Eu conheci José Menezes no ano de 1957, pouco antes de eu ter que ir morar no Bairro das Rocas. Ele já era de maior idade e no tempo que eu o conheci, ele estava desempregado, fazia poucos meses. Durante um certo tempo, Menezes trabalhou como cobrador em ônibus que faziam a linha das Rocas até às Quintas, bairros de Natal. Mesmo assim, no tempo que o conheci ele já não estava mais nesse serviço. Parado, em casa, ele me contava as injúrias feitas pelo seu padrasto, sapateiro, trabalhando na própria casa, por sinal, alugada. Quem assumia a despesa com tudo era o padrasto de Menezes. Por isso, o homem dizia poucas e boas pelo fato do jovem não ter emprego.
Logo que ele entrou para a JOC - Juventude Operária Católica - eu o conheci. Mesmo eu morando em Petrópolis, não fazia questão em ir por sua casa e de lá, nós pegavamos o ônibus na parada da Rua São João. É certo que Menezes, não raro, pedia que eu esperasse um pouco para que ele pudesse pegar uma condução cujo cobrador era seu conhecido, pois Menezes fez boas amizades com os seus colegas cobradores. Naquele tempo não existia o vale, como hoje. Quando aparecia um seu conhecido, ele subia e cumprimentava o cobrador, dizendo que eu estava com ele. E, assim, nós não pagavamos o valor da passagem. Eu sei que Menezes fazia isso para ficar grato comigo, pois, de qualquer jeito eu tinha dinheiro para custear as passagens minha e dele. Menezes sabia disso. Porém fazia questão em que eu guardasse o valor da passagem.
E assim, caminhavamos até à sede da JOC, na Cidade Alta. Um jeito que eu observava em José Menezes era que ele gostava de cantar. E, olhe que ele, de um modo ou de outro, cantava muito bem, mas a sua preferencia era somente por musicas em ritmo de bolero. Em plena viagem de ônibus o rapaz tamborilava em uma caixa de fósforo o ritmo do bolero. Era por demais jocoso aquela febre do jovem em gostar de um melodia de outras partes das Américas, deixando de lado até mesmo o samba, pois era muito melhor do que rumbas, tangos, mambos e também boleros. Nós dois fazíamos duplas, ele cantando bolero e eu, samba-canção ou até mesmo valsa, das mesmas que cantava Carlos Galhardo, o rei da valsa.
Certa vez, algo que bastante me preocupava, estive falando com Alda Leda Freire sobre a situação de desemprego pela qual Menezes passava. Ela ouviu e calou. Dias depois, Arlindo Freire, irmão de Alda Leda me perguntou o nível escolar de Menezes. Eu disse não saber e perguntei a razão do fato. Arlindo me falou que havia uma vaga em uma Cooperativa da Marinha, onde a sua irmã já estava trabalhando. Eu falei a Arlindo que, desta forma era melhor saber do próprio jovem. Arlindo concordou e pediu que eu ficasse incumbido da missão.
Todo acertado e eu, com dois dias já sabia aquilo que Arlindo queria saber. Dei-lhe a resposta e de pronto, José Menezes tomou conhecimento da vaga e ficou combinado que ele devia se apresentar no Cooperativa para trabalhar no novo posto. Depois de um longo espaço de tempo, quando Menezes já aprendera a trabalhar naquele local, surgiu uma outra vaga em uma nova cooperativa dos trabalhadores na agricultura. Daí em dianta, Menezes já estava definitivamente sem preocupação por um trabalho. Na nova cooperativa, ele teve que viajar ao interior por várias vezes, a fim de contactar com os trabalhadores rurais, dando-lhes as orientações necessária, de acordo com cada caso
Em 1961, José Menezes frequentou o curso de Segundo Grau do Colégio Marista onde, vez por outra faltava às aulas, por força do serviço. E foi assim até 1965, quando ele terminou o curso e passou a estudar em João Pessoa, Pb. fazendo o Curso Superior de Advogado onde colou grau e, então conseguiu um emprego público. Eu ví José Menezes no dia em que ele passava para ir para casa, cerca de 1992 ou mais. Sei que foi no dia em que ele faleceu por um motivo que não sei bem qual foi. Ele passou em seu carro e não me viu. Eu nem pude chamá-lo, pois nós estavamos em faixa diferente. Mesmo assim, ainda me lembro dos boleros que Menezes cantava na JOC ou na rua, onde ele estivesse. Certa vez, eu, falando com ele, fiz lembrar a sua semelhança com Jean-Paul Belmondo e ele se disse honrado. Menezes era um homem simples, mesmo sendo um advogado. Depois que eu passei a trabalhar em outros meios, perdi o contato com ele. Sua mulher era Silvéria, com quem casou por volta de 1963. Ela era professora do Estado e quase não foi possivel a gente se falar por longo tempo. Eu lembro que, no período do colégio Marista, ela já casada com Menezes, certa vez, nós dois - eu e Menezes -apresentamos um quadro humorístico, onde eu vestia uma roupa feminina, cedida por Silvéria que foi até ao Teatro do Marista maquiar-me por completo. Foi uma peça bastante jocosa a que nós apresentamos, numa festa que o Colégio promoveu para os seus estudantes. Depois de tudo, José Menezes cantou umas composições em espanhol, boleros, por assim dizer, o tema que ele sempre admirou. Hoje, quando eu ouço um bolero, só me vem a mente a figura de José Menezes da Silva.
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