sábado, 31 de julho de 2010

ASA MORENA: MEIAS DE SEDA - 29 -

ASA MORENA: MEIAS DE SEDA - 29 -: "- MEIAS DE SEDA - - 29 -Quando Mauricio Lunático se despediu de Inaldo, esse pegou o caminho direto para a Prefeitura onde ainda tinha desp..."

MEIAS DE SEDA - 29 -

- MEIAS DE SEDA -
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Quando Mauricio Lunático se despediu de Inaldo, esse pegou o caminho direto para a Prefeitura onde ainda tinha despachos para fazer. Pensava ele no caso de Zilene talvez por lembrança dos tempos em que os dois viveram juntos. Quando entrou em sua repartição, tudo apagou de vez e apenas se preocupava com o seu trabalho. E foi assim a trabalhar que certo amigo chegou até o seu birô a perguntar por uns processos que estavam parados há certo tempo. Ele reconheceu a pessoa e disse que tudo estava nas mãos do Secretario. De modo que o rapaz agradeceu e tencionava partir. No meio de tudo isso, Inaldo se lembrou de perguntar ao visitante que Inaldo chama de “Padre” se ele conhecia um livro de nome Santo Graal. O chamado “Padre” pensou um pouco e disse que nunca tinha ouvido falar neste livro. No entanto, o “Padre”, cujo nome era Paulo Vasconcelos, teria um encontro com Bispo da cidade e ele perguntaria se o Bispo tinha conhecimento de tal livro. Terminado o assunto, Inaldo voltou ao trabalho.
À tarde, às três horas, Inaldo esteve no Hospital para saber como estava passando a moça de nome Zilene. A outra moça da recepção pediu que ele esperasse um pouco que voltaria com a resposta. E assim foi feito. Alguns minutos após, a moça chamou o rapaz e disse que a paciente estava passando bem, mas não recebia visitas no momento. A paciente estava sedada e ficaria assim até o médico decidir o que teria de ser feito. Inaldo agradeceu a maneira pela qual foi tratado e se despediu da jovem recepcionista. Ao sair do Hospital Inaldo topou com dona Doca, a mãe de Zilene. Essa fez que não tinha visto e passou direto para a recepção. Inaldo ficou parado um pouco vendo se a mulher seria melhor atendia, mas se deu a mesma coisa. E dona Doca se sentou em um banco de madeira com a cabeça emborcada para baixo e Inaldo notou que a mulher chorava copiosamente. Sem mais nada a fazer, o rapaz rumou para o ponto do Bonde que passava ali, e esperou até que o transporte chegou.
Nessa ocasião o rapaz fez o percurso até a Ribeira e passou a procurar pelas livrarias do bairro um exemplar do que Mauricio informou: O Santo Graal. Em uma livraria não tinha, na outra estava para chegar – dizia o balconista – enfim a volta já estava longa quando Inaldo entrou em uma casa mais parecida com um sebo, perguntando se havia ali o livro Santo Graal. O homem meio arqueado pediu que ele esperasse um pouco, pois teria que procurar a brochura. O tampo passou devagar quando o homem chegou com um livro meio velho dizendo:
--- Só tenho esse. Nunca ninguém procura raridades por esse local. – relatou o homem
Em tal momento Inaldo folheou o livro e disse que aquele servia, pois não encontrara nenhum em qualquer livraria do bairro. O homem fez o embrulho do livro e entregou ao rapaz agradecendo pela cortesia e dizendo que ainda tinha outros livros, como dos Sumérios, entre outros. O rapaz agradeceu e disse que era para pensar, pois gostaria de ter em mãos as raridades que o livreiro tivesse. O homem corcunda agradeceu em sua voz tênue pela atenção do rapaz.
Após, passado alguns dias, Inaldo, já tendo lido todo o livro, eis que se encontra com Mauricio e relata a ele que tudo não passa de uma lenda que aponta o Cálice Sagrado como tendo sido o cálice usado por Jesus na ultima ceia. Em resposta, Mauricio declarou que esse tal cálice era a representação de um corpo de mulher como se podia ver. E que Madalena seria esta mulher. Na ceia veio o embrião masculino. Isso era a ceia. O relacionamento de Jesus com Madalena. O Santo Graal é o sangue real, disse Mauricio ao seu amigo Inaldo. Foi no sangue real que Jesus fez a sua procriação. E a filha de Jesus nasceu no Egito, depois da morte do Mestre. E que o Mestre mandou José de Arimatéia levar o “seu santo graal” ou em outras palavras, a sua mulher com a sua filha para local distante, pois ali era perigoso para Madalena ficar. E Arimateia conduziu Madalena até a Gália, que com o tempo se chamou de França.
--- Essa é de morte! – relatou Inaldo alucinado com a lenda contada por Mauricio.
O rapaz fechou o livro e disse que teria que ler por mais vezes possíveis, pois a dúvida lhe encobria o espírito. Tudo, para Inaldo, era bastante complexo. Por fim, os dois se despediram e cada foi para seu rumo. O Santo Graal é ainda hoje uma lenda medieval.
Após oito dias a moça Zilene recebeu alta do hospital com a recomendação de voltar para novos exames. Zilene estava em cadeira de rodas e o médico preveniu a sua mãe que, por cuidado, ela ficaria daquele jeito até completar um mês, pois estava incerto de como Zilene estaria em progresso. E assim findou o primeiro mês com a moça sentada em cadeira de rodas, até mesmo para asseios e necessidades imprescindíveis. A jovem moça passou mais um mês na cadeira ficando em casa de sua mãe o dia todo. Para acudir em suas necessidades freqüentes, dona Doca conseguiu enfim contratar uma mulher que estava o dia inteiro ao redor da jovem moça.
Enquanto isso, mesmo de se passar um mês, Jubal teve o compromisso de ir para o concerto da Orquestra Sinfônica ao lado de sua jovem noiva, da filha Oceanira e da mãe de Salésia, da tia e do esposo de Joana, tia de Salésia. No seu elegante traje de gala, Jubal era o simpático homem que fazia companhia da sua noiva. Oceanira vestia um traje todo em cetim brocado de cor azul. A saia era larga e cheia de aparatos por baixo somando três anáguas brancas, um par de meias, sapatos, luvas e adereços na cabeça como sendo chapéus. A noiva Salésia vestia preto de igual tecido, com pétalas de rosas a altura do seio, meias longas e luvas de tonalidade igual a do vestido. Para o homem ela doou um perfume francês que ao colocar sobre seu busto, Jubal preferia usar perfume de cavalo, como chegou a falar, sorrindo depois.
--- Eu prefiro o cheiro dos cavalos. – relatou Jubal, sorrindo.
A sua noiva fez cara feia com o gesto de Jubal. E disse então.
--- Se vai casar comigo vá logo se acostumando! – gritou Salésia desaforada.
O homem sorriu chega deixou cair ao chão um cálice de bebida que estava a tomar em sua casa antes de partirem para o espetáculo no Teatro. O carro de praça estava encostado na calçada desde as 8 horas da noite quando os três – noivos atrás, e a filha de Jubal na frente – saíram abrindo espaço para o segundo carro que estava ali pronto para levar Suzana, Joana e Pedro Nunes. No final do espetáculo houve quem disse que aquela foi uma noite maviosa, pois jamais tinha assistido a um espetáculo igual. O salão do Teatro estava repleto junto com as frisas, camarotes e andares superiores. Os que estavam presentes ao magistral concerto aplaudiram de pé não só pelo concerto mas igualmente pelo corpo de balé que se apresentou em dança igual as do que faziam os balés da Áustria, por assim dizer.
Na saída do Teatro, Salésia era somente riso para com o seu amado a despeito da filha desse homem e de sua família, inclusive sua mãe, Suzana. Um ósculo bem apertado foi o que recebeu Jubal durante aquela cerimônia. A moça estava feliz e muito mais Oceanira que além de assistir ao espetáculo impar, era também o dia em que ela completava quinze anos de idade. Os autos faziam fila em frente ao palácio de luz e sombras e as duas famílias se acomodaram em seus coches largando enfim para suas moradias onde o amanhã seria outro dia. No passar do Jornal da Cidade, Nunes pediu para saltar, pois ali ainda tinha que vê o que se estava fazendo. Dali ele somente sairia quando o Jornal estivesse pronto para circular.
Um trem apitou anunciando a sua chegada a estação e Salésia, contente ainda assim perguntou para o seu noivo com reticente temor:
--- Será meu pai? – disse a moça entre sorrisos e afagos ao namorado.
--- Pode ser! – respondeu Jubal devolvendo-lhe o beijo dado.
Os lares da rua estavam todos às escuras, pois já era meia-noite ou quase isso e não mais havia a quem abrigasse. Um ébrio saudou o veiculo que por ele passava como se fosse alguém que lhe tinha prometido um albergue e ele não precisasse. Os Bondes já silenciavam a passagem por sobre os trilhos. Nas árvores da praça só os morcegos passeavam a procura de alguma mariposa. O barulho quase silencioso dos dois veículos não foi suficiente para acordar o menino recém nascido que dormia seu sono amainado. Ao estacionar o carro de praça, Oceanira pediu ao pai para que a deixasse ali, pois dormiria em companhia de Salésia. O seu pai concordou e falou que dali em diante ele marcharia para a sua casa, pois estava preocupado com a velha sua mãe e os dois filhos menores, Olinda e Otavio. Depois de beijar a noiva, Jubal seguiu em frente no carro alugado. Entre uma passagem e outra, trocou conversa com o motorista que disse nunca ter visto tanta gente como naquela noite no Teatro. Jubal sorriu para disfarçar.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 28 -

