quinta-feira, 20 de agosto de 2009

RIBEIRA - 377

- VIDAS SECAS -
O assunto é de alarmar. O homem do Nordeste do Brasil já está acostumado com essas retiradas que sempre fez ou faz. Este ano, o homem não precisou fazer. Teve muita água e os açudes sangraram o que não foi preciso sair por aí, sem rumo, na procura dos estados do sul onde a vida é melhor - pensa o homem. Mas, agora há previsão de seca. E de seca braba na região nordeste. Com isso, essa gente vai querer migrar para outras regiões, principalmente São Paulo. Pelo que a Organização Mundial de Meteorologia, com sede em Genebra, afirma os padrões climáticos para os próximos seis meses deverão ser diferentes, devido ao impacto do fenômeno El Niño, no Oceano Pacifico. As chuvas serão escassas em todo o nordeste brasileiro bem como em toda a Amazônia. Isso quer dizer: vai faltar água. Com a falta de água, o camponês só tem um jeito - migrar. Sair em procura de novas terras, com o saco de roupa na cabeça, a xibanca, a "mulher" que sempre vem atrás, e um cachorro magro, pois não suporta mais viver na tapera em que nasceram os seus dois filhos miúdos. Com sede e com fome, ele, a mulher e os dois filhos, batem em retirada, na velha sina dos tempos vividos por seus bisavós ou mesmo avós. As tralhas do passado ficam para trás. O que o homem leva no bisaco é apenas o necessário. Um cuia para beber água, quando encontra e um par de calça e camisa, chapeu de couro, alpargatas de rabicho e muita sorte em poder alcançar um lugar menos escaldante do que aquele que lá deixou. O negócio é sério mesmo, pois os fazendeiros da Ásia já estão alarmados com a falta das tradicionais chuvas que atingem a região nesta época do ano. A seca está causando um efeito devastador nas lavouras e nos estoques de alimentos do Quênia e regiões ao leste da África. Para os técnicos, isso é o efeito do El Níño, que está de volta depois do que causou no nordeste brasileiro no ano de 1997. Há 12 anos, o fenômeno foi responsabilizado pela perda de lavouras e cetenas de morte no mundo inteiro, inclusive no Nordeste do Brasil, em particular, no Rio Grande do Norte. Hoje, quem ainda anda pelo sertão, pode vê casebre abandonado, cheio de mato seco ao seu redor e o rastro do sertanejo que alí viveu. Vê-se o sertão pegando fogo e a familia em alvoroço. O homem nada diz, enquanto a fiarada reclama do sol inclemente torrando suas cabeças. A temperatura do Oceano Pacífico está um tanto elevada, e isso vai cair como um efeito cascata em toda a região Nordeste do Brasil e dura, pelo menos, 12 meses. Os efeitos serão sentidos até março do ano que vem. No tempo da eleição, isso é um maná para os políticos experientes, distribuindo cesta de fubá de milho com uns retirantes e pondo culpa no governo poque foi ele - dizem - o autor de toda aquela mortandade, no falar dos capitães de areia.
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