sexta-feira, 20 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 50 -

- MEIAS DE SEDA -
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Entrementes, quando ainda estava tratando dos preparativos para o casamento, Jubal comprou a fazenda do velho Ferreira, no local Mangabeira, onde havia grandes árvores frutíferas como mangas, jacas, cajus, entre outras tantas, e uma criação de gado que apenas nessa criação, Jubal retirou o dinheiro aplicado. Não eram muitas cabeças, mas para a criação daria para manter o seu orçamento e sobrar recursos para se cuidar de tanta riqueza que a terra podia dar. Foi um investimento salutar, e Jubal, quando pagou ao ex-dono, estava com a futura mulher que viu toda a transação. Como testemunhas, ele levou dois homens de negócios da cidade. Ele, tão pronto comprou a fazenda logo em Cartório passou as escrituras da terra, selando o negócio. A vida de Jubal tomava um novo rumo com esse investimento salutar.


Em igual tempo, suas filhas estavam a concluir os estudos. Olinda progrediu um ano em lugar de Oceanira e ambas estavam no mesmo ciclo de estudos. Olinda dizia que se formaria em Professora, mas Oceanira relutava com o que teria que fazer. Ela chegou a dizer que, provavelmente entrasse para o Convento de Freiras. O pai, certa vez, disse que ela estava querendo seguir o mesmo trajeto da Irmã Salésia. Oceanira sorriu e disse apenas isso:

--- Estou pensando meu pai. Nada concreto. Estou pensando. – falou Oceanira.

E o assunto morreu aí. Nada mais se falou a respeito. Tudo eram preparativos para o novo casamento do papai. A anciã Chiquita tinha voltado para casa e se deitava no mesmo quarto de antes. A casa era um reboliço. Às vezes, era Carmen. Outras ocasiões era a própria Natália para o desassossego da empregada doméstica Eunice que não sabia a quem atender primeira e a bom tempo. Jubal era todo galante com esse novo casamento. Certa vez, no Mercado, a dona do Café Nazinha perguntou a ele quando haveria de ser o casório. Ele respondeu:

--- Breve. Breve. – falou Jubal com a cara séria.

--- E as vacas? – perguntou Nazinha se referindo ao cercado que Jubal falou.

--- Estão lá. Mugindo uma para outra. Estão fazendo serenata. – sorriu o homem.

Com isso, a mulher caiu na gargalhada como ninguém tinha visto. Ela sorriu tanto que quase derrubou a mesa do café. E os outros fregueses da manhã também acharam graça até demais. Não se sabe se por causa da serenata das vacas ou pela risadagem de Nazinha. O Café de Nazinha tinha dessas coisas quase sempre. Alguém dizia uma coisa e era o suficiente para que todos os marmanjos caíssem na gargalhada e depois saíssem comentando o fato ainda sorrindo. Essa de Jubal foi uma das tais. Por vários tempos alguém comentava a seresta das vacas com sorrisos amplos na face. E quem ouvia também sorria como ninguém.

Em uma sexta-feira bem antes do casamento de Jubal e depois que ele comprou a fazenda de seu Ferreira, no local Mangabeira, perto do município de Macaíba, ele combinou com José, roceiro do sítio que Jubal mantinha próximo à linha do trem, perto da Feira do Paço, do rapaz conduzir um cavalo dos dois existentes naquele local para a Fazenda Dos Dois, pois era assim que colocou o nome na sua granja. O rapaz concordou em ir, seguindo Jubal – ele à cavalo e Jubal no seu automóvel. E fizeram valer o compromisso logo cedo do dia. Jubal seguiu a estrada das Quintas, parando para esperar por José que vinha a cavalo e depois seguir até a Curva da Morte, local de extremo perigo para quem viajava de carro. Outra parada até o rapaz chegar. Jubal ainda perguntou a José:

--- Cansado? – perguntou Jubal.

--- Não senhor. – respondeu José sorrindo.

---Essa é a Curva da Morte. Quem viajava por essas bandas sempre corre o risco de morrer ou ficar ferido em um acidente. – comentou Jubal a José.

--- Sim senhor. Ainda não conhecia. – respondeu o rapaz.

