quarta-feira, 12 de agosto de 2009

RIBEIRA - 365

CIGANOS

Certo dia, viajava eu para o interior do Estado, indo de carro de aluguel (taxis) quando já bem perto da cidade de Florânia ví, na estrada, vindo em sentido contrário um homem, sua mulher e um mundão de filhos. Eles viajavam em uma carroça de burro, toda quebrada, vencida pelo tempo, puxada por dois burros. Atrás da carroça e seu condutor, vinham a mulher e mais uns três filhos. Na frente da carroça estava outro rapaz, parecendo ser também o filho do casal. Aquilo me deixou preocupado.
--- Para onde vai tanta gente assim!!?? - perguntei ao motorista.
--- Ciganos! - foi a resposta que ouvi.
--- Ciganos!? - voltei a indagar.
--- É! Ciganos! - voltou a dizer o motorista.
--- E para onde eles estão indo!? - tornei a indagar
--- Quem sabe!? Mundo à fora. Por aí! - respondeu o motorista.
Nesse ponto, eu calei. E pensei. - Ciganos!!! - Há muito tempo eu ví uns ciganos. Por diversas vezes, eu vi ciganos. Eram sempre mulheres. Saia comprida, arrastando no chão. colares de contas, enfeites mil, braceletes, um cordão da cintura, pano na cabeça, argola nas orelhas, boca pintada e coisas mais. Eu era pequeno. Meus 8 anos quando avistei as mulheres sempre acompanhadas de suas filhas, mocinhas, coisa de 15 anos. Uma delas se aproximou de minha mãe e foi perguntando:
--- Quer saber o seu destino, senhora!? - perguntou a cigana.
--- Não!!! - respondeu a minha mãe em tom ríspido.
--- A senhora tem um futuro brilhante! Deixe eu ver a sua mão! - argumentou a cigana.
--- Não quero saber! Pode deixar o meu futuro! - respondeu a minha mãe.
--- Que belo filho a senhora tem! - comentou a cigana, passando a mão na minha cabeça.
--- Vai prá lá, menino!!! Ele não está à venda! - respondeu de forma áspera, a minha mãe, me puxando para dentro de casa e, ao mesmo tempo, respondendo à cigana.
Com o passar das horas, eu, inqueto por saber, perguntei à minha mãe quem era aquela mulher. Ela, então, me respondeu com uma voz um tanto rouca.
--- Cigana! Não se meta com aquela gente! Viu? - falou a minha mãe.
Eu calei. E fui brincar com o meu irmão, inda novo. Mas, a cigana não me saía da memória. E eu perguntava a mim mesmo: "Cigana é desse mundo!?" - E não obtinha resposta. Nem por isso eu apaguei da minha mente. Onde estava uma palavra que citava em "ciganos", eu estava a ler.
Passaram-se os tempos, eu, já crescido, vez por outra via algumas ciganas passando em frente à repartição onde eu estava a trabalhar. Em tais momentos, eu espichava o pescoço para ver o destino que as mulheres tomavam. E sempre seguiam em debandada. Apressadas como ninguém. Era costume das ciganas abordarem mulheres, homens e jovens, procurando dizer-lhe o seu "destino". Algumas vezes, obtinham os favores de alguém. De outras, não.
A história do povo cigano é ainda hoje objeto de controvérsia. Existem várias razões que explicam a obscuridade que envolve a esse assunto. Em primeiro lugar, a cultura cigana é fundamentalmente ágrafa e despreocupada por sua história, de maneira que não foram conservados por escrito sua procedência. Sua história foi estudada sempre pelos não ciganos, com frequencia através de um cariz fortemente etnocentrista. Os primeiros grupos ciganos chegados a Europa ocidental fantasiavam acerca de suas origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária.
O termo em português "cigano" é uma curruptela de "egipcio", aplicado a esse povo pela crença erronea de que seriam proveniente do Egito. Um estudo da língua romani, própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito similar ao panjabi o hindi ocidental. Isso demonstra que a origem do povo "rom" está no noroeste do Subcontinente Indiano, na zona em que atualmente fica a fronteira entre os estados modernos de Índia e Paquistão. É provável que os ciganos originaram-se de uma casta inferior do noroeste da India.
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