quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 33 -

- MEIAS DE SEDA -
- 33 -
Quando Inaldo saiu do Mercado da Cidade ainda encontrou uns alegres seresteiros vindos da Feira do Paço a entoar melodias melancólicas como a que então ouvira que tinha o nome “A Primeira Vez”. Dizia a letra bem sincopada que o rapaz pela primeira vez que encontrou a jovem moça ele alimentou a ilusão de ser feliz. Então o seresteiro dizia que lindos versos ele fez e guardou em seu coração. Mas um dia a prima dona partiu e a sua vez ele perdeu para sempre. E no momento, sem poder cantar tem para si o consolo de chorar. Inaldo sorriu dos versos que ele ouviu. Então falou baixo para que ninguém pudesse ouvir:
--- É danado! Parece até comigo! – recitou Inaldo a caminhar para a Prefeitura.
Ele seguia para a repartição e viu que o cavalo de seu Jubal estava amarrado em um pé de mungubas – as famosas mungubeiras - que se assentava no terreno ao lado do Mercado. E falou consigo mesmo por conta do cavalo:
--- Ele ainda está lá dentro. – pensou Inaldo com relação à Jubal.
No instante em que estaria a dobra a esquina no ponto onde fora – bem antes – o Royal de Cinema, Inaldo esbarrou de frente com Paulo Vasconcelos, o Padre, como todos os colegas o chamavam e ouviu dele apenas essa resposta:
--- O Bispo não aconselha. Leu faz tempo, quando ainda era do Seminário Maior. – falou o Padre o que para Inaldo já não representava coisa nenhuma em sua lembrança. E então ele perguntou ao Padre.
--- Leu o que? Não lembro o que perguntei a você! – dialogou Inaldo cismado.
--- O livro. O que você me perguntou sobre um Santo. – respondeu o Padre.
--- Livro? Mas que livro? Ah, já me lembro. O Santo Graal. Eu comprei o livro. Não tem nada demais. Pra dizer a verdade, são lendas. Parece que do tempo medieval. Li o volume. – replicou Inal ao seu colega.
--- Ah, bom. Eu vou ao Mercado. Você sabe se já está tudo aberto? – perguntou o Padre meio preocupado.
--- Deve está. Não sei se todos os locais. Mas, se for a carnes, este você encontra aberto. – falou Inaldo sem se preocupar.
--- Não. É o do sapateiro. Quer dar uma brocha neste salto. Só isso. – e disse isso saindo para o Mercado da Cidade mais parecia uma lancha com a face para frente e os pés rápidos.
O Padre saiu e Inaldo ficou a olhar dizendo sozinho.
--- É doido mesmo. E o livro? – e caiu na gargalhada assombrando quem passava.
Nesse meio tempo, Jubal estava buscando de vagar nos tabuleiros que ficavam em frente ao Mercado uns pés de rosas-dálias, coisa que o feirante de rosas vendia com precisão entre outras roseiras como açucenas e camélias. Com muita paciência Jubal estava com bastante calma de buscar as dálias perguntando encismado ao vendedor que cor era as dálias que o homem vendia.
--- Essas aqui são brancas e essas outras são róseas. – disse o velho que vendia rosas em jarros prontas para se plantar.
Então escolheu cinco pés de orquídeas e dálias que pudessem combinar quando então florescessem. Depois de entediante procura e compra, Jubal rumou para onde deixou o seu cavalo e dali seguiu para a sua casa. Antes de sair arranjou uns trocados para dar a um ancião que estava a rogar pelo amor de Deus uma esmola por divina caridade. Feito isso, o homem zarpou tranqüilo de consciência limpa. Na estrada para casa Jubal somente pensava em Salésia. Nas rosas vermelhas e brancas que a fariam feliz. Pensava Jubal no perfume meigo que havia de florescer, um dia, qualquer dia quando a moça meiga como a flor lhe daria êxtase eterno como a um boêmio da vida. Sonhos de um quase velho homem, um quase cinqüentão a procura da eterna felicidade após tanto tempo sem amor. Escravo de amor e ansioso de pleno desejo desde que a conheceu nos trilhos da infindável vida. Era assim que a tinha desejado enfim.
