sábado, 28 de agosto de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 3 -


- DIANA DORS -
- 3 -
A moça veio se sentar ao lado de Honório, o rapaz do jornal e, com muito cuidado, ainda pálida gemeu um pouco como querendo reclamar de alguma dor ou coisa assim. Magra, bem magra de fazer dó, vestindo saia e blusa, o que dera para arrumar depois da tempestade do dia que passou, ele ainda tremeu de frio. O rapaz Honório, olhou para Adélia e sorriu. A moça olhou para o rapaz e perguntou sobremaneira:

--- Você vinha no Bonde? – perguntou Adélia ainda meio preguiçosa.

--- Sim. Você perdeu os sentidos em meu ombro. Quer dizer: quase no meu ombro esquerdo. – respondeu Honório sorrindo.

--- Nossa! Que situação! E agora? – indagou Adélia abismada.

--- Agora o que? – sorriu o rapaz a perguntar.

--- Meu trabalho? – disse a moça sobressaltada.

--- Não se incomode. Eu aviso onde você trabalha. – respondeu o rapaz a sorrir.

--- Mas é distante. – chorou a moça.

--- Não tem importância. Quando você estiver melhor, eu vou levar você em sua casa. Não se preocupe. – respondeu Honório.

--- O senhor é daqui? – perguntou Adélia.

--- Moro um pouco longe. Mas dar-se um jeito. Onde você mora? – perguntou suave o rapaz.

--- Você vai me levar em casa? Não precisa. Eu acerto em ir. – respondeu Adélia.

--- Está bem. Mas vai como para a sua casa? – perguntou sorrindo o rapaz.

--- Não sei. – respondeu Adélia com a cabeça ainda rodando.

Nesse ponto, o auxiliar de enfermagem veio com uma xícara de café quente para ela beber. A moça fez cara feia e disse não precisar. O rapaz insistiu e disse que eram ordens do enfermeiro para que ela ingerisse um pouco de café. Com cara feia e tudo, ela bebeu o café. Ao bater o estômago, o café quente lhe deu ânimo, o que lhe estava faltando.

Aos poucos, Adélia foi se recuperando a ponto de poder andar dentro da sala de enfermagem. Olhando para onde Miguel enfermeiro estava a trabalhar, notou o homem a cuidar de uma criança com um tumor nos quadris. A moça, de imediato voltou, postando as mãos na boca e reclamando não querer mais ver o que havia observado. Então, Adélia perguntou a Honório quanto devia pelos cuidados do enfermeiro. O rapaz, de volta,perguntou:

--- Você tem dinheiro? – indagou o rapaz.

--- Quase nada. – respondeu Adélia com a cara tristonha.

--- Então deixa assim mesmo. Eu já paguei pelo soro. Isso não é nada. Queres ir agora? – perguntou Honório satisfeito com a recuperação da moça.

--- Mas diga quanto te devo! – indagou Adélia não querendo estar devendo a ninguém.

--- Não sei. Eu esqueci. – comentou Honório sorrindo.

--- Vai! Diga logo! – disse Adélia com a voz de choro.

--- Vou chamar o carro. Você diga onde mora. O motorista vai levá-la em casa. – recomendou Honório.

--- Não digo. Quero saber quanto te devo! – lamentou Adélia.

--- Ah. Vou buscar o carro. – respondeu o rapaz.

Em instantes, o motorista estava na porta do enfermeiro a esperar a moça. Honório, com o mais cuidado, levou Adélia até o assento traseiro do veículo e tomou o banco dianteiro do carro rumando para a Rua da Estrela, uma artéria cheia de lama e buracos. Quando estava na rua, Honório perguntou a moça onde devia parar. Ela respondeu:

--- Bem ali, onde tem aqueles colchões. Adiante. – respondeu Adélia.

--- Você tem que ir ao medico. Foi à recomendação do enfermeiro. – relatou Honório com cara de bom moço.

--- Pode deixar. Eu vou! – respondeu Adélia um pouco tristonha.