--- Pois é. Eu vou segundo e lhe espero na curva, adiante. Vamos? – perguntou Jubal sorrindo do cansaço que o rapaz demonstrava ter.

E assim seguiu o trajeto parando aqui e acolá até chegar à chácara Fazenda Dos Dois. Na viagem, só eram Jubal e José. Ambos desceram – um, do carro e o outro do cavalo – e ficaram inspecionando a Fazenda. José ficou de boca aberta ao ver tantas árvores frutíferas como pés de banana, uma mata de camboím, jacas e muitas outras árvores cheias de frutos.

--- Admirado? – perguntou Jubal a sorrir.

E o rapaz José só fez sorrir. Então, Jubal percorreu todo ou grande parte do terreno, vendo as vacas, cabras, bodes, carneiros, ovelhas e até mesmo galinhas, algumas de origem pedrez. Aquilo era um mundo para Jubal. A casa grande estava toda trancada e a casa do homem que tomava conta do terreno e de tudo, era a única que estava aberta. Na meia porta se encontrava uma mocinha curiosa que olhou para José e logo se afastou. O homem que tomava conta do cercado, o caseiro. Abriu a porta de baixo, abotoando a camisa, e veio até Jubal, dando os seus cumprimentos de sempre.

--- Bom dia patrão. Trouxe um cavalo? – perguntou o caseiro.

--- É. – então virou Jubal para olhar o cavalo – Esse é o Otário. Tenho outro no sítio. – falou Jubal com um sorriso na face.

--- Otário? Que nome! – sorriu o caseiro.

--- Crio solto. Pra ele não morrer de fome. – sorriu Jubal.

--- Otário! Quem já se viu? – argumentou o caseiro examinando o cavalo

Otário deu um coice espantando as moscas e relinchou. Depois fez uma espécie de “sim”, com a cabeça, balançando para cima e para baixo.

--- E ele entende! – sorriu o assustado.

--- Ora se não. Isso é burro mesmo! – comentou Jubal a sorrir olhando o cavalo.

O animal parece não ter gostado da piada e deu um relincho mais forte balançando a cabeça para cima e para baixo. E o homem se afastou da fera temendo que ele virasse para o seu lado.

--- Seu nome é? – perguntou Jubal.

--- Manoel. – respondeu o caseiro. – Morro ali, naquele casebre. – finalizou o caseiro.

--- Ah bom. Eu vou deixar o cavalo aqui. Vou tirar os arreios e soltá-lo para ele comer galinhas. – sorriu Jubal ao dizer isso.

--- Minhas galinhas? – perguntou o caseiro Manoel espantado.

Quando já estava de volta, vindo no seu carro, acompanhado de José, no banco da frente, ele avistou de longe algo estarrecedor. Procurando ver bem melhor, tinha um caminhão capotado na beira da estrada de areia, na Curva da Morte, e várias pessoas gemendo e outras desacordadas. Havia carros no local do desastre recolhendo os feridos e enfermos do acidente. Com mais vagar, Jubal se aproximou e viu os corpos largados pelo chão, feridos sendo socorridos para o Hospital da Cidade, dois carros despedaçados na estrada de areia. O caminhão virou para o lado da curva e o outro foi sacudido longe da estrada. Era um lamento só aquele acidente. Mulheres, mocinhas, meninos, homens e anciãos largados no meio da estrada. Alguns ainda escaparam com vida e estavam colocando os feridos dentro dos autos que estacionavam próximo ao local do incidente. Nesse momento, Jubal e José correu para socorrer aqueles que mereciam de socorro, fazendo de improviso a parte de trás do seu automóvel em uma espécie de cama, colocando quem podia se sentar dentro do carro e seguindo para o Hospital da cidade.

--- Desastre, meu Deus!. Desastre! – lamentou cruelmente o condutor do carro.

--- É isso que estava a dizer para esse rapaz: é a Curva da Morte. – discorreu Jubal atarantado prosseguindo em sua viagem para a capital.

Ainda havia mortos e feridos na estrada. Os feridos a espera de socorro. Já era uma hora da tarde quando o carro chegou ao Hospital.

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