- MEIAS DE SEDA -
- 28 -
Na segunda-feira Inaldo estava logo cedo no Café de dona Nazinha, no Mercado da Cidade a tomar o seu café com mungunzá e tapioca. A mulher servia a todos com a ajuda de duas empregadas. Essas mulheres cuidavam do café quente e bem apurado, dos bolos, cuscuz, tapiocas, mungunzás e até mesmo ovo frito ou cozido. Dona Nazinha ficava no despachar. Era uma correria infernal que a pobre mulher fazia todas as horas da manhã e parte do almoço, quando era o feijão, macarrão, arroz e carne de sol ou carne verde. Guisado, por excelência. Inaldo nem via o sacrifício da mulher em despachar todas as pessoas. Contudo, ele sabia que era muito movimento de manhã cedinho. No seu caso, Inaldo queria apenas saborear o que havia para comer, pois as sete horas estaria na repartição onde trabalhava. Pela repartição municipal havia também serviços demais para se dar conta. Era uma coisa pela outra. No café parava todo tipo de gente. Eram balaieiros, carregadores, almocreves ou mesmo funcionários públicos e plantadores de feno, como era o caso de seu Jubal. E ali estava Inaldo a saborear o seu mungunzá.
De repente, eis que surge um carregador de balaio, assustado, com os olhos quase saindo das órbitas, tremendo todo ao dizer a dona Nazinha que continuava ocupada com os seus afazeres:
--- Dona Nazinha! Dona Nazinha! A senhora viu como está à mulher do canto? – perguntou o carregador.
--- Que me importa! Não devo nada a ela e nem ela me deve! – falou Nazinha toda arrebitada.
--- Mas olhe! A mulher está chorando. Não sei por quê? – acentuou o balaieiro.
--- Por que não pergunta a ela? Quem tem filha sabe o que tem a fazer! – retrucou Nazinha no seu vai e vem do balcão.
--- Filha? A filha dela? Que houve Nazinha? – indagou Inaldo surpreso.
--- Dera um tiro nas costas dela e pronto! – falou Nazinha rumando para o forno do café onde se assava batatas.
--- Tiro? Ah meu Deus! Tiro mesmo? Pei e bufo? – indagou Inaldo assustado demais.
--- Um tirinho de nada. A moça vai escapar. Nem se preocupe. Você já esteve com ela e sabe da vida que a moça leva. – arrematou Nazinha despreocupada da vida.
--- Vou lá perguntar como foi o caso! – respondeu Inaldo ao sair do café ainda sem nem degustar toda a sua refeição.
Inaldo saiu até o Café de Doca e encontrou a mulher chorando com a mesma atividade que fazia todos os dias. A mulher nem olhava quem despachava e mesmo assim fazia seus pratos, muitas vezes se enganando de freguês. Cuscuz para um quando era apenas tapioca. Mungunzá para outro quando o home queria somente café. E assim ela levava à vida de aperreio esperando que chegasse à tarde. No café tinham duas mulheres. A outra começou a trabalhar desde que a moça saiu de casa. Quando Inaldo chegou dando bom dia a mulher disparou contra ele como uma arma carregada atirando desaforo para todos os lados.
--- Que é que você quer? Você é o culpado por tudo isso, canalha. – respondeu a mulher de forma ríspida.
--- Mas eu? – indagou surpreso Inaldo.
--- E vá embora daqui! Não quero mais te ver nem pintado! – esculachou a mulher sem qualquer defesa do rapaz.
Inaldo, revoltado com a decisão da mulher e sem saber de nada, voltou ao Café de Nazinha interrogando a razão de toda aquela raiva de dona Doca. Ele é que deveria estar com raiva. E não a mulher. Cabisbaixo, ele ocupou o tamborete na mesa de dona Nazinha e ficou ali a pensar quando a mulher do café se achegou para perto dele. E disse como foi o atentado sofrido por Zilene. A moça ficaria recuperada, ao ver de Nazinha e ao falar do medico. Nazinha não falava com Doca e ouviu falar do caso por outras pessoas. Inaldo ficou sentido. Em certo momento, chorou.
O passar do dia para Inaldo foi terrível. Mesmo tendo deixado a moça por causa da traição que ele sofrera, nutria de qualquer modo certa afeição por Zilene. E ao saber que ela sofrera um atentado como o de domingo, Inaldo sentiu revoltado. Ele pensou em até voltar a beber. Mesmo assim, seu instinto falou mais forte e Inaldo não caiu em tentação. Preferiu ele ir contar a Jubal o que tinha ocorrido com Zilene. Talvez assim fosse melhor. Após assinar o ponto na Prefeitura, Inaldo saiu para o sitio de Jubal tendo que passar primeiro na feira do Paço. Quando chegou às imediações da Feira, viu um tumulto com gente e policiais. Ela parou por precaução e notou que a Policia prendera um certo rapaz e lhe tirara a arma de fogo. Inquieto, perguntou a um alguém que estava na Feira.
--- Que foi isso? – perguntou Inaldo um tanto cheio de medo.
--- Foi Tulipa. Ele parece que matou uma puta, ontem. – esclareceu o homem sem nada mais dizer.
--- Terá sido Zilene? – perguntou de forma aleatória Inaldo.
--- Parece que é. – respondeu o homem.
Os soldados levaram o homem algemado e Inaldo se afastou para dar passagem a Policia, pois os homens estavam a serviço. Ninguém falou coisa alguma. Ou seja. Nem Inaldo nem os policiais. O jovem olhou bem a cara do moço Tulipa para ver se o conhecia e não obteve resposta. Devia ser mais dos tais que perambulavam pelos bordeis da cidade. O elemento foi subindo pela ladeira e Inaldo desceu até o sitio de Jubal para lhe contar o sucedido. Ao chegar à porteira do sitio, essa ainda estava fechada a cadeado. Ele esperou um pouco. E depois seguiu para a sua repartição com a cabeça toda embrulhada pelo sucedido. Mais tarde ele teria que ir ao hospital para saber do estado de saúde de Zilene. Afinal, ela fora um encanto de mulher, fogosa como sempre. Daí passou a lembrar as noites maviosas que esteve com aquela moça. Belas e eternas noites de até certas loucuras. Na sede do prazer, ela fizera de tudo com o seu amante. Beijos eram o de menos. E naquele instante Inaldo queria apenas chorar para desfazer o que passou.
Andando e caminhando de volta para a repartição, Inaldo cruzou com o seu novo e cordial amigo chamado Mauricio, cujo nome poucas pessoas sabiam e o chamavam de Lunático por os motivos que o jovem aparentava ser. Um “oi” para cá e um “olá” para lá eis que os dois se encontraram na metade da praça que havia próxima a Prefeitura. Inaldo nada perguntou de historias de cobras e de gemas para Mauricio. Esperou um tempo que ele por fim falasse. E Mauricio falou então.
--- Você já leu O Santo Graal? – perguntou Mauricio sem se importar com a resposta
--- Santo o que? – franziu a face Inaldo ao perguntar a Mauricio.
--- Já vi que não leu. Pois compre um exemplar para nós podermos discutir mais a vontade. Leia mesmo. – falou Mauricio exultante de esperança com Inaldo.
--- Mas o que tem esse livro? – perguntou Inaldo se lembrando de Zilene apenas.
--- Bem. Se eu falar agora, você não ira lê-lo talvez. É melhor você ler para depois conversarmos. Certo? – interrogou Mauricio.
--- Como é que se escreve esse. ...gral? – questionou Inaldo curioso com o assunto
--- Não é gral. E sim, Graal. Tem dois A no meio. É bom você ler. – respondeu Mauricio
--- Vou ver se encontro. Santo. ... Como é que é? – perguntou outra vez Inaldo.
--- Graal! Você vai encontra na cidade. Procure-o. – respondeu Maurício
--- Santo Graal! É nome de Santo, é? – perguntou Inaldo meio assombrado.
--- Leia o livro. Depois você me pergunta. – sorriu Mauricio.
--- Você não quer me pegar? – indagou Inaldo, desconfiado.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 27 -

- MEIAS DE SEDA -
- 27 -
Em um sábado de algum mês o Solar de Alba estava repleto de gente de todos os tipos para ver a estréia da ruiva Zilene que se fazia de ruiva. Era uma linda mulher que dançava as mais belas musicas de sua época. Todos os amantes estavam à espera dessa suprema deusa. Eram às 9 horas da noite onde todo se completava em sonhos e mentiras com os amantes lerdos a ouvir promessas de sabor enganoso. Entre bebidas e sonhos todos aguardava Zilene a bailaria. E foi em um tempo que a jovem mulher surgiu das sombras do enigmático Solar de Alba soltando beijos para todos os clientes de alcova que Zilene surgiu. Ao som de orquestras de radiola, ela retratava em passos curtos aquilo que os homens alucinados pediam: um instante perene de amor. Ao tocar de uma balada a jovem e eterna mulher se fez presente em meio do salão de baile. A todos dedicava o seu amor caliente e ardente. A nenhum se oferecia então. Apenas deliciava o amor de cada um. A conquista se esvaia em sombras do noturno amor vital que sombreava cada olhar soturno. Frases de carinhos e paixão eram o que se mais ouvia dos dementes de carinhos e paixão. Ela era a namorada de cada um que deixava as sombras da ilusão. O pedido de um beijo nos lábios era a freqüência de se ouvir dos ébrios apaixonados. O frenesi freqüente era dos embriagados dolentes, cujos pecados eram o de pedir para que Zilene pudesse dar um beijo e a chama ardente do seu amor.
As rendas de Sevilha eram o que mais fazia a exuberante fêmea algo impressionante naquelas vigílias de amor. Alegres e bravios os homens apenas se lançavam a divina deusa do salão de baile no Solar encantado. A cada qual lhe cabia a sua cruz pela esperança sentida em cada enlace que Zilene fazia ao passar como uma esguia e eterna flor de lótus perfumada que desabrocha a sua beleza eterna. A jovem mulher sobrepunha-se a todas as adversidades do eterno encanto demonstrando a sua primaz grandeza e exuberância acolhedora. E a cada passo ela demonstrava que os corações dos seres são como um lótus fechado. O bailado acalentado continuava pelo salão com Zilene fazendo voltear todos os seus amantes enamorados. Era uma verdadeira promessa de enganar que a todos os brunos amantes da noite. O tempo se passava e a mulher fatal descia ao seu camarim para seduzir alguém que ela enfim escolhia. Na noite desse sábado, após a dança em que Zilene mostrou o seu ventre, um amante do tempo se fez amante da deusa mulher. E os dois saíram concubinados. A débil fêmea entrou abraçada na alcova onde ambos fizeram amor completo.
Foi então que, nesse instante, alguém impeliu à porta da alcova de supetão a procura da mulher que ele mais amava por toda a sua vida delinqüente. Nessa ocasião o homem se deu por fé que sua mulher amante estava completamente despida a fazer amor ao sabor de tudo. O homem, desesperado, acionou a sua arma e desferiu tiros contra Zilene, tendo alcançado um deles. Sem a menor resolução a alcançar, Zilene apenas gritou como uma fera:
--- Não me mate!!! – gritou a mulher naquele instante extremo desprezando até mesmo o amante de ocasião.
O homem desferiu três balas sendo que uma atingiu a exuberante dama da noite e de todos que no extremado da sorte caiu desfalecida. O homem disse os impropérios contra a mulher e saiu correndo da alcova. Na cama estava o amante que não chegou a ser atingido pelas balas. Ele estava pasmado com o desespero do homem. Totalmente despido, o homem ficou atônito com a cena, tendo ficado escorado com seus cotovelos na cama enquanto outros entravam no quarto para atender a mulher com ferimento nas costas a altura da espinha dorsal, no ponto da sua cintura fina. Ao desespero de todos os que conseguiram entrar na alcova, soergueram a mulher de forma cautelosa e a levaram enrolada com cobertores para o veículo do Solar e a levaram para o hospital. Temendo por tudo e por todos, os homens e mulheres que socorreram Zilene se perguntavam o que dizer ao chegar ao hospital.
--- Diga apenas que era uma mulher da vida! – respondeu o mais velho de todos.
Uma das mulheres afagava a face de Zilene com se ela fosse sua própria filha. E corava então sendo consolada por outra mulher do lupanar que dizia apenas.
--- Ela fica boa! Ela fica boa! – dizia à mulher que acompanhava Zilene ao hospital.
O motorista e demais passageiros deixaram a mulher no pronto socorro. Ficou apenas a mulher mais velha que vinha na companhia de Zilene, preocupada por demais com a vida da jovem moça. Passaram horas e mais horas. Ali chegaram outras divas do Solar para saber de noticias. Os médicos se submeteram a cirurgiar a jovem e bela moça em uma operação que durou horas a fio. As amigas de Zilene estavam todas em pânico a espera de algum pronunciamento dos que faziam a cirurgia. Sono e despertar eram o que mais sofriam as damas. Por volta das quatro horas um enfermeiro chegou até onde as damas estavam e perguntou.
--- Quem é parente da jovem Zilene? - - perguntou o enfermeiro.
Uma mulher se levantou e nesse instante falou um tanto com assombro.
--- Sou eu. Mãe da moça. – declarou dona Doca. Ele teve conhecimento do caso logo as primeiras horas da manhã.
Quando dona Doca chegou ao café do Mercado Publico, logo após abrir o local chegou um rapaz do Solar de Alba para relatar o caso que houve com Zilene. A mulher se assustou e deixou tudo sob a responsabilidade de sua cozinheira. Com pouco tempo a mulher já estava na parada do Bonde para pegar a primeira ou segunda condução que a levaria até o hospital. Quando Doca chegou ao hospital, já estavam as mulheres de programa da noite. Elas estavam pela casa de saúde desde a madrugada esperando notícias. E passaram toda a manhã em companhia da mãe da moça sem conversar sobre nada a não dizer:
--- Como custa! Ave Maria! Que horas? – era o que elas diziam mais de uma vez durante o dia se aconselhando umas as outras. A mãe de Zilene chegou apressada e perguntou a atendente sobre o estado de saúde de Zilene, moça de vinte e poucos anos que entrara a primeira hora da madrugada. A atendente mandou que Doca esperasse, pois ainda não tinha notícias da cirurgia pela qual a moça passava. Desse minuto em diante ficou o andar de Doca por todo o corredor do salão a espera de qualquer noticias. A mulher não sentia fome apesar de nem tomado café da manhã. Chega à hora do almoço e a mulher ficou como estava. Era um domingo. O Café já fechara no Mercado da Cidade. Uma mulher chegou do Mercado e perguntou a Doca.
--- Como ela está? –pergunta a mulher assombrada.
--- Não sei. Ninguém sabe. Ninguém diz nada. Já passa da uma hora. - a mulher chorou naquele instante pela terrível sensação que lhe sacudira. Apesar de tudo, Zilene era sua filha. Tinha a cabeça dura. E se meteu com quem não tinha nada para dar. Era isso que Doca dizia a todo instante. O tempo era ingrato para com ela na forma como estava. Uma, duas, três. Quando era quase quatro horas da tarde o enfermeiro chegou de forma branda e educada perguntou por parentes da moça. Doca se apresentou. Ele então disse à mulher que podia falar com o médico. A mulher entrou de hospital adentro acompanhado o enfermeiro que conservava calado que não adiantava a falar com ele, pois nada responderia. Quando chegou a Direção da casa de saúde o enfermeiro fez a vez para que a mulher entrasse. E nada ele disse, fechando a porta em seguida. Dona Doca ficou sentada em uma cadeira de pau a espera dotal diretor. Tudo era silencio naquele corredor. Um grito de criança ela ouviu vindo de muito longe como se estivesse nascendo. Dois auxiliares de enfermagem entraram de repente pela sala empurrando uma maca e desapareceram no fim do espaço. Não havia ninguém na maca que os maqueiros levavam. Com pouco tempo, os maqueiros voltavam com uma pessoa deitada em cima da maca. Ela olhou assombrada e logo viu não se tratar de Zilene. Com um pouco de tempo surgiu um médico abrindo a porta do seu consultório. Ele se dirigiu à dona Doca e perguntou:
--- A senhora é parente da vítima? – perguntou o médico.
--- Sou sim doutor. Sua a sua mãe. Ela morreu, por favor? – inquiriu a mulher em uma forma de quem rezava com as mãos postas.
--- Não. Ela vai ficar alguns dias no hospital. As visitas só na parte da tarde. Não se preocupe. Ela vai ficar curada. – respondeu o médico.
Nesse momento a mulher não teve forças para sustentar e desmaiou.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 26 -

