quarta-feira, 11 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 40 -

- MEIAS DE SEDA -
- 40 -


Em um domingo qualquer de um mês qualquer, no período da tarde, estavam Jubal, sua noiva Salésia, a filha Oceanira e a mãe de Salésia, dona Suzana para ingressar no cinema da Cidade, cumprindo o dever de ficar na fila de entrada. Jubal também viu o seu amigo Inaldo que estava sozinho à procura de comprar o ingresso. Como Jubal estava bem adiante perguntou ao amigo se eram duas ou apenas uma entrada. Mesmo dizendo que não precisava de tudo isso Inaldo informou que era ele apenas que estava para entrar. Nessa ocasião Jubal disse que ele mesmo comprava a senha e ele – Inaldo – podia deixar a fila e esperar na porta do cinema. O caso foi resolvido sem maiores tumultos. O filme era para a classe jovem e não tinha porque Jubal estar contente ou feliz. Afinal, cinema era coisa que ele não punha fé. Naquela tarde de domingo, ele estava indo porque a noiva pediu. Em contrapartida ele levou a sua filha e Salésia também levou a sua mãe. Ou foi a mãe de Salésia que pretendeu ir para não deixar a filha apenas com o noivo. De qualquer jeito, Suzana era do tipo de que desconfiado ainda era vivo. O homem podia ser uma preciosa jóia. Porém, não merecia fé em se confiar demais. Coisas de mães, afinal. Daquelas que dizem:


--- Cuidado! Não saia de frente da casa! Tem gente olhando! – diziam as mães.

A sessão terminou pouco depois das cinco horas da tarde. Os portões do salão foram abertos para que o povo saísse devagar porquanto era cheia a casa de espetáculos naquele horário de domingo. Havia outra sessão as seis horas da tarde. Jubal e as outras pessoas começaram a sair de seus locais no salão de baixo. Na frente, seguia Suzana, mãe de Salésia, seguida por Oceanira, filha de Jubal, Salésia, a noiva, Jubal e por último, dessa fila estava o amigo Inaldo, suado que nem bica. A mulher Suzana era a que mais tagarelava.

--- Não era para terminar desse jeito. – falava Suzana inquieta.

Salésia, sua filha, olhava para trás vendo a cara de Jubal e sorriu calada. Sorriso leve como de quem dizia:

--- Ela é sempre assim. – teria pensado Salésia ao olhar para o seu noivo.

A essa altura, Jubal já comprara o carro Ford de quatro lugares podendo caber cinco ou mais pessoas. Quando saía da sala ele viu a senhora que um dia teve medo do cavalo quando Jubal seguia para o sitio. Ele olhou para a mulher e viu que a mulher também olhava para ele. Foi uma coisa tão rápida que logo a senhora saiu do salão e entrou em outra sala para poder seguir o seu destino. Ele teve pressa em andar para ver de mais perto a senhora desconhecida. Contudo, ao sair do salão não viu mais a mulher desconhecida. Ele pensou que a senhora devia ter entrado por outra porta e saído para só na rua ele poder ver, certamente. No entanto, quando ele saiu do prédio não viu mais a senhora desconhecida. Mesmo assim, ele não perdeu o pensamento de rever aquela mulher tão bela para a sua idade. Ela vestia uma roupa domingueira, portava uma pequena bolsa, laços no cabelo da cabeça, ruge e batom e nada mais. Apesar do seu esforço para rever a madona, ele nada conseguiu. A não ser a pergunta da noiva:

--- De quem procuras. Lindo? – perguntou a mocinha ao namorado.

--- Heim? Um rapaz que eu vi no cinema. – respondeu o noivo temendo ser descoberto pela noiva enciumada.

--- Deve ter saído para o outro lado. Quem era ele? – voltou a querer saber Salésia.

--- Heim? Era um rapaz que me deve uma conta. – respondeu Jubal temeroso.

--- Ah. Deixa pra lá. Ele paga. – sorriu Salésia.

Nesse momento, Jubal convidou o seu amigo Inaldo para ir com ele até as Quintas onde deveria entregar o montante em dinheiro para a sua mãe. Ele levaria a noiva e sua mãe para casa e de lá seguia para as Quintas, bairro afastado da cidade. Apesar de não querer ir, Inaldo nada respondeu e ficou calado. Jubal perguntou novamente:

--- Vai ou não? – perguntou Jubal já dentro do seu carro.