Nunca dissera isso a ninguém para não desnaturar seus prestimosos anseios. Contudo, Jubal sabia muito bem que havia naquele olhar infantil um convite dileto ao seu olhar melancólico e cheio de desesperança. Na flor daquela boca pequenina havia sugestões mil de um verdadeiro amor. Para o homem, Salésia era o seu eterno viver, desde que viu criança. E então por isso lhe desejou eterno bem, pois a seu ver, não havia ninguém cujo olhar fosse o da doce menina na sua voz maliciosa feita as luzes de uma perfeita fêmea. Por isso, no tal sereno momento somente lhe tinha palavras de brandura, afeto e amor. Naquele momento Jubal era apenas o pensar do que seria a fonte dos seus eternos e felizes desejos. Em um momento rápido e acelerado, ele retirou tudo de sua reminiscência, pois saberia em que aquilo resultaria afinal. Jubal voltaria a pensar em cavalos e fenos, coisa do dia-a-dia que era bem melhor.
Quando chegou a frente de sua casa, Jubal desceu do cavalo e amarrou em um pé de pau que havia em frente e passou a retirar as latas com as mudas plantadas. Então, depois de descer, ele entrou no partiu externo da casa, um espaço de uns três metros de comprimento do muro da o inicio da habitação. Talvez estivesse em casa a empregada doméstica que ele a contratou para fazer as tarefas do dia. Jubal pôs as latas com os pés de mudas no batente da casa e gritou para dentro a chamar a empregada.
--- Eunice, você está aí? – gritou Jubal para os confins da habitação.
Em um instante a mulher, com um pano de prato nas mãos com quem enxugava as próprias mãos com aquele pano e veio quase que correndo, abrindo a porta e falando para Jubal, meio atarantada:
--- Senhor, seu Jubal? – exclamou a empregada com olhos bem abertos.
--- A turma? – perguntou ele se referindo ao menino Otávio e a menina Olinda e a moça Oceanira que ele procurava saber.
--- Foram para a Escola, faz tempo. – respondeu Eunice meio assustado.
--- Ah, bom. Está bem. Eu trouxe umas mudas de roseiras para plantar. Vou ver se planta aqui mesmo. Disse o homem que elas pegam em uma semana. Vamos ver. São cinco. Você me ajuda? – perguntou Jubal a Eunice.
--- Pois não, seu Jubal. – e a mulher correu para o pátio onde estavam as mudas e Jubal
--- E o menino? – perguntou Jubal se referindo a José, neto da mulher que estava a ajudar no plantio das mudas.
--- Ele foi para o sitio do senhor. – respondeu a mulher ajoelhada no terreno para plantar as mudas.
--- Aquele garoto vai longe. Eu acho que vou deixá-lo a tomar conta do sítio. – replicou Jubal com referencia a José.
--- Ele é esperto, mas muito novo ainda. – retrucou Eunice em favor do garoto.
--- Eu sei. Eu sei. Mas quando eu tinha a idade dele já tomava conta de um plantio de feno maior do que o meu. – respondeu Jubal cavando o buraco para plantaras roseiras
A mulher ficou meio duvidosa e cuidou apenas do plantio das roseiras. Em pouco tempo estava tudo pronto. Eunice foi quem disse:
--- Pronto, seu Jubal. Está tudo plantado. Agora é esperar. – sorriu Eunice.
--- É. Agora só falta aguar. E todo dia você me peça para aguar as roseiras. De manhã e a tardinha. Não esqueça. – advertiu Jubal uma vez olhando para Eunice que só estava de olho das mudas.
--- Não esqueço não. Pode deixar que ele faz. – respondeu Eunice olhando para Jubal.
--- Bem. Vou tomar banho e seguir de novo para o sítio. Vou ver os pedidos do Quartel e da Prefeitura. José é medonho. Capaz de ele já ter feito o trabalho. Mas, eu tenho outro sitio pegado com o meu. Quem toma conta é um homem aleijado. – respondeu Jubal a Eunice.
--- Aleijado? Virgem! – exclamou Eunice com o maior medo.

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