas e adereços na cabeça como sendo chapéus. A noiva Salésia vestia preto de igual tecido, com pétalas de rosas a altura do seio, meias longas e luvas de tonalidade igual a do vestido. Para o homem ela doou um perfume francês que ao colocar sobre seu busto, Jubal preferia usar perfume de cavalo, como chegou a falar, sorrindo depois.
--- Eu prefiro o cheiro dos cavalos. – relatou Jubal, sorrindo.
A sua noiva fez cara feia com o gesto de Jubal. E disse então.
--- Se vai casar comigo vá logo se acostumando! – gritou Salésia desaforada.
O homem sorriu chega deixou cair ao chão um cálice de bebida que estava a tomar em sua casa antes de partirem para o espetáculo no Teatro. O carro de praça estava encostado na calçada desde as 8 horas da noite quando os três – noivos atrás, e a filha de Jubal na frente – saíram abrindo espaço para o segundo carro que estava ali pronto para levar Suzana, Joana e Pedro Nunes. No final do espetáculo houve quem disse que aquela foi uma noite maviosa, pois jamais tinha assistido a um espetáculo igual. O salão do Teatro estava repleto junto com as frisas, camarotes e andares superiores. Os que estavam presentes ao magistral concerto aplaudiram de pé não só pelo concerto mas igualmente pelo corpo de balé que se apresentou em dança igual as do que faziam os balés da Áustria, por assim dizer.
Na saída do Teatro, Salésia era somente riso para com o seu amado a despeito da filha desse homem e de sua família, inclusive sua mãe, Suzana. Um ósculo bem apertado foi o que recebeu Jubal durante aquela cerimônia. A moça estava feliz e muito mais Oceanira que além de assistir ao espetáculo impar, era também o dia em que ela completava quinze anos de idade. Os autos faziam fila em frente ao palácio de luz e sombras e as duas famílias se acomodaram em seus coches largando enfim para suas moradias onde o amanhã seria outro dia. No passar do Jornal da Cidade, Nunes pediu para saltar, pois ali ainda tinha que vê o que se estava fazendo. Dali ele somente sairia quando o Jornal estivesse pronto para circular.
Um trem apitou anunciando a sua chegada a estação e Salésia, contente ainda assim perguntou para o seu noivo com reticente temor:
--- Será meu pai? – disse a moça entre sorrisos e afagos ao namorado.
--- Pode ser! – respondeu Jubal devolvendo-lhe o beijo dado.
Os lares da rua estavam todos às escuras, pois já era meia-noite ou quase isso e não mais havia a quem abrigasse. Um ébrio saudou o veiculo que por ele passava como se fosse alguém que lhe tinha prometido um albergue e ele não precisasse. Os Bondes já silenciavam a passagem por sobre os trilhos. Nas árvores da praça só os morcegos passeavam a procura de alguma mariposa. O barulho quase silencioso dos dois veículos não foi suficiente para acordar o menino recém nascido que dormia seu sono amainado. Ao estacionar o carro de praça, Oceanira pediu ao pai para que a deixasse ali, pois dormiria em companhia de Salésia. O seu pai concordou e falou que dali em diante ele marcharia para a sua casa, pois estava preocupado com a velha sua mãe e os dois filhos menores, Olinda e Otavio. Depois de beijar a noiva, Jubal seguiu em frente no carro alugado. Entre uma passagem e outra, trocou conversa com o motorista que disse nunca ter visto tanta gente como naquela noite no Teatro. Jubal sorriu para disfarçar.

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