- MEIAS DE SEDA -
- 26 -
Certo dia Jubal estava cortando e plantando feno no seu sitio, aborrecido com os mosquitos do mangue que a todo o tempo estava para infernizar a sua natureza. Se ele matava um com uma tapa aparecia outro a lhe azucrinar a vida. E eram tapas e mais tapas nos mosquitos do mangue. O sol quente da manhã lhe fazia mais impaciente com aos mosquitos a ponto de dizer palavrões contra os mutuns a todo custo. No sitio, quando a maré estava baixa, era sempre assim. Às vezes Jubal passava óleo de cabelo para se ver livre dos mutuns. Naquele dia nem se lembrara do tal óleo e se ele se lembrara, esquecera no momento seguinte. Como era tempo de cortar o feno, pois os soldados do Esquadrão da Cavalaria estavam para aparecer a qualquer momento Jubal preferia seguir nas tapas a parar para passar óleo de cabelo ou de coco principalmente na nuca, ponto preferido pelos mutuns para matar a sua sede, coisa que ele lembrava e esquecia. E ele estava ali cortando o feno, com o suor molhando toda a face, quando, inesperadamente surgiu à figura de Salésia.
--- Oi! – foi o que ela disse de forma alegre e sem cismar de tantos mutuns a ferir Jubal.
O homem se ergueu e olhou aquela linda mulher a lhe fazer rodeios. Com tanto suor a lhe cobrir a face, Jubal só teve tempo de sair do monte de feno e cumprimentar com um beijo a moça. Em seguida, perguntou o que ela estava a fazer em um lugar tão sujo como aquele. A moça sorriu e disse a seguir.
--- Vim trazer um convite para você. Na verdade, é para nós. E não quero ouvir um não por resposta. – disse Salésia a sorrir.
O homem nem podia pegar naquele lindo e esmerado convite feito em papel cetim, todo incrustado de brilhantes ou parecendo brilhantes. Apenas indagou a jovem moça o que trazia o convite. Ele estava pingando de suor e impaciente, levando a moça para debaixo do alpendre da velha casa de taipa. E moça então respondeu sem abrir o envelope aparentemente lacrado.
--- É apenas um convite para você ir comigo assistir a apresentação de uma orquestra sinfônica e uma companhia de balé que vai haver no teatro. E você pode levar a sua filha, Oceanira. – explicou a moça de forma simples.
--- Mas eu? Olha como estou? – respondeu Jubal inquieto.
--- Não é agora, besta. É mais pra frente. Você compra um terno novo. Sapatos, meias, calça, camisa, paletó e tudo mais. Gravata também. Só isso. Eu vou com você fazer as compras. Tá bom? – indagou Salésia sempre a sorrir.
--- Mas eu metido nessa coisa toda? Nem morto! – respondeu Jubal impaciente.
--- Ah, vai. Ora se vai. E por sinal vai hoje à tarde. Dá tempo. Tem que ver a roupa, jóias e coisas mais que Oceanira vai usar. E eu já disse a ela. Ela concordou e está morta de alegria. – falou Salésia de forma afirmativa.
--- Mas minha filha. Eu não posso nem em pensar em usar esta coisa. E assistir o que? – perguntou Jubal a Salésia querendo melhor compreender.
--- Minha filha eu gostei. – (sorriu Salésia). – Mas veja que você tem que mudar de vida. Conhecer outras pessoas. Abrir a sua cabeça ôca. Viajar, conhecer lugares, ver que não é você o único a capinar feno. Tem mais gente. Tem tanta coisa na vida. Tem a Itália, a Espanha, Portugal, França. Em todos esses lugares tem quem faça o que você faz. Encha o pulmão de ares. Veja o mundo. O Brasil. Veja tudo isso. – repreendeu Salésia de modo firme.
O homem ficou pensativo em quanto ele perdera na vida. Havia lugar mais próspero que aquele recanto onde se metera. O que ele fazia era capinar e plantar. Os lucros ele depositava na Caixa Rural. Aquele era o seu mundo. Mesquinho mundo. Jubal baixou a cabeça só em pensar aquela vida que levava. Ir ao café, pegar depois na foice, cortar capim, andar de cavalo, ir para casa e depois voltar a fazer tudo de novo. O homem quis chorar de momento a pensar do tempo perdido.
--- Está bem querida. Eu quero sair desta vida. Vou conhecer o mundo ao seu lado. E hoje vamos ao alfaiate trocar de muda. – respondeu Jubal se alegrando então.
--- Ao alfaiate não. Vamos a uma loja de requinte onde você pode escolher a roupa que quiser. Vamos andar arejar a mente, ver coisas maravilhosas além do feno! – articulou a moça de forma simples.
Por fim, Jubal concordou em ir ao balé e assistir a orquestra, coisa que ele nem sabia da existência. A moça sentou no tamborete improvisado de madeira tosca e olhou de forma encantadora o homem que ela amava por todo o tempo de sua vida. Em instante delirante se segurou ao seu eterno colo e lhe encheu de encantados beijos eternizastes e sublimes. Beijos de encantos e doçuras. Os pássaros da manha de sol passaram por cima do casebre e gorjearam cantos de amor. O toque que eles faziam até parecia o gorjear das cotovias. Lembranças de um amor eterno apareciam a Jubal de modo freqüente. Salésia lembrava enfim a outra corte simples até, que ele nunca esquecera. Nora era agora o seu presente para todo o sempre.
Desse modo, às primeiras horas da tarde, os dois estava a vasculhar coisas em uma loja da Ribeira a procura de um fardamento adequado que servisse a Jubal. O seu nome completo era Jubal Valadares Guimarães, num altruístico para um cortador de feno. O da moça era Salésia Mendes Campos. Eles com esses nomes pareciam até portugueses ou de descendência portuguesa. Mesmo assim, não se importaram com os nomes que tinham. Todavia, quando Salésia ouviu de Jubal o dizer de seu completo nome, isso há algum tempo, a jovem ficou a imaginar como seria lindo ter o nome de Valadares. Salésia Mendes Valadares ou Salésia Mendes Guimarães. Era um nome de penhor. Porém, disso esquecera com o passar do tempo. Naquele instante que estava com Jubal ao seu lado, escolhendo o traje de gala que ele vestiria e os ornamentos de sua filha, Oceanira, nada lhe importava jamais. Notava-se que o homem era um tanto desajeitado para escolher a vestimenta e por isso tinha Salésia a ajudar em tudo o que lhe acertava fazer.
Após se ver satisfeito com a vestimenta que escolhera Salésia lhe disse que era bom verificar as vestes de Oceanira, pois ela era uma linda e exuberante mulher com a sua idade de 15 anos. Porém Jubal relegou a escolha deixando para Oceanira fazer com Salésia essa procura no dia seguinte. As duas mulheres poderiam ficar mais tempo e a vontade, desde a manhã, a procura do que usar. E assim foi combinado. Um detalhe, porém. O noivo teria que vir com a sua filha para a casa de Salésia e de lá rumar de carro no dia do concerto para chegarem ao teatro de forma elegante. O homem ficou a pensar e depois concordou. Da casa de Salésia sairia a sua mãe, Suzana, a sua tia Joana e o seu marido, Pedro Nunes. Era um presente magistral, pois no dia do acontecimento era também a data de aniversario de 15 anos que estava a fazer à jovem Oceanira. Era nesse ponto que Jubal se importava. Depois, se faria um bolo e tudo estava feito, não precisando mais de outros gastos.
Entretanto, Salésia tinha outra idéia em segredo que não diria a Jubal antes do tempo. O aniversário de Oceanira era um marco na historia das duas moças, e só um concerto não era o suficiente para pagar a data. Ele teria que fazer uma nova festa organizada com rigor, em um salão de festival onde se daria a Oceanira um presente triunfal. Este era o que havia de nobreza na festa de aniversario da filha de Jubal Valadares. As duas moças andavam de aconchego com uma surpresa para o pai de Oceanira. Quase todo dia a duas se encontravam, ou na Igreja ou na pracinha, para combinar o que se faria no dia do seu aniversario. Salésia dizia uma coisa que era arrebatada por Oceanira por outra e assim se fez um acordo: não se dizer nada ao pai da jovem nubente. Por isso, sem saber de nada, Jubal aceitou que as duas meninas estivessem no dia seguinte acompanhada da mãe de Salésia a procura do traje de Oceanira. Tudo isso fora marcado sem que Jubal soubesse. Nem mesmo a própria mãe de Salésia. E no dia seguinte, às oito horas da manhã, Oceanira já estava pronta para seguir a casa da sua amiga e então vagar pelas lojas que havia na Ribeira, ponto chique da moda da capital.

