sexta-feira, 6 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 35 -

- MEIAS DE SEDA -
- 35 -
Naquela manhã de primavera, Inaldo viu um ébrio urinando sob um pé de oiticica, em plena praça do mercado. Para os demais, aquilo não tinha importância. E nem para Inaldo também, não fora a presença de uma senhora fina e distinta que estava saindo do Mercado e viu tal cena. A mulher exclamou como se estivesse com um profundo medo de tal rapaz está urinando em plena luz do dia em baixo de uma oiticica. A mulher soltou um grito inesperado se voltou correndo para dentro do Mercado, com os pacotes de compras a colocar em seu rosto como se tivesse visto o diabo em carne e osso. Nesse ponto, Inal não sabia o que era mais gozado ver o bêbado a urinar ou ver a mulher a correr. Isso durou um instante, não muito mais. Quando se deu pela razão, Inaldo estava a achar graça tremendamente por causa da ação da mulher que voltara de vez para o interior da casa de comercio.
--- Ave Maria! – foi o que disse a senhora cobrindo o rosto e entrando para o interior do Mercado Publico.
A mulher era magérrima para todos os efeitos e só com o vento era capaz de subir e voar sem vassoura para não se pensar que ela era uma bruxa. Fina que nem um palito era a distinta senhora. Ela era como se fosse uma tábua de engomar e nada mais. Sem peito de bunda. Uma mulher esquálida para melhor dizer. Em meio do pessoal que estava fazendo compras naquela hora da manha, logo cedo, e bem cedo mesmo, a senhora se embrenhou por toda aquela gente e desapareceu no espaço. Não deu tempo para Inaldo olhar qual local a mulher magérrima tomo. Ele apenas achou tremenda graça a contento com o susto que a senhora levara então.
Quando Inaldo chegou ao Café de Nazinha já encontrou sentado em um tamborete, a conversar com Jubal o seu amigo recente de casos que ninguém entendia: Mauricio ou Lunático como todos o conheciam. Ele já pegou a conversa no meio do caminho. Mesmo assim ouviu o que o Lunático falava com relação a outros assuntos. Inaldo pôs a ouvir e nada comentou. Lunático parecia ciente do que falava e deixava Jubal de boca aberta sem nada poder falar também.
--- Qual a “Palavra perdida”? – perguntava o Lunático.
--- Nada desse assunto eu entendo. – respondeu Jubal com sinceridade.
--- Pois bem. Não existe palavra perdida. Quando um maçon. conversa com outro ele está falando um assunto que só interessa aos dois. – explicou Lunático.
--- Ah. Sim. – desconversou Jubal fazendo de conta que entendia.
No meio dessa conversa houve uma confusão no Café da Doca, local no inicio dos Cafés existentes no lugar. Um homem armado com um revolver ameaça de morte a moça Zilene, filha da dona do Café. Formou-se uma verdadeira balburdia em tono do Café e dos outros também, além de amedrontar os talhadores de carne verde, os verdureiros instalados em outro local em frente à pedra da carne e até mesmo a vendedora de goma seca que estava naquele local desde o inicio do expediente, as cinco horas da manhã. A mulher saiu correndo com a bacia de goma seca empunhada sobre a barriga. Ela era uma mulher de corpo avantajado e só vendia goma usando vestido branco. Nesse mesmo instante, um homem puxando uma concertina entrou no Mercado. Ele estava acompanhado de um tocador de zabumba, um tocador de pandeiro e um tocador de triangulo. Com toda desenvoltura, arrastando os pés calçados com uma chinela o homem baixo sorria a beça como se nada estivesse acontecendo no local. Ele era toda alegria enquanto o povo corria assustado para longe do Café de Doca. Era o temor de um assassinato a qualquer instante. Inaldo saiu do Café de dona Nazinha e foi para o lado de Zilene. Em seguida, a mãe da moça se agarrou com a filha dizendo:
--- Não mate a minha filha!! – gritou desesperada dona Doca.
Um sargento da policia que estava sentado num tamborete de um Café ao lado de Doca, se levantou e de imediato disse:
--- Não atire seu sujeito. Você está preso. – falou o sargento.
