terça-feira, 4 de agosto de 2009

RIBEIRA - 356

LUA GONZAGA
Para os jovens de hoje que não conheceram Luiz Gonzaga, seguem aquí algumas notas que eu tive em conversa com ele, pelos ídos de 1970. Ele era um caboclo forte e me disse que a sanfona causava-lhe um tremendo cansaço, já naquela época, no corpo arcado pelos anos de vida. Em 1970. Gonzagão ainda não tinha sessenta anos. Um outro assunto que ele abordou em sua conversa foi sobre Gonzaguinha. O velho Gonzagão fez questão em dizer: "Aquele menino...Sei não." e baixou a cabeça. Nesse tempo, ele - Gonzagão - demonstrava um forte afeto pelo filho, porém não concordava com o modelo da musica que o seu filho fazia. Ele queria ver um Gonzaguinha fazendo a continuação do que o seu pai - Gonzaga - fazia. Não, o contrário. Gonzaguinha era um tipo "moderno" o que Gonzaga não concordava por algum motivo. Na verdade, Gonzaga venceu todas as agruras que se apresentavam desde 1940, quando ele, de fato, começou a cantar. Para Luiz Gonzaga, o "artista" tem muito chão para andar - e a pé, do jeito que ele mesmo fez. Para se recordar, tem a melodia de Luiz Gonzaga onde ele canta: "Minha vida é andar por este pais". Olha bem que ele diz: "andar". Em outra canção ele remonta: "Quem é rico anda em burrico. Quem é pobre anda a pé". Nessas duas composições, ele demontra que o artista tem que forçar para poder vencer, se o caso. Andar para poder alcançar o mérito daquilo que ele sonha. Luiz Gonzaga começou ainda cedo, com 8 anos de idade. Foi nesse tempo que ele já começava a mostrar a sua força. Mesmo assim, passaram-se quase 30 anos para que aquele "menino" mostrasse ao povo o que ele queria. Em 1940, ele apenas tocava nas rádios e certa vez, Gonzaga tirou uma nota mínima em um programa de calouros sob o comando de Ary Barroso. Então, ele voltou para os bares da vida, no Mangue carioca, cantando para marinheiros e desempregados naqueles locais que havia de tudo, de prostituta a ladrão. Veio a Segunda Guerra, e ele a cantar. Somente em 1945 é que ele, enfim, encontrou um parceiro, o advogado cearense, Humberto Teixeira. E os dois fizeram verdadeiras jóias da música nordestina. Há quem diga que seu maior sucesso é "Asa Branca". Pode até ser. Todavia, há muitas outras jóias que, se não foram tão conhecidas tal qual "Asa Branca", alcançaram o mesmo patamar que a nobre música que imortalizou os dois artistas que a fizeram: Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Para se conhecer mulhor o cantor vale à pena saber: Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu a 13 de dezembro (dia de Santa Luzia, e por isso o sacerdote o batizou com o nome de Luiz) de 1912. Seu falecimento aconteceu no dia 2 de agosto de 1989 - faz 20 anos que Lua morreu. Lua foi um apelido que lhe puseram porque ele tinha um rosto redondo como a Lua. - Seu nome formou um misto por ter sido ele um cantor do Nordeste do Brasil, por isso lhe trataram de "O Rei do Baião". E ele até que gostou do apelido e assim ficou sendo conhecido internacionalmente. Lua nasceu na Fazenda Caiçara, no sopé da Serra do Araripe, na zona rural do Exú, sertão de Pernambuco. O lugar seria revivido anos mais tarde em "Pé de Serra" - "Lá no meu Pé de Serra dexei ficar meu coração. Ah que saudade tenho. Quero voltar pro meu sertão". - Essa música, ao contrário do que se imagina, é um xote e não, um baião. E esta música foi uma de suas primeiras composições. Seu pai, Januário, trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão (também consertava o instrumento). Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocá-lo. Na verdade, o que Januário tocava era um fole de 8 baixos e era muito convidado pelos donos de festa de seus arredores. Não era nem adolescente ainda (tinha 8 anos), quando passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai. Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas orígens mesmo seguindo a carreira musical no sul do Brasil. O gênero musical que o consagrou foi o baião, derivado de um tipo de lundú, denominado "baiano". A canção emblemática de sua carreira foi "Asa Branca", que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira. Ele nasceu na cidade de Iguatú, a 5 de janeiro de 1915. Foi,além de advogado, deputado federal e compositor.
Depois de querer namorar uma moça de Exú, quando já completara 18 anos, o pai da moça, coronel Raimundo Deolindo o ameaçou de morte. A moça se chamava Nazarena. Chegando em sua casa, Lua Gonzaga levou uma surra de seu pai e de sua mãe. Isso o revoltou e Luiz fugiu de casa, à pé, indo chegar em Crato, no Ceará. Por lá vendeu o seu único bem: a sanfona, por 80 mil reis. Partiu para Fortaleza e lá ingressou do Exercito, mentindo ter 21 anos. Como corneteiro, passou viajanto por vários Estado, incluindo Paraíba, Piauí, Pará e Estado do centro. Em Juiz de Fora, Mg, ele conheceu outro soldado, Domingos Ambrosio, que lhe passou alguns segredos do acordeão
Em 1945, Luis teve um caso com uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes que já estava grávida e deu à luz a um menino, no Rio. Luiz Gonzaga já deixara o Exercito e vivia de tocar sanfona.Ele tratou da criança e adotou como sendo seu filho, dando-lhe o nome de Luís Gomzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do artista. Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Calvalcante. que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua". E com ela teve outro filho que Lua a chamava de Rosinha. Luiz Lua Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu vítima de parada ardio-respiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e posteriormente sepultado em seu município natal.

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