terça-feira, 27 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 25 -

- MEIAS DE SEDA -
- 25 -
Era um domingo. Jubal estava na Matriz para assistir a Santa Missa. De longe viu a silhueta daquela mocinha que ele a reconheceu de imediato. Tratava-se de Salésia, uma menina de onze anos de idade que ele, um dia, conhecera. Passado o tempo, já com os seus 15 anos de idade, ela era uma moça. Ele ficou a olhar aquela bela donzela e não fazia tempo em que se declararia em noivado à senhorita. Ela estava tão bela e em forma ideal que Jubal nem parecia acreditar. De antigos domingos quando Jubal assistia Missa na Matriz de sua cidade, lembrava-se de antigas vestes de seda, vestido e meia que ela um dia se protegeu para receber a Primeira Comunhão. Esse caso ele não presenciou. Porém a menina lhe contara muitas e tantas vezes com se vestira na sua primeira comunhão. Era delirante recordar com emoção e afeto de tudo o que se passara com a menina, então senhorita Salésia. O seu aniversario de 15 anos foi uma festa delirante em um salão próprio para esses acontecimentos na Cidade. Um dia 26 de abril em que a rosa desabrochou para a virgem moça de encantos sedutores.
Tudo aconteceu para que esse noivado ocorresse de forma deslumbrante. Salésia, certo dia, foi até o sitio de Jubal e começou a conversar puras amenidades. Ele estava ocupado a plantar feno e nem muita atenção dava a Salésia. E ela a falar de coisas que Jubal não sabia por acaso. Nesse momento, ele teve um susto quando a moça falou bem próxima a ele e com altivez:
--- Você não escuta o que eu falo? – perguntou Salésia de forma ríspida.
E Jubal se virou e perguntou se ela falava sobre caranguejos e fenos.
--- Não senhor. Estou dizendo que a minha celebração da festa de meus 15 anos será no sábado. Ouviu agora? – perguntou Salesia de forma deseducada.
--- Ah sim. Seu aniversario. Eu me lembrava. Vai ser agora. E eu já estou arrumado. Vou sim. – disse Jubal de modo delicado.
--- Não foi isso o que eu disse. Eu perguntei se você quer se casar comigo? – relatou Salésia de modo áspero.
--- Eu? Eu? Mas como eu? Sou velho para você. Tenho 43 anos e você tem 15. Não está vendo que isso não combina? – respondeu Jubal assustado.
--- Não. Não vejo assim. Velo em você um homem e eu uma mulher. Há tempos que eu pergunto por que é que você está solteiro. Eu quero você desde a primeira vez que te conheci. Tinha apenas 9 anos de idade. Mas já sentia profundo amor por você. Entendeu agora? – relatou Salésia de forma ríspida.
--- Entendi. Entendi. Mas vejo que em nossa idade é deveras cuidadoso procurar uma mulher sempre mais nova para se casar. Não digo você. Porém, um homem com mais de 40 de idade não deveria se envolver com uma criança de tenra idade como eu sinto no seu caso. Quando eu atingir 60 anos você terá quanto? – perguntou Jubal.
--- Isso não vem ao caso. Diga se me quer ou me atiro nas águas podres e lamacentas deste rio. – respondeu Salésia de forma resoluta.
--- Bem. Sua família o que sente a respeito disso tudo? – perguntou Jubal
--- Eu não sei, não quero saber. Minha família não vai perder a virgindade com um homem mais idoso do que eu. – respondeu Salésia inquieta.
--- Que horror, menina. Você tocou agora num ponto crucial; a virgindade. Você já pensou em perder sua virgindade com outro alguém? – perguntou Jubal estarrecido.
--- Já. Muitas vezes. Eu pensei sim. Só ele é que não pensa nisso! – retrucou Salésia de forma incomum.
--- Pois bem. Procure esse rapaz e faça que ele te peça em casamento. – fomentou Jubal mais tranqüilo.
--- É o que estou fazendo agora. Eu penso que Otário não é tão asno assim como você! – relatou Salesia a Jubal de forma inquieta.
Jubal sorriu a bel prazer com a resposta de Salésia e saiu do feno em direção a fêmea que estava toda em êxtase. Doce e angelical como em um jardim nascida àquela linda flor. Para Jubal Salésia era como se fosse uma santa e naquele momento ela somente queria de ouvir do homem simples apenas as juras de um amor de parecer eterno. Olhando a fêmea mulher ao eterno vento, o homem não se conteve de tanto pergaminho de amor. Abraçou-a com ímpeto feliz. Mesmo sentindo os seus quarenta e poucos anos, quando a velhice lhe assomava a cada passo o seu coração, ele, em delírio extremo naufragou em extenuantes e alucinados beijos. Da paragem do seu firmamento ele nem viu ou ouviu os sinos a badalar na augusta e singela igrejinha que alimentaria para sempre os eternos e extravagantes corações enamorados.
E foi naquele dia de sábado, ao som de magos violinos ciganos que o homem a pediu em casamento a mão da jovem que completava os seus 15 anos de idade. Tudo aconteceu na sublime festa que se organizou em um enfeitado salão de dança, depois que os músicos tocaram os mais belos acordes da musica ciganas e nacionais, quando o par entoou a dança Fascinação, pai e filha, a meia noite. Jubal, ao entrar para dançar com a sua noiva a pediu para ser o seu primeiro noivo. Vestida de branco marfim, com um par de luvas também brancas que lhe encobriam as mãos até ao meio dos braços, meias de seda em tonalidade branca lhe faziam cobrir as suas pernas e sapatos igualmente brancos lhe rondava o espetáculo. Salésia trazia no busto um colar de diamantes entre um crucifixo de Jesus Cristo, e na cabeça uma coroa de diamante e brilhantes. O pai Artêmio já havia concordado dias antes com o noivado da filha. A mãe, Suzana chorava de alegria. A noiva então sorriu para o seu noivo. Os filhos de Jubal, cujas presenças eram de modo simpático, aplaudiram o pai. Eram eles: Otávio, o mais moço; Olinda, a do meio e Oceanira a mais velha igualmente de 15 anos de idade. Os irmãos de Salésia, também aplaudiram o noivado. Eram eles Ênio e Euclides.
No domingo que se seguiu o noivo estava na Igreja para a tradicional Missa. Logo no começo, Jubal estava em um banco distante da nave da Catedral. Quando viu chegar sua noiva ele demorou um pouco e depois saiu para junto da jovem menina-moça. Na nave da Igreja pendurava-se um cartaz com os dizeres alusivos a Jesus Cristo e as uniões de cônjuges. Havia também imagens de Santos e, no altar mor, centro da Igreja, a da Santa Padroeira da Catedral. Vestida em traje de organdi em seda, a noiva não cabia em contentamento e alegria por estar ao lado do homem a quem amava.
Logo após a Santa Missa, houve cumprimentos de amigos e amigas, gente conhecida de Salésia e do casal pai e mãe. Após tais cumprimentos, Salésia, Jubal e seus três amados filhos rumaram para a residência da moça onde tomaram café matinal. Ali, Jubal conversou por longo tempo com os pais de Salésia, tratando de costumeiros assuntos que ambos trabalhavam até chegar a hora do almoço do meio dia. Entretanto nesse meio tempo, ele viu a noiva a sair acompanhada de sua filha Oceanira e os quatros filhos – dois de Jubal e dois de Artemio – tornaram a brincar de coisas que Jubal nem sabia. Todos os quatro filhos de Artemio e de Jubal buscaram a rua de baixo onde era tudo mais sossegado e ainda foram ao sitio de feno que Jubal era o dono. De ida e de volta, os garotos passaram pela feira e não ficaram sossegados enquanto seus pais não deram dinheiro para comprar brinquedos feitos de barro. Cavalinhos eram os preferidos.
--- Esses meninos são fogo! – disse certa vez Suzana ao passar entre os dois homens que estavam a conversar.
--- Isso é de menino mesmo. – respondeu Artêmio.
Logo Jubal perguntou por uma moça que esteve ali a curar doenças apenas com o ver os seus pacientes.
--- Osita? Esta durou pouco tempo. Questão de um mês. Dizem que ela foi vista em um Solar que fica do alto pelos lados da praia do Meio. – confessou Artêmio.
--- Onde fica esse tal Solar? – indagou Jubal, curioso.
--- Não sei. Quem sabe disso é Nunes que vive escrevendo jornal. – falou Artêmio
Nesse momento vinha chegando dona Joana a mulher de Nunes, que ouviu parte da conversa e malhou com os dois homens.
--- Estão falando da vida alheia! – perguntou a mulher querendo passar carão nos dois homens que caíram na risada.
Durante a tarde, a família foi, todos juntos, meninos, moços, meninas, a noiva, o noivo e seus pais, assistir a um filme no cinema da Cidade. Esse era o costume tradicional das nobres famílias do lugar.

sábado, 24 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 24 -

- MEIAS DE SEDA -
- 24 -
Eram passados alguns meses quando, pela manhã logo cedo, vinha pela calçada do Royal Cinema a senhora Doca em direção do Mercado Publico da Cidade. Com certeza vinha ela de algum trabalho ocasional ou de fazer compras de certas mercadorias ou de qualquer coisa que não se sabia então. Na hora em que a mulher vinha pela calçada eis que surge do Café existente na Rua Vigário Bartolomeu, frente com um campo desocupado que servia apenas para amarrar cavalos e jumentos, a figura de Inaldo, ex-amante da filha de Dona Doca, a moça de mais de 20 anos que se chamava Zilene. A mulher topou com Inaldo frente a frente, indo pra lá e pra cá sem conseguir se definir qual o percurso tomar. Naquela confusão de sai não sai à mulher olhou para a cara de Inaldo, pois vinha de cabeça baixa. Quando olhou para o rapaz a sua cara de sorriso mudou e nem desculpas pediu. Foi uma cara feia de horror e revolta que traduzia uma porção de ocorrência que dona Doca teria a dizer ao seu ex-genro ou quase genro, pois ele nunca casara com Zilene e a tinha abandonado desde que certa vez a entrou no Solar de Alba com um amante ao que parece improvisado. E naquela ocasião Inaldo ainda deu umas tapas na moça e saiu ligeiro indo até o sitio de Jubal para rogar proteção, pois se sentira desamparado por parte da então chamada meretriz. Com olhar seco da mulher, Inaldo traduziu o que havia para dona Doca dizer de uma só vez.
--- Onde está minha filha? O que você fez com ela? – isso e mais coisas para recitar.
Mas a mulher não disse nada. Apenas pulou da calçada para o meio da rua e saiu brava igual a uma taturana, pois em seu olhar pairava um fogo cruel. Inaldo até que não deu importância ao desencontro tendo feito um sorriso com o desespero da mulher, cuja sandália se quebrou ao tentar fugir de rua a fora. Dava para sorrir a desesperação de dona Doca. Por certo que dava. Inaldo então se lembrou de Zilene e o que ela estava a fazer, se estivesse no mesmo local que a deixou, o Solar de Alba, onde mulheres prostitutas eram coisas que não faltavam. De imediato pensou em voltar naquele local pela noite. Se conseguisse Zilene, cuidaria com melhor afeto, pois o rapaz ainda sentia um doce carinho pela mulher amada. Ele apenas pensou e apesar do desassossego de dona Doca em calçar a sandália que não mais servia, caminhando com uma perna só, Inaldo saiu para a sua repartição onde o trabalho tinha tempo para começar.
No mesmo dia para além das 9 horas da manhã, Inaldo estava sem cisma a dedilhar compenetrado em sua máquina de escrever quando, de repente surgiu no seu birô a figura enigmática do jovem rapaz que todos o chamavam de “Lunático”, pois seu nome era incerto. Talvez João, talvez José ou qualquer nome assim. Lunático chegou ao birô de Inaldo e deu três pancadas com o dedo e esse se virou e viu o rosto do rapaz. De surpresa tornou-se conversa diante de alguns funcionários que julgavam o rapaz de pleno louco. Conversaram um pouco sobre a gema do ovo e sorrisos francos eram ouvidos por todos os que estavam no ambiente apenas cochichado palavras que nem se sabia dizer. O Lunático se sentou em uma cadeira de palha junto a Inaldo e disse que estava naquele recinto porque viera falar com o prefeito. Porém não o encontrou. Pelo que soube o Prefeito estava em viagem. O Lunático vinha trazer para a Prefeitura um projeto que daria sentido a administração. Apesar de lhe chamarem de louco, ele um rapaz de inteligência invulgar. Porem, não estava o Prefeito e ele não abrira a boca para dizer o que tinha em mente. A conversa girou nesse tópico. Quando o rapaz saiu eis que Inaldo se lembrou de uma pergunta que já deveria ter feito há mais tempo ao rapaz. Então saiu de sua mesa de trabalho deixando os papeis a voar para todos os sentidos e ainda assim encontrou Lunático na calçada em frente a sua repartição de trabalho. Logo ao sair Inaldo chamou pelo rapaz, com certeza sem citar o seu nome. Apenas o chamou. O Lunático parou por instantes e perguntou se era com ele.
--- É você. Diga-me o seu nome. – perguntou Inaldo mostrando um sorriso.
--- Como você me conhece? – indagou o Lunático.
--- Eu conheço pelo apelido. Mas preciso saber o seu nome. – respondeu Inaldo.
--- Nome? Que importa? Qualquer nome. – respondeu Lunático.
--- Deixa de brincadeira. Você tem um nome. Eu não sei qual seja. Porém é bom saber para se poder conversar melhor e eu tenho algo a lhe perguntar. – falou Inaldo
--- Mauricio. É esse o meu nome. – respondeu o Lunático.
--- Mauricio? Viva? Eu sabia que você tinha um nome. Viva – gritou alegre Inaldo.
--- Que você quer saber? – perguntou Mauricio, o Lunático.
--- A cobra! – perguntou Inaldo se desfazendo do riso.
--- Cobra? Que cobra? – perguntou Maurício.
--- A serpente. Cobra. A que tentou Eva. – respondeu Inaldo.
--- Ah, sim. Podemos conversar aonde? – perguntou Mauricio.
-- Podemos ir ao Café da Bartolomeu. – citou Inaldo.
--- Pois vamos. Você vera como era a serpente. – disse Maurício a Inaldo.
E os dois seguram direto para o Café da mulher evangélica. Entre pedidos de café pequeno e outras coisas para se comer com café, a mulher trazendo e pondo da mesa então a conversa seguiu. Mauricio fez ver a Inaldo que não havia serpente alguma na literatura bíblica. Isso porque a Bíblia tinha começado a se escrever 400 anos antes de Cristo nascer. E foram 40 anciãos que escreveram a Bíblia. Que os cérebros da Bíblia, como Davi, tinham sido degolados. Que Moises era um Príncipe dos Sumérios. E que a Bíblia era um conjunto de história e nada foi escrito pela ordem de Deus, pois o Deus que ele já mostrara outra vez, não passava de um ovo ou ovulo. E a serpente criada pela história não passava de mera especulação quimérica para que o povo da idade antiga entendesse melhor. A serpente – falou Mauricio – era a figura do testículo onde estava encoberto o sêmen ou o espermatozóide e o caminho por ele a percorrer até chegar ao útero da mulher onde encontraria a luz. A luz que era o ovulo.
--- Para você se lembrar, o espermatozóide é um pequeno ser. Ele caminhou sem cessar do testículo do homem até chegar ao ovulo. Para ele, tão pequenino, o ovulo era imenso. Ali, o espermatozóide abriu a porta, entrou e trancou para ninguém mais entrar. E ninguém – os seus irmãos – não entrou. O esperma restante fora jogado para fora, ou seja, “desceu ao inferno”. E a serpente, por ter um formato sinuoso era o que melhor representaria o caminho seguindo pelo espermatozóide. Quando a serpente disser a Eva, você deve se lembrar que Eva é igual à vida. Tanto você pode chamar uma pessoa de Eva como pode de vida. E a serpente teria que dizer a vida que tudo ela saberia se comesse um pedaço da maçã. Ora. Um pedaço foi o que ela provou do sêmen. A vida teve somente uma quantidade irrisória para provar. E essa quantidade foi um ser, um espermatozóide. O restante, ela apagou, pôs no “inferno”, na terra. É essa a historia da serpente. Portanto não existe serpente, a não ser o caminho de que se segue do testículo ao óvulo. Dá para entender? – perguntou Mauricio.
--- É danado! E porque não se diz abertamente? – indagou Inaldo pouco cismado.
--- Por quê? Mas a Religião Católica diz isso sempre. Todos os dias. Ela abre os olhos dos seus adeptos. Diz os Judeus também. Agora, se dizer e se entender de fato vai um caminho longo. Não adianta para um Padre dizer que viu Deus com Ele é se ninguém quer acreditar. – respondeu Mauricio.
--- Quer dizer que eu sou culpado em não entender? – perguntou Inaldo estarrecido.
--- Tu dizes! –respondeu Mauricio e acrescentou. – Veja bem. O homem faz de sua vida uma porção de coisas. Quando ele casa, ele quer casa. E uma casa tem uma porta. Quando ele entra em casa, o que faz? O que faz? – perguntou Mauricio.
--- Bem. Eu vou tomar banho. – respondeu Inaldo de forma jocosa.
--- Não senhor. Você fecha a porta. Fecha como fechou ao entrar no ovo que aprontou você para estar falando agora comigo. O banho. O banho vem depois que a sua mãe lhe recebe no ovo. Ai então ela lhe dar o banho. Mas dar mesmo. No ovulo. Quando você nasce, a preocupação primeira que sua mãe tem com você é lhe dar banho. Veja se não é? – indagou Mauricio.
--- Puxa! Eu não tinha nem pensado nisso! – sorriu Inaldo.
--- É isso amigo. Mais alguma coisa em dúvida? – perguntou Mauricio de modo serio.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 23 -

