sexta-feira, 7 de agosto de 2009

RIBEIRA - 358

- O LOUCO -
Era uma quarta-feira, manhã de sol, gente passava, uns, indo. Outros, vindo. Era assim, no prédio do escritório onde eu aprendi a trabalhar. Mulheres, sonhoras vinham e iam, de um lado para outro. Às vezes, buscavam uma casa de venda de artigos de costura. Em outros casos, somente queriam visitar as lojas de vendas de tecidos. Era assim que as senhoras faziam todos os dias, ou quase todos, pois havia feriado e domingos. Entre as mulheres e os homens, passava um homem bem mal vestido: um roupão azul quase preto encobrindo o paletó e parte das calças igualmente azul ou mesmo preta. Entre muitos outros - uns, pedintes - ele perambulava falando sozinho coisas que somente ele entendia. Cabeça abaixada, barba por fazer, cabelos compridos guardados por um chapeu que outra fora um belo chapeu, ele seguia rua à fora como se procurasse ninguém. Eu o olhava pela porta do prédio, no primeiro andar - era uma porta que o dono fez uma janela, pois era aberta. só, meia porta - o homem parecia um monstrengo de tão alto que era. Ele caminhava alheio ao movimento das casas de comércio, da gente que passava e mesmo de carros que às vezes vinham pela rua. Os outros - povo - não lhe falavam coisa alguma, pois o homem não era - para quem o via - ninguém. Quando - ele - pedia uma esmola a um transeunte, sempre ouvia a resposta: "Perdoe!". E ele, então continuava a caminhar, sem reclamar. O seu nome, nunca ouvi alguém falar. Quem se referia a ele, o chamava tão somente de "louco". Eu, apenas ouvia e não comentava. Com certeza, para mim, ele também era um "louco". Com os meus 13 anos de vida, era o que eu podia pensar. Não duvidava de ninguém. E a vida continuava, lenta e vagarosa, como era a vida naquele tempo, na cidade. De longe, chegava o som de uma batida de sinetas: era o bonde que seguia para a cidade. De outras vezes, o roncar de um motor definia a passagem de um carro. Passava depressa que eu não tinha tempo de olhar qual marca era o carro. Na rua, tinham poucos carros estacionados. Poucos, mesmo. Lá um ou outro passava. O Banco perto do escritório onde eu trabalhava, alí, nenhum funcionário tinha carro. Nesse tempo, os carros que por aqui trafegavam, eram todos importados e deviam custar muito carro. É tanto que pouca gente tinha carro por esses lados de uma cidade que nem conseguia prosperar
Foi em um dia como o que eu via o "louco" passar que, de modo não explicavel, eu notei que o homem chegava em frente ao escritório passando, em seguida, para mais além. Eu fui tomado de susto com aquela figura tenebrosa que chegava onde eu estava a trabalhar. Vi-lhe apenas de relance, quando ele passou. Eu escutei, baixinho, o que o louco estava a fazer e então percebi que o homem tinha ido ao banheiro. Uma outra voz se insinuou; era o homem que cuidava do prédio. Ele dizia umas coisas que eu não entendia, dado a distancia do escritório e do banheiro. Fiquei calado, procurando ouvir de qualquer modo o que se passava. Somente vozes. Vozes, e nada mais. Passado o tempo, o homem voltava, calado como sempre, sem nada falar e seguio o seu destino em busca da rua de onde tomaria o seu destino. Para mim, aquilo era um assombro. pois não imaginava ver de perto o "louco" passando perto à minha sala. Eu tive vontade de fechar tudo - a porta, com certeza - e me encolher na minha solidão de alguém que estava com um temor sem fim.
Algum tempo se passouaté que surgiu à porta o zelador do prédio, linpando o sujo que não havia, como uma vassoura de cabelos de lã. Ao passar em frente ao escritório, teceu um bom dia para mim, na sua forma de falar. Eu respondi e lhe perguntei o que o "louco" estava a fazer alí do prédio. Então, ele me respondeu que ele apenas procurava o sanitário. Eu disse, em seguida, por que o zelador fizera tanto barulho. Ele então me respondeu que, ali, não era órgão público para se utilizar do banheiro.De fato, eu concordei, sem saber do que se tratava ou o que era "órgão público". Afinal, o tal órgao público devia ser a rua ou um beco, coisa assim. Eu me dei por satisfeito e o zelador continuou o seu trabalho edificio afora.

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