--- Vou. – disse sem jeito o rapaz.

--- Se não quiser ir, não tem importância. Eu vou com Oceanira. Pelo menos ela deve ter a satisfação de ver a sua avó. – disse Jubal inquieto.

--- Não. Eu vou, sim. Sem problemas. – retrucou Inaldo com a cara enfarruscada.

--- E por que eu não posso ir? – perguntou Salésia meio assustada.

--- Porque ainda tem problemas. Minha irmã é ranzinza. Só por isso. – respondeu Jubal

A garota fez cara feia e sentou no banco dianteiro deixando Suzana, Oceanira e Inaldo a sentar no banco de trás. O carro correu e chegando a casa Salésia saltou de imediato e não disse nada, entrado para a casa. A sua mãe gritou:

--- Menina! Não se despede do noivo? – perguntou a mulher em desaforo.

A menina entrou em casa e nada respondeu. Apenas ela abriu a porta do quarto e se socou lá por dentro, fechando a porta e nada mais.

--- Deixa dona Suzana. É fricote dela. – respondeu Jubal sorrindo.

Em pouco tempo, já com a filha do seu lado, rumou para as Quintas para abraçar a sua mãe, fazer carinhos, perguntar como estava, deixar o montante de dinheiro, dizer que estava com o seu carro, mostrar o amigo Inaldo, mandar a filha fazer agrados. Tudo de formas a tranqüilizar a mulher com seus quase 70 anos de idade. Saberia que a irmã Carmen em nada gostaria da cruel visita do seu irmão de quem guardava imensos e sérios rancores. De qualquer jeito tinha o dinheiro que já fazia menos amarga à visita. Dinheiro era dinheiro. Dizimava qualquer ofensa. E foi o que se sucedeu. Ao chegar da casa da irmã Carmen, o homem estacionou seu carro ao lado da calçada. Então decresceram os três, com a moça na frente, entrado na casa da tia Carmen. Tudo se deu como o previsto a não ser por alguns reclamos da velha senhora que não podia voltar para a sua casa; quem era aquele rapaz novinho; como estavam os meninos e coisas desse tipo. Oceanira, a mais velha de todas as crianças já moças e do garoto, era a tinha mais afago para com a mulher, dona Chiquita. Perguntava-lhe como estava a saúde, se já tomara o remédio, se se alimentara a contento, se tomou banho e tudo mais a voz da tia que estava tudo a olhar:

--- E ela está suja? – perguntou dona Carmen meio azeda.

O irmão Jubal olhou serio para Carmen como a dizer que ali tinha visita. A mulher torceu a cabeça e não saiu do local. Oceanira ocupou-se em dar cafuné na sua avó, como a velha senhora gostava que sempre ela fizesse tal agrado.

--- E eu tenho piolho bem por aí. – falou dona Chiquita com a baba a cair em sua roupa

--- Deixa eu ver que mato todos eles. – respondeu Oceanira a seu jeito meigo de neta.

--- Quem é esse rapaz? – perguntou dona Chiquita com o olhar para cima dos óculos.

--- É amigo do pai. Ele nunca foi lá a casa. Por isso a senhora não conhece. – respondeu a neta.

--- Ele é casado? – perguntou dona Chiquita.

A moça fez a mesma pergunta ao homem apenas com o olhar.

--- É, mãe. Inaldo é casado. – respondeu Jubal, o seu filho

--- Nem parece. – retrucou dona Chiquita.

Nesse momento, entrou um rapaz da casa vizinha na sala dizendo que o trem tinha atropelado uma mulher. E parecia que havia morto a mulher, pois foi na própria linha que houve o acidente. O pessoal ficou alarmado com a notícia. Menos Jubal e Inaldo, pois noticia de atropelamento de trem era a coisa mais comum desse mundo. Com certeza havia sido uma mulher muito velha ou coisa assim. Ao final da vista, Inaldo se despediu de todos os da casa e Jubal tomou a bênção a sua mãe, dizendo:

--- Volte pra casa. Os meninos estão esperando a senhora. – disse Jubal a olhar para a sua irmã que fez um tuc e se enveredou casa adentro.

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