- MEIAS DE SEDA -
- 23 -
Um punhado de gente correu para ver a demonstração do Lunático para se ver Deus numa casca de ovo. Os talhadores de carne diziam até que ele não passava de um louco, mulheres que vinham desviavam de caminho para não passar por perto. Os balaieiros nem olhavam o que se estava fazendo do café, outros fregueses ficaram curiosos para depois mangar do Lunático. Uma azáfama de gente se punha em pé em torno do Café de dona Nazinha. Ao seguir com a sua demonstração o Lunático teve sua vez de sucesso.
--- Olhe bem o que eu faço! – disse o Lunático de olhos bem abertos para Inaldo
E ele partiu a casca do ovo derramando gema e clara em um pires que estava posto para esse fim. A gema ficou toda cheia em meio da clara. Uns assobiavam mangando do Lunático. Outros diziam que era o dia de Nazinha fazer café de graça para todos. Um evangélico viu a demonstração com a cara desfigurava.
--- Você está vendo a gema? – perguntou o Lunático feliz da vida.
--- Estou! – respondeu Inaldo de forma curiosa.
--- Olhe bem. Vê se você enxerga um olho no meio da gema. Enxerga? – perguntou o Lunático sorrindo.
--- Então você está vendo Deus. Sabe por quê? – perguntou o Lunático de forma séria.
--- Não. Por quê? – perguntou Inaldo surpreso.
--- Bem. É o seguinte. Quando a minha mãe “teve” com meu pai... A Bíblia diz sempre “teve”. Não diz de outra forma. ...O anjo “teve” com Maria. É sempre “teve”. Bem, Quando o meu pai “teve” com a minha mãe ele injetou nela, na sua concepção, um punhado de espermatozóide... Cerca de 40 milhões de seres como eu. E eu procurei o óvulo de minha mãe para abrir uma porta e entrar. Então entrei e tranquei a porta. Os que ficaram de fora desceram para o “inferno” que era o útero de minha mãe. Esse se incumbiu de fazer a limpeza. Varrer para baixo, para a terra. Se você já leu as Escrituras tem ali o que Jesus disse: “Muitos serão chamados e poucos os escolhidos”. Ele disse mais: “Pai nosso que estás no Céu”. Queria ele tão somente dizer que eram o espermatozóide, o pai e o óvulo o céu. Para mim, que era pequenino quando cheguei ali, aquilo era o Céu. E veja bem. Eva significa vida. Se eu disser Eva estarei dizendo “vida” como também Adão é apenas “humanidade”. Humanidade – esperma – e Vida – a Eva. É tudo muito simples. Agora, os judeus, os católicos, os evangélicos, os espíritas, os maometanos fazem uma confusão estupenda de que Deus é um ser supremo criador do céu e da terra. Na verdade ele é o criador porque ele me gerou, também gerou as borboletas, as aves, a cobra, o peixe, o elefante e todos os bichos da terra e do mar. Foi tudo gerado dessa forma. Ele é o óvulo, tão somente. É o que gera. É isso que eu tinha a dizer. Entendeu agora? – falou o Lunático sorrindo.
--- Quer dizer que eu sou uma gema? – perguntou Inaldo assustado.
--- Não. Você não é a gema. Você é o espermatozóide que fecundou a gema. É isso que você é. Está vendo agora? – perguntou o Lunático sorrindo.
--- Puta merda. E eu vim de um ovo? – perguntou Inaldo assombrado.
E todos ficaram abismados com as explicações dadas pelo Lunático aquele punhado de gente. Alguns até duvidaram do que ele falou. Outros não deram a menor importância e Jubal só disse apenas isso.
--- É. Tenho que cuidar do meu capim. – falou Jubal e saiu da mesa.
Quando Walquiria foi pedida em casamento por seu patrão, Nestor Rossetti, o seu pai, Osias ficou bastante emocionado com a ação do velho homem. Rossetti era homem dos seus 60 anos, viúvo, pais de um filho e uma filha. O filho era advogado e a filha dona de casa casada também com outro advogado. Nestor Rossetti tinha corpo de gigante, pele alva, cabeça careca, mãos firmes e tudo o mais que um descendente de italiano tem. Walquiria era de pele morena, silhueta bela, altura de 1,60 metros, corpo franzino e nunca namorou na sua vida. Ela vivia de casa para o trabalho. Aos domingos assistia Missa da Catedral com a sua mãe, mulher modesta e dona de casa. O seu pai, antes de negociar o sitio onde ele tirava sustento de sua família, era de média altura. Ao sofrer uma gangrena na perna, ele teve que amputar a parte afetada. Para não dizer que estava passando fome, Jubal arranjou uma carroça puxada por burro mulo e o velho foi cuidar novamente da fazenda de feno. A filha tinha arranjado um trabalho em uma Loja de Fragrância onde aprendeu a fazer perfumes. Encantado com a jovem moça, certa vez o dono, senhor Rossetti a pediu em casamento. Lago depois estava marcado a data de ambos contraírem núpcias. A testemunha de Walquiria foi seu Jubal Valadares, da herança portuguesa. Com relação à outra testemunha de Walquiria ela tomou por certamente gostar bastante, a mulher Zulmira Cardoso moradora próxima a residência de Walquiria que tinha o nome completo de Walquiria Coimbra. Houve o casamento civil e religioso e a noiva dessa forma passou a ser chamada de Walquiria Coimbra Rossetti.
Na festa do casamento o noivo alugou um recinto no Grande Hotel onde receberia os convidados e amigos do noive e da noiva. A festa começou às nove horas da noite de uma sexta-feira onde todos os presentes vestiam as mais ricas e nobres vestes que lhe aprouvesse. No elegante salão de baile do Grande Hotel, um eximiu pianista arranjou a cerimônia com toques de tarantela e música clássica como suíte e para completar, a meia-noite a valsa nupcial de Mendelssohn. Entre os elegantes da noite estavam Jubal Valadares e sua filha Oceanira, moçinha de quase 15 anos de idade. Entre os acordes do piano todos ou quase todos dançaram as canções e suítes. Jubal, para essa festa, alugou um vestuário para si e para a sua filha dando-lhes uma elegância sobremaneira com requintes de homem nobre e de filha dileta. O pai da jovem Walquiria Rossetti estava sentado em uma cadeira de rodas que para se deslocar tinha a ajuda de um rapaz dos seus 19 anos trajando roupas a contento. Aquele foi o casamento do ano para o gerente do Hotel, pois ninguém havia se casado assim do salão daquele flat. Em determinado momento, Jubal notou a presença de sua amiga, a já nem tão pequena Salésia, de vestimenta elegante, sua mãe, pai e tia com o seu respectivo esposo. Há algum tempo, Joana contraíra matrimonio com o jornalista Pedro Nunes em uma festa simples para a qual Jubal foi convidado e não pode comparecer. Tão logo ele observou o pessoal se apressou em cumprimentar a todos mostrando sua filha mais velha e tecendo significativas homenagens a moça Salésia que para si já era uma verdadeira senhorita. A garota se apressou em agradecer os cumprimentos recebidos e enaltecer a elegância que o homem lhe depositara.
E dirigindo-se a filha do homem procurou conquistar a sua simpatia e a lhe chamar para ir tomar algo refrescante que devia haver no bar do Grande Hotel. A moça Oceanira não se fez de rogada e atendendo a atenção do seu pai, Jubal, fez do convite uma esmerada emoção por ter encontrado alguém de sua idade que devia já tê-la conhecido porque o seu pai falara muito a ela ao seu respeito. Saíram as duas a conversar fruticas e a sorrir de tudo. As duas mocinhas arranjaram do que tratar e se aproximaram de outras mocinhas conhecidas de Salésia combinando uma saída para lugares mais amplos e de melhor aconchego. Enquanto as horas passavam, as jovens tagarelavam sobre namoro entre coisas próprias de gênero, até mesmo de filmes que passavam no majestoso cinema da cidade. Quando a Marcha Nupcial começou a tocar as mocinhas nem estavam na metade dos seus segredinhos a contar.
No dia seguinte, Jubal se preparava para sair logo cedo do dia quando Oceanira lhe chamou enquanto todos dormiam. Ela queria passar o dia na casa de Salésia, porque foi convidada. O seu pai refletiu um pouco e depois disse que concordava desde que ela voltasse com ele ao final da tarde. O acerto foi feito e Oceanira ficou de sair às oito horas da manhã quando o seu pai viesse lhe buscar. Assim combinado, assim foi feito. O homem foi até o Café de Nazinha onde pôs conversa fora dando um tempo a chegar o horário combinado para levar sua filha à casa de Salésia. Foi um dia maravilhoso para as duas mocinhas, onde passearam, Oceanira viu de perto a Estrada de Ferro e depois fizeram uma visita ao pai da jovem onde as duas chuparam cana, tiraram manga do pé e chegaram até a andar de cavalo, coisa que Salésia nunca tinha feito. Para um maior cuidado, Jubal não permitiu que elas andassem pela linha do trem, pois era arriscado. Em um campo, passando de um lado para o outro, onde também Jubal era dono, as mocinhas fizeram de gato sapato. Era uma amizade que se consolidava. Quando a tardinha chegou era a hora da partida da casa de Salésia. Jubal escorou o cavalo na calçada da moradia e colocou no alto a sua filha Oceanira.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 22 -