O homem não ligou a ameaça do sargento dizendo que:
--- Essa vagabunda me fez comer dois meses de cadeia e agora vai receber o troco. – falou gritando o homem.
Zilene se revoltou e falou para o sujeito.
--- Comeu cadeia porque você quis me matar, seu nojento. Não tenho nada com você. Agora venha! – gritou Zilene enfrentando a fera.
O homem que tentava matar Zilene era o tal de Tulipa, que foi preso no Paço. Ele estava de arma empunhada para disparar o tiro a qualquer maneira. Se não atirava era porque lhe faltava alvo. O alvo era Zilene, a mulher que ele disparou três tiros contra ela no quarto do Solar onde essa estava fazendo amor com um homem desconhecido. Tulipa tinha ciúmes de Zilene por uma coisa ou por outra. Dos três disparos ele acertou um nas costas da moça. Ela teve cuidados médicos e conseguiu escapar com vida. O homem, Tulipa, não se conteve e foi até ao Mercado completa o restante daquilo que iniciou. O negócio era matar Zilene. Por isso, todo o povo, amedrontado, se escapuliu ficado apenas o sargento, a mãe de Zilene, Inaldo e outras pessoas que se esconderam em baixo das bancas do mercado. O homem da concertina continuava a toca sob o auxilio do bombo que estava cuidado de um ritmo muito bem surdo. Em um instante sem atinar por que estava fazendo, um garoto pulou da mesa de venda de carne verde, e escapou até onde se encontrava Tulipa. Era um moleque de cor negra que nem carvão. De imediato, o negrinho sacou de um trinchete e, puxando Tulipa de lado, cravou a faca no peito do homem que, amedrontado, ainda olhou para o moleque e viu seu sangue escorrer por cima da camisa branca. Tulipa tentou acerta um tiro no moleque, porem foi o tempo do sargento da polícia se agarrar com Tulipa e lhe tomar a arma. O moleque ainda fez nova furada no peito de Tulipa. Esse caiu no chão do Mercado, estrebuchando para morrer. Tulipa nem sequer falou. Apenas gemeu. Em poucos minutos estava estirado já morto. O Sargento da Polícia disse ao garoto:
--- Fuja se não eu te prendo. – falou de forma ríspida o policial.
Inaldo, apavorado, puxou Zilene para fora do Café e levou consigo. Jubal, que estava distante, apenas viu a cena macabra e se assombrou, saindo em seguida. A mãe de Zilene somente gritava;
--- Traga a minha filha, criminoso!!! – gritava a mulher rasgando a goela.
O toque do zabumba conduzia o ritmo da concertina. O surdo se ia quase sem se ouvir enquanto o coração de Tulipa parava de bater. O negrinho saiu desenfreado pela porta do lado onde os carros da carne verde entravam no final da tarde e em um instante pegou rumo ignorado. Com muito vagar, o pessoal se aproximou para ver de perto o cadáver de Tulipa.
--- Eu conheço ele. – dizia alguém.
--- Também acho que já vi por essas bandas! – comentava outro.
De alguma parte veio uma coberta e se pôs em cima de Tulipa. O movimento voltava ao normal no interior do Mercado. Ouviu-se o toque de um clarim chamando os recrutas para que se apresentassem em frente ao Quartel do Exercito que ficava ao lado do ponto de comercio da cidade. Uma patrulha policial se apresentou para evitar que alguém prejudicasse o corpo de Tulipa que ficaria ali até que um médico legista visitasse o defunto e anotasse as circunstancias em que foi morto. O movimento no Café de Doca acabou naquele instante a não ser por parte de alguém que estava a olhar o corpo do homem. Apenas o Sargento da Policia permanecia no local para entregar a arma a um seu superior ou ao médico legista. Zilene escapou com Inaldo para somente depois se apresentar a Policia, no Distrito da Cidade. Isso era uma coisa que a moça não gostava de fazer: se apresentar a um delegado. Afinal, foi por causa de sua fama que Zilene caiu na perdição. E ter que falar com o delegado naquele instante para ela não tinha nada de bom. No instante seguinte, chega o delegado distrital e o sargento entregou a arma do morto.


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