--- Vai hoje? – perguntou Honório com certa prudência.

--- Vou ver. Não sei. Tenho que avisar no trabalho. – respondeu Adélia ligeiramente triste.

--- O endereço! – pediu Honório com certa pressa.

--- Que endereço? – perguntou Adélia, cismada.

--- Do seu trabalho. Eu aviso que você está doente. – relatou Honório.

--- É um escritório do Bairro Alto. Pode deixar. Eu logo me arrumo. – respondeu Adélia como querendo se sentir livre de tanto incômodo.

--- Não tem importância. A senhora já foi atendida. Agora é avisar seus parentes. – comentou o rapaz desapontado por não ter o endereço do trabalho a moça.

--- Muito obrigada. Eu fico aqui mesmo. Lama. Ainda é o resultado de ontem. – fez ver Adélia.

O rapaz apertou a mão de Adélia com suavidade e apreço dizendo até breve, pois alimentava a esperança de encontrar a moça em pouco tempo. O veículo fez o seu retorno e rumou para onde esteve parado até àquela hora. No caminho de volta o motorista falou ao rapaz sem cuidado ou desprazer.

--- Eu acho que você encontra o endereço da moça nos apontamentos de Miguel enfermeiro, pois ele costuma tirar todas as informações de um paciente e guardar com cuidado. – profetizou o motorista do veículo.

--- É isso. Com a breca! Eu não tinha pensado nisso!!! – exclamou Honório pleno de alegria.

--- Possa ser que desta vez, ele não tenha tirado. Mas. – ressaltou o motorista.

--- Vou passar no gabinete do enfermeiro agora! – sorriu Honório satisfeito.

E foi o que o rapaz praticou. Em sua passagem, esteve com Miguel Enfermeiro e lhe pediu debaixo de sete segredos o endereço de onde trabalhava a jovem Adélia. O enfermeiro ficou um pouco assustado e perguntou ao rapaz:

--- Quem te disse que eu tenho? – falou o enfermeiro amedrontado.

--- Uma veneta. O senhor tem? – perguntou Honório.

O enfermeiro ficou meio duvidoso. Mas, com certeza acreditou na intenção do rapaz, por causa de pagar a consulta e a medicação que Miguel cobrara. De qualquer jeito, o enfermeiro deu o endereço de onde trabalhava a moça. Quase de imediato o rapaz rumou para o bairro onde se instalava o escritório da jovem moça. Eram quase onze horas da manhã momento quando chegou ao escritório o rapaz. O porteiro estranhou tal presença. Mesmo assim, Honório disse ser portador de uma noticia para a direção da empresa de parte da senhorita Adélia. O porteiro anotou o nome e pediu sua identidade prometendo devolve-la na sua volta.

Tendo feito o procedido, o rapaz foi dar a informação prestada por Adélia. A chegar ao escritório, foi logo recebido por um atendente. Honório disse trazer uma informação da senhorita Adélia de forma urgente. A moça estava sentada no birô perguntou do modo o qual estava havendo com Adélia, pois até àquela hora a moça não tinha aparecido para o trabalho;

--- Agora ela está bem. Sentiu-se mal logo cedo e foi ser atendida em um consultório do Bairro Belém. Porem há recomendação para voltar ao médico. Creio apenas dela voltar amanhã. Provavelmente. – falou Honório bem convicto.

--- Ave Maria! Adélia doente? – exclamou a funcionária da escrivaninha aterrorizada.

--- Creio seja só isso. – relatou o rapaz.

--- Ave Maria! Adélia doente! Gente! Venha ouvir essa! Adélia está doente! Está mal mesmo! Coitada! Eu vou já a casa dela! – exclamou em alta voz a funcionária do balcão.

--- Não é preciso. Ela tem que ir ao médico. – relatou o rapaz procurando tranqüilizar de modo o restante do pessoal.

--- Ela morreu? – perguntou uma mais apavorada.

--- Quem morreu? – perguntou assustado um serviçal meio corcunda que entrava na sala.

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