- MEIAS DE SEDA -
- 22 -
Inaldo, como se fosse um desprezado da sorte, chorava igual a um bebê, de forma lenta e quase morta. Não se ouvia pranto tão vulnerável e dolente como aquele que o homem deixava a escorrer pelos seus sentimentos perdidos. De cabeça abaixada, olho delido tinha em sua calvície de um rapaz tão jovem qualquer coisa que buscava a proteção de alguém amigo. Seus trajes limpos e não tão rotos jamais diziam que ele bebera a noite toda com se fosse um ébrio esquecido do voraz tempo. Em meio de todo aquele sofrimento, Inaldo se agachou para ficar de cócoras e com a mão a lhe encobrir a face, ele com augusta certeza chorava lágrimas de dor. Soluços e prantos doridos mais pareciam alguém a carpir solitária a sua dor imensa de um sofredor sem ter final. Aquelas lágrimas enterneceram o coração de Jubal que a seguir pediu-lhe que se levantasse, pois não havia de ser daquela forma que tudo se resolveria.
Atendendo ao amigo, com pouco de tempo a mais Inaldo se soergueu para se debruçar no ombro do seu velho amigo. E então voltou a chorar a desventura amarga que lhe fazia sofrer. Com uma paciência incomum Jubal veio a lhe perguntar o que com certeza estava a fazer sofrer. Sem outros meios de guardar o silencio, Inaldo tornou a falar de uma mulher que a ele abandonara.
--- Quem foi essa mulher? – perguntou com a calma de um profeta.
--- Foi ela. Somente ela. Você sabe quem é. Foi ela. – respondeu Inaldo a chorar de vez.
E Jubal demorou um pouco a meditar quem poderia ser a mulher que fizera de Inaldo o trapo de gente. Se fora Zilene, Jubal temia em perguntar. A amizade entre os dois era por demais antigas. Mesmo assim, Jubal aventurou perguntar pelo nome:
--- Zilene? – perguntou Jubal temendo qualquer reação da parte de Inaldo.
--- Ela mesma, irmão. Foi ela. Eu estava vivendo com essa mulher há cerca de dois meses e era tudo muito bem, parecia. No começo fui morar em casa dela. Depois aluguei um quartinho num baixio que tem perto do hospital. Era um quarto simples. Cama, camiseiro, mesa, três cadeiras. Tudo muito simples. Eu trabalhava na Prefeitura como ainda trabalho. Tinha um expediente vago. Consegui uma colocação de meio dia em um jornal. Assim levava a vida. Eu sempre gostei de beber. Isso, à noite nos finais de semana. Quase sempre nos finais de semana. Nos domingos eu costumo ir a praia. Tomo meu banho e umas cervejas, quando posso. Se não, cachaça pura. Bem. Ontem eu fiz o mesmo roteiro. Quando voltei para o quarto, nem alma limpa. Eu pensei que Zilene tivesse ido a casa da sua mãe.Passou-se o tempo. Isso era normal, pois dona Doca faz vendagem para o café que ela tem no Mercado. Então, eu resolvi ir à casa dela. Ao chegar, dona Doca me disse que ela não tinha aparecido em casa. Eu pensei na casa de amigas. Sai ao leu e entrei no Lupanar de Alba, um que tem na Ribeira. Eu acho que você sabe quem é. – falou Inaldo.
E Jubal respondeu que não sabia quem era essa tal de Alba. Então Inaldo continuou, olhando a fisionomia de Jubal que estava atento ao assunto, agarrando-se a cancela do sitio a todo tempo.
--- Bem. Você não conhece. Tudo bem. Eu entrei no local e diga quem vi? Zilene nos braços de outro rapaz. Um rapaz bem moço até. Eu cheguei até Zilene e indaguei por meio de segurança.
--- Vejo que estás ocupada. Tem outra mulher no recinto? – perguntei a Zilene. Ela se assombrou com o que viu. Eu indagando a ela. Zilene deixou o rapaz e saiu correndo. Eu a peguei na rua e dei-lhes uns bofetes. Ela gritou, mas foi só isso. Eu saí, bebendo nos botecos do beco e agora estou aqui para você me dizer o que fazer.
Jubal nem ficou surpreso com a vida de Zilene. Apenas disse o rapaz.
--- Deixe-a. Parta para outra. Ela não serve para ninguém. Deixe-a. – disse Jubal com tranqüilidade.
Inaldo olhou para Jubal, tremendo as pernas e se fez de forte dizendo.
--- Tem razão amigo. Ela não me deixou. Eu a deixei. Agora vou procurar alguém que não seja meretriz. – respondeu Inaldo amenizado com o conselho de Jubal.
Ainda assim, Inaldo tremia todo por efeito da bebida e por causa da mulher. Jubal destrancou o cadeado da porteira e entrou levando seu amigo que tentava se aprumar a todo custo. Jubal conversava com ele pedindo que tivesse calma. Nenhuma meretriz valia tanto como se pensava, era o que afirmava Jubal ao amigo. Inaldo ouviu tudo o que o homem dizia e nada respondeu. Chegou ele ao alpendre, entrou mo casebre de taipa, bebeu um pouco de água, voltou para o alpendre, olhou o capinzal, os dois cavalos, as mangueiras e também o banco tosco. Ele foi para o banco e se deitou. Por lá pegou no sono até o entardecer. Nesse dia não teve repartição e nem jornal. Quando Inaldo voltou a realidade perguntou a Jubal.
--- O que faço agora? – perguntou Inaldo a Jubal.
--- Nada. Tens roupas? –perguntou Jubal a Inaldo.
--- Estão tudo no quarto. – respondeu Inaldo maltratado pela vida.
--- Pegue a roupa e venha dormir aqui ou na sua casa. A casa de mãe sempre tem um lugar para um filho errante. – falou Jubal de forma alegre e bem humorada.
--- É verdade. Vou para casa. Sempre há lugar para ficar. – articulou Inaldo com a cabeça ainda zonza.
--- Perdesse o dia, mas ganhasse a vida. Siga em frente. – falou Jubal.
E os dois companheiros seguiram em frente marchando para o centro da cidade. A certa altura, Inaldo pensou e disse algo que trancava a garganta.
--- Não vou beber mais. Nunca mais. Eu não bebo nunca mais. – disse Inaldo resoluto.
--- Isso camarada. Assim é que se fala! Você não bebe nunca mais. – respondeu o mestre ao sábio companheiro.
Ao chegar ao centro da cidade, Inaldo apanhou o Bonde que levava para o Alecrim e se despediu do velho amigo Jubal que continuou o seu caminhar.
No dia seguinte, Inaldo encontrou Jubal no café de Nazinha, logo cedo da manhã e ali os dois trocaram conversa bebendo café, comendo cuscuz, tapioca e mungunzá sem que Inaldo voltasse a vista para o Café de dona Doca. Aquele jornal não leria jamais. Então, ali começava um novo tempo. Após a conversa eis que apareceu no meio o jovem rapaz que todos chamavam “Lunático” ou “Louco”. O rapaz pediu café com tapioca e Inaldo voltou-se para ele a perguntar:
--- Deus existe? – indagou Inaldo ao rapaz.
--- Existe sim. Eu o vejo sempre. – respondeu o Lunático.
--- Como você vê Deus? – perguntou novamente Inaldo.
--- Peça um ovo cru, por favor. Peça. Eu pago. – respondeu o Lunático.
--- Um ovo cru, dona Nazinha. – se dirigiu Inaldo a mulher do café.
A mulher do café trouxe um ovo cru, inteiro, com casa e tudo e deu a Inaldo dizendo.
--- Vai pagar, viu? – falou Nazinha para Inaldo.
--- Deixe comigo. – respondeu Lunático e pediu um pires.
A mulher trouxe um pires e depositou na mesa.
--- Pronto o pires. – respondeu a mulher com a cara azeda.
--- Obrigado. – respondeu o Lunático.
--- Que vai fazer com o pires? – perguntou Inaldo ao Lunático.
--- Espere. Não se apresse. Vamos ver Deus. – respondeu o Lunático sorrindo.
--- É melhor pagar logo o ovo se não vai melar tudo. – responde Dona Nazinha o seu vai e vem pelo café do Mercado.
--- Espere! Eu pago! Veja o dinheiro, - e o Lunático puxou uma nota e pagou o ovo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 21 -

- MEIAS DE SEDA -
- 21 -
O Jornal da Cidade informou certo. Naquele ano de paz presidente da República do Brasil, marechal Gaspar Dutra esteve da cidade em companhia da Primeira Dama Carmela Teles para acompanhar o Governador, José Augusto Varela e a Primeira Dama do Estado em uma série de eventos que o seu Governo inaugurava na capital. A programação foi extensa, mas o principal evento foi na Praça do Governador onde houve a palavras de vários oradores, terminando com a do Presidente Dutra. Por fim, foi feita a distribuição de brindes a garotada que se satisfez com aqueles parcos brindes; um carrinho de madeira como um carro de conduzir água, uma corneta, uma bonecas, tudo o que satisfizesse as crianças da cidade. Seu Jubal esteve a olhar de fato a cerimônia. Ele montado em seu cavalo de nome Pintado debaixo de uns pés de fícus do lado oposto da aglomeração de pessoas que foram participar da solene cerimônia de discursos ouviu todos os que falaram. Em seguida, cuspindo de lado, Jubal partiu para o sitio do capinzal. Na ocasião, ele se lembrou o amigo Osias que havia perdido a perna. Deu a gangrena e por isso, os médicos tiveram que tomar tal decisão. O homem estava nessa época em sua casa. Com o passar do tempo, Osias passou a usar muletas para poder andar. O sonho que estava a nutrir de comprar uma fazenda no interior foi por água a baixo. Toda a sua economia escorreu pelo ralo. Ao passar do tempo, Osias se sustentou com um emprego da filha Walquiria e dos arranjos que o seu amigo Jubal lhe arranjara. Para não dizer que estava dando esmola, Jubal arranjou uma carroça puxada por um burro mulo e Osias foi tomar conta do sitio que um dia fora dele. Acabrunhado com a desgraça, Osias aceitou a oferta dada por Jubal. Aqueles foram tempos difíceis para o jovem velho Osias. Com o pessoal que o conhecia ele parecia não falar no assunto. Quem perguntasse se ele comprou de novo o sitio, respondia então que Jubal estava fazendo negócio. Com isso, nunca ninguém soube na verdade que Osias vivia da caridade do amigo.
Walquiria trabalhava em uma fabrica de essências onde preparava perfumes dos mais variados tipos e vendia além dos perfumes, vaselinas e óleos de cheiro natural para quem quisesse passar no cabelo. Havia bastantes compradores dessas mercadorias que saiam a vender pela cidade, principalmente nos bairros pobres. A perfumaria era do senhor Nestor Rossetti, viúvo, pai de um casal de filhos. Ela atendia a freguesia e Walquiria enchia os frascos de perfumes. Tinha um mais barato que parecia tirado de um de uma ampola de injeção de um odontologista ou de ampola de clorofórmio que Walquiria enchia e tapava com uma borracha. Esse perfume era para se usar uma única vez, por ser tão pouco e tinha uma saída imensa. O pessoal que vendia de porta em porta levava dúzias de perfumes desse estilo. Se alguém pedisse uma essência de um perfume mais ao custo, Nestor Rossetti também atendia ao freguês porque perfumes ele sabia de quais essências eram feitos. De Royal Briat a o tal Madeira do Oriente era tudo a mesma coisa para ser feito. Nestor Rossetti pegava a fórmula e mandava Walquiria encher, não raro, um litro do perfume de que o freguês solicitava. Foi assim que Walquiria aprendeu os segredos dos perfumes.
A freguesia da Loja de Fragrância era intensa todos os dias da semana inclusive aos sábados pela manhã porque o comercio não abria à tarde nesses dias. E era a atender seu Rossetti no balcão e Walquiria no laboratório. Os barris de essência vinham do sul do País e alguns do exterior, inclusive de países do Oriente Médio, pois dali advinha as mais suaves fragrâncias tiradas de madeiras orientais. Com esse requinte de sábia moça Walquiria se eternizou perante o velho Rossetti até um dia que ele pediu ao pai sua mão em casamento. Walquiria, com o tempo, casou com o velho Rossetti e passou a viver em casa largando o serviço de auxiliar de perfumaria. Mesmo assim, sempre quando era preciso, a mulher estava na frente dos negócios, uma vez que o velho Rossetti andava muito cansado. O seu pai, Osias, continuava a trabalhar no sítio de feno fazendo o serviço que aprendeu. Somente com uma perna e trabalhando para Jubal, ele nunca deixou o serviço.
Certa vez, em uma segunda-feira, Suzana, sem companhia da sua filha Salésia, desceu até a Feira do Paço. Com um saco de pano por entre o braço ela foi comprar frutas, verduras e carne seca, pois a carne verde ela comprava no Mercado da Cidade. Suzana esperou que o trem passasse com destino à Tração, pois o carro e os vagões já haviam chegado de pouco tempo das cidades do interior. De imediato, tendo o campo livre ela atravessou as duas linhas que existiam no local. Suzana estava a escolher as frutas quando Jubal se aproximou da mulher e soltou uma brincadeira. A mulher tomou um susto e quase que deixa cair às frutas no chão. Para amenizar o susto Jubal lhe disse:
--- Teve medo? – sorriu o homem com paciência.
--- Demais! – sorrio a mulher se recompondo.
--- Onde está Salésia? – perguntou Jubal para deixar tudo a vontade.
--- Ela? Foi à escola. Estou livre por esses dias e meses! – sorrio Suzana.
--- É bom saber que ela se dedica ao estudo! – recomendou Jubal de modo tranqüilo
--- Ela é estudiosa. Em penso que vou até mudar de estabelecimento no próximo ano. – destacou Suzana olhando então para o homem.
--- Isso é bom. A minha filha mais velha termina esse ano. E a menor, no ano que vem. - respondeu Jubal com tranqüilidade.
--- E o senhor? – perguntou Suzana de forma sutil.
--- Que tenho eu? – perguntou Jubal.
--- Não se casou mais? – indagou Suzana de forma maliciosa.
--- Não penso nisso. Para mim só existe apenas um grande amor e uma vez na vida. – respondeu Jubal delicadamente.
--- É interessante como o senhor pensa. Tem gente de casa e descasa para casar de novo e descasar depois. É só o que se escuta. – falou Suzana de olhos fitos em Jubal
--- É. Deve ter mesmo. Mas não me apetece. Minha mulher foi à única até hoje. – falou o homem.
--- Nem um caso? – indagou Suzana mais uma vez.
--- Não existem casos. Existe atrapalho de vida. – respondeu Jubal.
--- É. O senhor tem razão. Eu tive um e vou continuar assim. – confessou Suzana.
--- Isso é bom. Agora eu vou partir. Vou cumprir com o meu dever. – respondeu Jubal
--- Ah Isso é bom. Depois apareço por lá. – respondeu a mulher.
--- Apareça. Apareça. E leve Salésia! – falou Jubal de imediato.
--- Vejo que o senhor é louco por Salésia. – respondeu Suzana
--- Ela é uma boa menina. Eu ainda estou pensando no aniversario dela. Ela me convidou e eu não pude ir. Não me esqueço da data. Dia 26 de abril. – decifrou Jubal
--- Nossa! Que memória. Eu vou dizer o que o senhor me disse. Ela vai ficar louca por não ter vindo hoje comigo. Minha Nossa Senhora! – argumentou Suzana.
Daí Jubal saiu para o sitio onde ele mantinha a sua família sem contar com o percentual que tirava do outro sito que pertenceu a Osias. Mesmo assim portando a sua deficiência o homem, Osias tomava conta tiragem do feno e do pagamento dos fregueses prestando parte do lucro para Jubal todos os finais de semana. Para Jubal aquilo era por suma procedência, pois não tinha que se incomodar diretamente com o segundo sítio. E assim foi seguindo para o seu primeiro sítio onde poria as coisas em ordem, certamente. No instante em chegou ao cercado encontrou na porteira o seu com o amigo Inaldo que parecia chorar amargamente. Isso o surpreendeu de modo com tamanho choro do rapaz. Inaldo era um homem sorridente, galhofava com todos os demais, residia de bar em bar quando não era hora de trabalho, não se envolvia em balburdia e naquele instante era um homem desprezível. Tinha bebido, sim. Mas era por isso que Inaldo chorava. Talvez algo um pouco mais grave. Era um enigma para Jubal o que tinha acontecido a Inaldo. Ao chegar na porteira do cercado cumprimentou o velho amigo e este respondeu:
--- Ajude-me, por favor. Ajude-me. – rogou Inaldo entre lágrimas.
--- Que aconteceu amigo? – indagou Jubal de forma paciente.

