quinta-feira, 13 de agosto de 2009

RIBEIRA - 366

MINHA ORAÇÃO
Eu lembro muito bem do meu tempo de criança, quando a minha mãe mandava eu rezar antes de dormir. "Reze! Reze! Reze!". Era todo dia aquela oração postada por minha mãe, E eu, rezava. Já sabia a oração por completo e dizia, com a boca fechada, todo o estribilho: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege e guarde, governe e ilumine. Amen!". Era só isso que eu tinha que declamar baixinho. Depois, cama!.Enrrolava-me com o lençol branco espelhando e pegava no sono para acordar no dia seguinte. Eu lembro que antes de dormir, a minha mãe, toda noite vinha saber se eu tinha urinado para não correr o risco de fazer xixi na cama. Minha mãe abria a porta do quarto - uma porta imensa - e então perguntava: "Urinou?" - perguntava ela. E eu respondia: "Sim! Urinei!". E ela continuava: "Venha urinar de novo! Eu não ouvi!" - E eu respondia: "Mas, urinei, mãe!" - com a minha voz de criança, com um medo danado de levar chicotadas que ela nunca açoitou. "Venha logo! Aqui! Urine!". - dizia a minha mãe com o seu ar prepotente. E lá ia eu diante das ameaças de minha mãe de que se eu não fizesse logo o "bicho papão" vinha me comer. E eu tinha medo desse tal "bicho papão" que corria para o vaso, para urinar, pois, na verdade, eu não tinha feito coisa alguma antes. Apenas não sentia vontade. A minha única vontade era de ir para a cama dormir e, pronto. Quando eu acabava de fazer xixi, minha mãe dizia: "Olha! E não queria fazer. Tá cheio de mijo, o urinol". Eu, calado ficava, pois a urina estava bem guardada para sair quando eu pegasse de vez no sono. E então, quando os anjos do purgatório viessem colher a minha urina eu já estava no terceiro sono. Era isso o que a minha mãe dizia. A verdade é que, no dia seguinte, se eu tivesse feito xixi na cama, a minha mãe tinha que lavar todos os lençois que ainda estavam molhados. De certa feita, eu quando acordei logo cedo dobrei os lençois, guardei bem guardados, pus em baixo dos travesseiros e saí de mansinho feito lebre para escovar os dentes, lavar a boca, o rosto e tudo mais que tinha de fazer, antes que a minha mãe ouvisse eu de pé. Mas, isso não deu certo. Ouvi a minha mãe falar alto: "Tome banho! Se não o couro come!". Eu, molestado de raiva, fui tomar banho. Abri a torneira e dexei a água escapar sem me molhar. Passava apenas água no pescoço e nos braços, fazendo de conta que estava tomando banho. Foi nesse instante que a minha mãe entrou no banheiro e me puxou para baixo do chuveiro, dizendo: "Ah Cabra! Pensa que me engana?!". Eu, chorando feito um bode, vi a água descer corpo abaixo, me molhando todo e por completo. E o sabonete que a minha mãe trazia, fazia o asseio completo Toda a rua ouvia eu tomar banho, pois o berreiro era forte e alto. E minha mãe somente dizia: "Calado! Calado!". Era o fim do mundo aquele banho que minha mãe fazia eu tomar. Porém, não tinha importância porque nos dias seguintes eu escapolia da festa de tomar o asseio matinal. E minha mãe sembre dizia: "Deixe está! Voce volta!". Para mim isso não importava, pois eu já estava a caminho da minha escola cheio de poeira do dia passado.

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