terça-feira, 20 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 20

- MEIAS DE SEDA -
- 20 -
Quando a hora passava Suzana viu que era tempo de sair e partir para com sua malhada de filhos e também a irmã Joana. O sol estava esquentando e a cada passo mais gente chegava aquele recanto afrodisíaco que era a praia do Meio. Meninos jogando bola, meninas pegando tica, mulheres alvoroçadas e os pescadores viajando com suas redes de pesca depois de um proveitoso lance de arrasto e mais um punhado de peixe atum que o Lunático havia dito. Com os botecos das casas plantadas bem próximo a beira mar, onde despachavam gêneros alimentícios para os pescadores e também a cachaça, o querosene de lampião, registrando um bom movimento Suzana resolveu partir em direção ao terminal de Bonde na altura da via que estava ao largo tendo o seu final naquele canto. Ao subir a ladeira de pedra, passou por uma casa quase enterrada na sua parte de trás pelo morro que descia. Ela falou para irmão que ali morava um homem da alfândega:
--- Olhe os meninos dele. A mulher também mora aí. Dizem que ele veio para cá pra se tratar de uma doença. – relatou a mulher.
--- Foi mesmo? Qual doença? – perguntou Joana curiosa.
--- Tísico. – falou Suzana a sua irmã.
Nesta hora os garotos já subiam à ladeira vizinha a estrada de pedra da praia numa correria desenfreada. A mulher gritava para as crianças deter, pois de um lado tinha um barranco que os meninos poderiam cair. Após tanto gritar por esperar, a menina Salésia estancou por pouco e olhou para a sua dileta mãe que vinha subindo morta de cansada sem nem mais forças para abrandar com ela naquela subida íngreme. A mulher dizia apenas.
--- Se não parar vão ficar de castigo! – falava Suzana para a sua filharada composta de dois garotos e uma menina.
No fim da subida tinha uns degraus feitos de cimento e areia, compactos, que dava para a descida da praia por onde jogava a água da chuva quando esta acontecia. Logo após tinha uma mureta sustentada por pilares pequenos e os postes maiores com as suas luminárias, quase todas despedaçadas pelo vandalismo. E ela sempre dizia ao ver tal destruição da coisa pública feita pelos anarquistas pequenos.
--- Que horror! Aqui não se presta nem para colocar luminárias! – soletrava Suzana.
Por dentro da mureta de cimento tinham os tanques da Companhia de Água e Esgotos. O depósito servia atrás de seus tanques imensos, para abastecer as casas que ficava ao largo do bairro onde as construções mais nobres começavam a despontar. Na esquina do lado esquerdo da rua ficava uma pensão de mulheres de vida livre, em um elevado formado pelo morro que cobria vasta extensão do Juruá. Suzana, a irmã Joana e os garotos subiram no Bonde quando esse chegou e partiriam para o Centro da cidade. A menina Salésia, ao sacolejar do Bonde, caiu no sono no colo de sua mãe, sentada de um lado e dormindo com a sua cabecinha colada as pernas da mulher. Quando, depois de longo tempo, o Bonde fez a curva na Praça do Governo, a menina acordou pelos gritos do seu irmão Ênio ao dizer que se estava chegando à praça. Ali havia balanços, gangorras, trapézios, escorregos e muitos outros entretenimentos para meninos e jovens. As mães cuidavam dos seus rebentos para evitar a ocorrência inesperada de algum acidente. O parque só funcionava a tarde apesar de ter os afoitos que pulavam a cerca onde o parque estava e faziam suas proezas no balanço enquanto não chegava o guarda da praça e punha todos para fora. Na praça mesmo, tinhas belos pés de fícus cortados de forma jeitosa que dava majestosos aspectos de coelhos, cuscuz e tronos onde se tirava retrato de recordação. Na Praça do Governo também havia quatro tanques de água de forma retangular feitos de cimento, grandes e fundos, onde se conservavam tartarugas para quem a garotada jogava pipocas. No meio da Praça tinha um correto e no seu final, um bar em forma de um avião de assas abertas. Naquele local se vendia bebidas, comidas e, para a criançada, sorvetes e guaranás. O bar era pouco freqüentado a não ser pelos habituais beberrões dos fins de tarde.
Os meninos ficaram alegres de poderem ver todo aquele recinto ao qual lhes parecia atrativo de se notar as ocorrências magistrais de suas poucas idades. Cada qual que puxasse o saco de sua mãe para que os levasse à tarde ao parque de diversões.
--- Vamos mãe. De tarde! – dizia meio chorosa Salésia.
--- Vamos ver. Vamos ver. – respondia Suzana.
No Jornal da Cidade que um homem lia naquela ocasião, tinha a noticia de que o Presidente da Republica e sua mulher, mais o Governador do Estado e a Primeira Dama tinha reservado um dia para vir à cidade. Foi isso que Joana conseguiu ler, pois o homem dobrou o jornal em seguida. Desse modo, Joana puxou a manga da blusa da irmã e disse o que tinha lido rapidamente em um jornal que o velho homem levava. Não diria mais alguma coisa porque não dera tempo de ler o que estava impresso, pois o homem guardara o jornal. Suzana ficou curiosa em saber os detalhes da visita de Presidente aquela altura dos acontecimentos. Um Presidente do Brasil era coisa rara de visitar a cidade. Ela se lembrava de um, apenas, que veio assinar um protocolo com o Presidente dos Estados Unidos a bordo de um navio no estuário do rio e nada mais.
Ainda na manhã daquele sábado, Jubal esteve na casa do seu velho amigo Osias de quem comprou o seu sítio de plantação de capim. Ao chegar à casa de Osias notou grande presença de gente a procura de saber mais algum detalhe sobre a vida do homem que, ao que parecia estaria hospitalizado outra vez. Surpreso com tal fato, Jubal procurou entrar na sala de visita e saber também algo que estaria a acontecer. Jubal procurou a mulher de Osias e ela não estava em sua casa. Somente a moça, Walquiria, filha de Osias era quem por ultimo estava presente. Depois de um sufoco medonho ele chegou até Walquiria e perguntou por Osias, primeiramente. A moça respondeu que ele tinha baixado o hospital. Estranhando o porquê do motivo Jubal voltou a indagar a razão.
--- O seu pé estava inchado e muito quente. O enfermeiro achou até que estava arroxeado. E preferiu o deslocar na noite passada direto para o hospital. –respondeu a moça com lágrimas nos olhos.
--- Estava roxo? – perguntou Jubal inteiramente surpreso.
--- É. Roxo muito. Até a perna. – falou a moça um pouco chorosa.
--- Minha Nossa. Ele estava tão bem! E agora vem essa! – respondeu Jubal assustado.
--- É. Só Deus agora. – caiu no choro a moça.
Após alguns instantes Jubal falou à moça que estava indo naquele instante ao hospital para saber detalhes da enfermidade. E se continuaria Osias internado e por quanto tempo era de se esperar uma resposta. E respondeu a Walquiria:
--- Não se assuste. Reze. Mais tarde eu volto. Eu ou sua mãe. Espere! – recomendou Jubal como forma de tranqüilizar a moça.
A moça soluçou e entrou. Jubal montou o seu cavalo “Pintado” e rumou direto para o Hospital a procura de informação de Osias. No caminho que fez ele deduziu que Osias não estava mais bebendo e nem fumava. Mulheres da rua, as damas ele não sabia se Osias andava. Mesmo assim, isso não fazia efeito. Jubal se lembrou do sitio. Ele deveria por de imediato em seu nome, vez que a Prefeitura cobrava impostos pelo uso da terra e até aquele tempo Jubal não tinha legalizado a certidão de compra e venda.
--- Ora merda! Por que eu vou pensar nessa história? O homem está doente. Pé inchado e eu pensando em um punhado de terra? – argumentou Jubal em seu pensar.
Após um bom percurso da casa de Osias até o Hospital, mesmo montando o seu cavalo Jubal chegou à casa de saúde onde procurou saber do estado de saúde de um enfermo de nome Osias que dera entrada na noite que passou. A moça que o atendeu pediu para que Jubal esperasse um pouco, pois estaria a ver o quadro de convalescência dos novos pacientes. O homem concordou com tal decisão. Após algum tempo a moça retornou ao trabalho e disse que o paciente estava na sala de cirurgia.
--- Cirurgia! Cirurgia! – indagou Jubal a moça com muita apreensão.
--- Sim senhor. É onde ele está! – retrucou a moça do hospital.
--- Agora é que são elas! Mas cirurgia? – indagou por outra vez Jubal sem acreditar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 19 -

- MEIAS DE SEDA -
- 19 -
No sábado pela manhã, coisa de 8 horas, Suzana, sua irmã Joana e os seus filhos Salésia, Ênio e Euclides foram à praia do Meio. Para tanto embarcaram no bonde que fazia a linha e foram aproveitar a delícia de um sol ameno e quase quente àquela hora da manhã. Solavancos de lado, as duas mulheres olhavam as casas que já estavam construídas em cima do morro por onde o Bonde passava até chegar ao seu terminal em um ponto onde já começava a descida da ladeira de pedras de praia. O Bonde ao passar pela frente onde houve um crime de morte praticado por uma empregada da casa, que assassinou a pauladas a noiva do rapaz dono da habitação e a sua tia, enterrando em um buraco em baixo de um cajueiro Suzana olhou e disse a sua irmã.
--- Foi aqui! – falou Suzana apontando a casa.
--- Sim. A mulher pegou trinta anos de cadeia. – comentou Joana.
--- Vamos ver se tira esse tempo. – argumentou Suzana meio negativa.
--- Aqui o que, mãe? – perguntou Salésia a sua mãe Suzana.
--- Nada, filha. Um caso que aconteceu há muito tempo. – respondeu Suzana querendo desconversar.
--- Eu já era nascida nesse “caso”? – voltou a perguntar Salésia.
--- Sim. Você tinha um ano. Tá bom. Já contei de mais. Vamos saltar para ir à praia que é o melhor que se faz. – disse Suzana aos meninos vez que o Bonde chegara ao fim da linha. O motorneiro tinha mudado de cabine e o cobrador estava a colocar a lança de como que vinha ao contrario para o bonde seguir adiante.
A garotada desceu a ladeira calçada de pedra de praia em desembestada correria aos gritos de sua mãe para que parassem, pois do contrario cairiam no barranco que estava a esquerda de quem descesse. E a garotada nem ligava correndo de qualquer jeito que levavam os pés nos fundilhos. A mãe Suzana torna a gritar para que parassem e eles, mesmo assim continuavam a correr. Era uma loucura sem dó. Quando Salésia obedeceu e parou a sua mãe veio com tudo dizendo;
--- Eu não mandei que parassem! Vocês são surdos? Parem já ou então ficam de castigo na praia. Quer ver? – indagou Suzana a garota enraivecida.
A menina com a cara sem vergonha murchou de modos. E começou a descer devagar enquanto os meninos continuaram a correr até estancar de vez. Eles ficaram a olhar sua mãe e a sorrir da irmã Salesia. Enquanto isso a sua mãe dizia com muita raiva.
--- Vocês não vêm mais para a praia. Estão ouvindo? – respondeu Suzana aos garotos.
Na Praia do Meio estavam os pescadores puxando a rede de pesca. Eram uns vinte pescadores dos dois lados da rede. Meninos e homens puxando devagar e sem parar em uma cadência ritmada aquela enorme rede de pesca que fazia cada homem ou menino se curvar para trás somente fazendo a força que estavam a praticar. As casas de taipa eram a alegria de sua gente a avançar das encostas do morro para o mar. Meninas se alegravam ao ver seu pai puxando a rede. Elas estavam escoradas na parede da choupana. Umas com o dedo no nariz enquanto outras, muito bravas levavam a tapa na irmã para que tirasse o dedo do nariz:
--- Coisa feia, nojenta! – repreendia a irmã mais velha.
A irmã chorava ou apenas dizia:
--- Deixa minhas catôtas! – respondia a irmã mais nova.
Há quase meia hora os homens trabalhavam no afã de conquistar algum pescado, pois estavam atentos ao que o vigia dissera antes que eles lançassem a rede. De cima do morro de onde o vigia podia ver melhor, dissera que havia peixe em abundancia em mar aberto. E apontava o local de se lançar rede. Pois assim os pescadores fizeram o que o homem lhes havia dito. Aproveitando a maré, mesmo em plena manhã de sol, eles estavam a fisgar o seu pescado. Na praia, estavam Suzana, sua irmã e seus três filhos prontos para tomar banho de mar. Elas ficaram bem longe dos pescadores e de suas redes de pesca. Longe onde não atrapalhava o trabalho daqueles e destemidos senhores das águas. Para não perder o que se sucedia Suzana de quando em quando olhava para o aglomerado de pescadores puxando as suas redes para fora do mar. A sua irmã Joana já estava a se banhar em plena praia e os lindos meninos, após aquela algazarra que eles costumavam fazer entravam também nas ondas do mar àquela hora na sua cheia. Aquele era um mar revolto e Suzana costumava prevenir aos garotos:
--- Cuidado vocês. Não precisa ir muito longe. O mar está brabo! – gritava Suzana da beira da praia.
Enquanto isso passava apressado, como sempre andava, sacolejando os braços, de modo inquieto, bem por trás de Suzana, na rua sem calçamento, aquele homem que a todos conhecia: o Lunático. Quem avistou o Lunático passando apressado foi a menina Salésia que estava saindo do banho de mar e vindo para junto de sua mãe. Assim que viu o Lunático a menina Salésia apontou para ele chamando a atenção de sua mãe.
--- Olha quem vai ali, mãe! O doido! – falou Salésia espantada.
A mulher se virou e olhou bem para cima até enxergar a figura do Lunático a caminhar apressado com o seu destino incerto, a conversar com o tempo. Homem alto, físico forte, cabelos crespos, pele nem alva nem morena, cabeça erguida como um soldado a marchar, era ele de cima a baixo. Sempre que ele passava na cidade ou até na praia, os meninos tinham medo que ele viesse a apanhar um deles.
--- Lá vem o doido! – gritavam as meninas e meninos pequenos.
E ele passava sem dar conversa a ninguém. Somente queria conversar com ninguém. Ao se perguntar a ele que horas eram o Lunático respondia:
--- As mesmas de ontem! – respondia o Lunático.
Aquele homem era um pouco incerto da bola. E podia estar em qualquer lugar onde menos se esperava. De uma delegacia de polícia a um Hotel de porte esmerado. De uma Missa a uma praia. E era assim que vivia o Lunático porque era assim que ele vivia nas paragens da vida. Havia quem dissesse que ele era um rapaz inteligentíssimo que havia estudado até o ultimo ano de Medicina. Isso era o que o povo sabia do rapaz. Naquele dia de manhã, ele surgiu de repente na orla marítima e parou para ver o arrastão que os pescadores estavam a fazer. Conversando com ninguém ele chegou a dizer que aqueles homens estavam loucos, pois o peixe que havia eles não tinha fisgado. Era bem mais além. O cardume de atum se projetava no mar bem próximo a praia e ninguém vira tais pescados. Então, Lunático caiu na gargalhada para o desespero dos pescadores que estavam mais a beira da estrada.
--- Que está fazendo, Doido? – perguntou um pescador.
--- Os pescadores não viram um cardume de atum bem à frente deles. – e caiu na gargalhada mangando da tolice dos homens do mar.
--- Onde estás vendo esse cardume? – perguntou o pescador.
--- Bem aqui na frente. Veja. – disse o Lunático.
O homem notou a presença de atum e correu para dizer aos outros pescadores com veemência, pois a rede estava praticamente vazia. Os pescadores teriam que atirar novamente a rede na água se quisesse ter uma boa pescaria de atum novo. Foi o que ordenou o mestre de pesca aos pescadores. E eles após breve relutância lançaram a rede no mar outra vez bem no cerco dos atuns arrastando todo aquele espécime para a praia. Logo que procuraram o Lunático para saber de onde tinha visto tanto peixe, o homem havia desaparecido para outros cantos remotos daquela praia o para outro ponto onde ninguém teria possibilidade de ver. Sabia-se que ele talvez tivesse dizendo ao leu para ninguém ouvir;
--- O deus está aqui. Não procurem em outra parte. Ele está no ventre da mãe de cada um. Esse é o deus verdadeiro. Não existe outro. Eu sou filho de deus porque a minha mãe me gerou. Eu sou apenas um espermatozóide que se infiltrou no óvulo da minha da minha mãe. E ela dizia: eu sou a mãe do filho de deus.

domingo, 18 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 18 -

- MEIAS DE SEDA -
- 18 -
No dia seguinte ao enterro do Coronel Veríssimo o assunto ainda era discutido da roda de intelectuais, amigos, conhecidos e nobres. Cada um que tivesse uma idéia sobre como fora o caso ocorrido. No Grande Hotel, no salão de bebidas onde estava gente da alta sociedade, era a maior contenda a esse respeito. Entre uísque e palavras cada qual que distinguisse o que tinha a dizer. A morte súbita do Coronel não era bem aceita pelos intelectuais, pois no dia em que se deu o óbito, Veríssimo era um homem salutar e bem humorado para com os convivas. Porém a morte tinha dessas surpresas. Hoje se está vivo e hoje mesmo, morto. Mesmo assim, os intelectuais mais acirrados tinham um leve incomodo: quem teria encontrado o Coronel Veríssimo a beira da morte e em qual lugar? Essa era a questão que todos os participantes da roda de conversa no salão de bebidas tinham a comentar.
--- Ouvi dizer que o Coronel foi socorrido por uma tal de Virginia! – relatou Cristovam.
--- Que Virginia é essa? – perguntou Tobias, do Instituto Histórico.
--- A que eu sei quem é ela vive de um bordel. – relatou Nestor.
--- Ah é Virginia que tem o Solar. Eu sei quem é. – afirmou Otávio, sorrindo.
--- E você sorrir com a desgraça dos outros? – perguntou Tobias nervoso até.
--- Que é que tem? Ele está morto e Inês é morta. – voltou a falar Otávio.
--- Mas isso não é coisa que se diga! Vou fazer um pronunciamento no Instituto. – afirmou Tobias.
--- E ele era do Instituto? – perguntou Cristovam surpreso.
--- Era. Mas fazia tempo que ele não comparecia às sessões do mês. – falou Tobias angustiado.
--- Também aquele Instituto só tem conversa e quando alguém morre – sorriu Otávio.
A conversa caminhou por tempos afins com cada um dizendo seus pontos de vista sobre a vida do Coronel Veríssimo. Quando alguém relatou que Virgínia foi até a delegacia policial, todos pararam de sorrir ou de falar. O “lunático” entrou no salão das bebidas e declarou que a mulher disse ao delegado que encontrou o homem caído na rua. Foi isso o que a mulher declarou.
--- Caído na rua? E o carro dele? Quem achou o carro? - perguntou Cristovam.
--- Ela disse que pôs o carro para dentro do muro. – relatou o Lunático.
--- Êta mentira lascada! – confirmou Nestor.
--- É verdade! Pergunte ao delegado para ver se eu estou mentindo. – retrucou o Lunático com olhos regalados.
--- Não deixa de ser verdade. Afinal, ele agora está morto. Morto e enterrado, para bem dizer. – afirmou Otavio entristecido.
No dia seguinte Jubal foi até o seu novo sitio para ver como andavam as coisas. Como era costume ele entrou no cercado pela cancela passando em frente à casa de José Bento, guardador do cercado e com quem o homem prestava as contas da semana. Do seu sítio, Jubal podia ver o que se passava no sítio vizinho e, por isso não levava tanta importância no que havia de ter. Aquele era um cercado amplo, bem maior do que o seu, com mangueiras, coqueiros entre outras fruteiras que o guardador vendia e dava a quem chegasse a pedir. Ao passar pela frente da casa de taipa de Zeca, ele viu a mulher do rapaz, chamada Creusa, como todo o mundo a conhecia. Ele viu a mulher na sala e cumprimentou tirando-lhe o chapéu para por na cabeça em seguida. A mulher sorriu em troca e deu adeus com a mão direita. Jubal não ligou. Pensou ser mesmo o costume de ser da dona do casebre. Ele apenas perguntou:
--- Onde está o Zeca? – perguntou Jubal franzindo a testa por efeito do sol quente.
--- No cercado! – respondeu Creusa a sorrir modestamente.
--- Ah sim. Já o vejo. Está acolá perto do rio. - replicou Jubal e se adiantado para o rio.
Ele caminhou até onde estava Zeca agachado, tirando feno como quem tira mato de um canto para outro. Zeca nem viu quando Jubal chegou por suas costas. Mesmo assim respondeu o bom dia recebido. E disse apenas:
--- Tem caranguejo que só. – falou Zeca molhado de suor.
--- Agora parece ser tem pode procriação dos caranguejos. – explicou Jubal sem se importar com os crustáceos.
--- Já estou todo mordido pelos pestes. – reclamou Zeca que continuava abaixado tirando o feno para um lado.
--- O rio está enchendo. – falou Jubal com a vista a olhar o rio.
O rio quando enchia alagava todo aquele manguezal. E ainda se notava os navios de carga a espera de porto no Cais quase longe do capinzal. Jubal notou os navios do Lloyd a espera de porto. Ainda notou três yoles remando o rio com seus patrões e remadores. Ele enxergou os botes de carga chegando ao porto da Feira do Paço para despejar seus carregamentos e passageiros de municípios vizinhos. Notou também os botes que vinha de uma praia do outro lado do mangue onde moradores da cidade costumavam passar dias no fim de ano. Jubal ate mesmo enxergou a vila existente de onde os barcos estavam saindo. Ele olhou ao redor e viu a ponde de ferro que fora construída em 1916 permitindo a passagem de trens de um lado para o outro do rio pondo fim a Estação da Coroa onde durante muito tempo os trens faziam o seu marco de paragem para aqueles que vinham do interior do Estado. E na seqüência ele disse;
--- Aqui tá muito diferente do que foi! –rompeu o silencio Jubal ao notar todo aquele paraíso acabado.
O rapaz Zeca se ergueu quase quebrando o espinhaço e olhou para trás onde estava Jubal navegando em suas deduções de um tempo remoto. Para Jubal o tempo que passou deixou imensas saudades. E não podia imaginar o que estaria por chegar. Uma tristeza profunda lhe acometeu a alma ao pensar em Nora, sua mulher. Ela estaria feliz por tanto progresso que os homens do tempo puseram nos anos passados do após guerra. Ele não se engajou para a guerra. Mas sentia saudades do seu velho tempo. Saudades também dos soldados que embarcaram no Cais do Porto com suas noivas acenando para que um dia eles voltassem mais destemidos e algoz. Eram lembranças de um sonho que o tempo não apagou de sua memória. Certa vez ele viu uma revista cheia de cadáveres de mortos durante a guerra e o líder alemão sentado sobre elas. Aquele foi um tempo terrível. Mortes e mais mortes. Soldados matando e morrendo. Tudo era morte.
--- É danado mesmo! – falou Jubal sem querer.
--- O que, senhor? – perguntou Zeca ao seu novo patrão.
--- Nada não! – respondeu Jubal ao pensar com o olhar perdido no horizonte.
--- É danado mesmo. Esses caranguejos são uma peste. Só se matando tudo de uma vez para comer. Eu não como caranguejo! – respondeu Zeca se agachando de novo.
Jubal fez um sorriso breve, pois o homem não entendia o que ele acabara de pensar. Aquele homem devia ter vindo da Feira do Paço ou de mais distante. Com certeza era um pegador de balaio. Jubal não tinha duvidas. E por isso perguntou a Zeca.
--- Antes de trabalhar aqui o que tu fazia? – perguntou Jubal sem que nem mais.
--- Eu? Pegava balaio. Seu Osias me chamou para vir para cá e eu vim. – disse o homem agachado se torcendo na cintura para ver seu Jubal.
E Jubal sorriu. Era o que ele pensava. Pegar balaio. E ele capinar. Tudo dava certo. Um capinava e o outro levava. Mais burro mais capim. Era a lida dos dois por todo o seu tempo de vida. Capim e burro. E Jubal se acometeu de riso quase sem parar. Sorria a beça. Que vida louca para os dois homens. Eles eram o mesmo. Não havia diferença entre os dois. Colher e vender. E sorria cada vez mais até que Zeca se espantou com tanto sorriso de Jubal. Então perguntou:
--- Está sorrindo de mim? – indagou Zeca com a cara feia.