terça-feira, 10 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 39 -

- MEIAS DE SEDA -
- 39 -

No momento em descia a cavalo a Rua da Pedra, de momento Jubal ouviu um buzinar de automóvel advertindo que vinha a passar. Era no cruzamento da Rua da Pedra com a Rua da Salgadeira, ponto onde Osias morava. Jubal freou cavalo quase no instante em que o veículo passava. Esse era um auto de boa forma e levava dentro dele um casal que logo o homem reconheceu: Nestor Rossetti, o marido, e Walquiria, a mulher. Nestor, ele viu por passar próximo ao seu cavalo, na direção do veículo. A mulher, por ter feito um aceno com a mão por fora do automóvel como se estivesse dando adeus ou mesmo como vai e mesmo estou aqui. Coisa que se fazia bastante ao tempo de Walquiria. Por isso Jubal sorriu e deu o seu adeus de volta a contento. Logo adiante o carro estacionou e Walquiria sorriu para Jubal a perguntar a ele como estava a passar. O homem, montado em seu cavalo vinha até ela se acercou dizendo que tudo estava bem. Nestor Rossetti desceu do auto e cumprimentou Jubal que continuava a chegar para próximo ao carro. Ele ouviu Walquiria dizer ao marido:
 
--- Aquele é Jubal. Foi minha testemunha. – disse Walquiria dizendo baixinho ao seu marido. E esse afirmou de que estava lembrado dele na festa no Grande Hotel.

No momento em Jubal se acercou mais próximo do veículo, Nestor Rossetti se alegrou e disse que estava fazendo as compras para a casa de Osias, o que de fato dava para ver, pois a moça. A olhar as compras e Jubal, apenas dizia:

--- Compras! – disse a moça para Jubal, sorrindo.

--- Estou a ver! – respondeu Jubal com alegria.

--- Fazemos toda a semana essas compras! – falou Walquiria a sorrir.

--- É para a casa de seu pai. – emendou o homem como se não soubesse de que Jubal já de há muito sabia.

--- Um bom homem, Osias. – argumentou Jubal.

--- É. Um bom homem. Perdeu uma perna e continua a trabalhar. – falou Nestor.

Jubal continuava a percorrer o carro, uma vez já escoteiro, pois saltara do seu cavalo que aproveitava o tempo para comer um pouco de ervas plantadas no meio da rua. Era o costume de asnos e cavalos. De seu lado, Jubal olhava o veiculo que o Rossetti dirigia e por fim perguntou de modo sem querer comprar o carro.

--- Belo carro. Quando custa um carro desses? – perguntou Jubal pensativo.

--- Ah, esse me custou um pouco caro. Mas, se você tem intenção de comprar um mais barato, tem na Ribeira um vendedor de carros usados de nome José Pereira. Ele é muito conhecido no bairro. E fica ali o dia inteiro. – respondeu Rossetti.

--- Bom. Muito bom saber disso. Na verdade, eu tenciono comprar um carro. Andar só de cavalo me cansa muito. Um carro é melhor. Tem seus desacertos e consertos, é verdade. Porém, não come capim. – e Jubal achou graça. Em seguida por Rossetti.

--- Esse meu é bom. Talvez não seja o melhor. Dá pouca oficina. Tem seus problemas, é certo. Bebe pouca gasolina. E dá pra levar a vida. – recomendou Rossetti.

--- Vou aparecer na Ribeira. Segunda, no mais tardar. Quem sabe se eu dou certo com esse rapaz! – sorriu Jubal sem que nem mais.

--- Apareça. Apareça. Eu posso ir até com o senhor. Minha Loja fica próximo do local onde Pereira se encontra. – sorriu Rossetti.

--- Pois bem. Eu já vou. Tomei o tempo todo de vocês e agora tenho que ir. – sorriu Jubal para Rossetti.

--- Que nada. Foi um prazer. – falou o homem enquanto a moça chegava do interior da sua casa.

--- Já vai? – perguntou Walquiria demonstrando surpresa.

--- É. Tenho que ir. Mas segunda-feira eu encontro vocês. – sorriu Jubal.

--- Ele tem que ir. Pois então estamos combinados. Segunda-feira, sem falta. – sorriu Rossetti enquanto punha os pacotes na calçada da casa de Osias.

--- Ele é o dono do capinzal depois da linha do trem. Meu pai trabalha para ele. É um bom camarada. – explicou Walquiria ao marido.

Ao voltar para o sitio do capinzal, Jubal, quando galopava devagar, parou por conta de uma mulher que chegava ao cruzamento da Rua da Salgadeira com a Rua da Pedra. A mulher de medo se assustou com o cavalo, porém esse já estava freado por força do seu montador. Jubal olhou para a mulher e disse que a mesma podia passar. A mulher não quis passar dizendo:

--- Que susto! – falou a mulher, pálida, com as suas mãos aos seios e temerosa com a montaria que estava na sua presença.

--- Pode passar. Ele está seguro. Passe! – disse Jubal confiante o sorrindo.

--- O senhor é que pensa. O bicho pode dar coice! – tremeu a mulher ao dizer isso.

Jubal tornou a sorrir e perguntou a mulher se ela estava indo para a Feira do Paço, pois ele estaria indo na mesma direção. E por isso é que ele podia frear o cavalo pelo tempo que quisesse. A mulher olhou para Jubal de forma curiosa. E perguntou a ele:

--- O senhor trabalha da feira? – indagou a mulher.

--- Não senhora. Eu trabalho bem perto. Vou a feira comprar milho para os cavalos que estou a criar. – respondeu Jubal de forma tranqüila.

--- Ah, bom. Eu pensei que o senhor trabalhasse da feira. Se a minha memória não falha, tenho a impressão que conheço o senhor de algum lugar. –replicou a mulher com o rosto franzido.

--- Daqui mesmo. Eu passo todo dia por aqui. Talvez a senhora tenha me visto um certo dia qualquer. – respondeu Jubal, montado no cavalo e sorrindo leve.

--- Não. Não. Faz tempo. Eu moro aqui há bem poucos dias. Mas faz mais tempo que conheço o senhor. – respondeu a mulher.

--- Talvez da Igreja. A minha cara confunde muito as pessoas. Outros pensam assim e outros pensam assado. Isso é normal. – contestou Jubal.

--- É. Pode ser. Mas eu vou passar porque se não este cavalo de morde. – temeu a senhora ao começar atravessar a rua.

Nesse ponto, Jubal não se conteve e caiu na gargalhada pedindo desculpas à senhora, pois não queria a ofender. Naquele instante ele recordou Nora, a sua ex-mulher. E sentiu uma forte aparência entre Nora e aquela mulher. Coisa normal de acontecer. A mulher tinha toda a figura de Nora. Se a sua ex-esposa não tivesse morrido, como ele sabia que morreu, era sinal de entender que Nora tinha revivido ou retornado a vida outra vez na figura de outra pessoa. A mulher era tão parecida que até nos medos de animais era a mesma coisa. De um jeito ou de outro Jubal deixou a mulher passar sem deixar de perguntar mais uma vez:

--- A senhora mora aqui perto? – perguntou Jubal desatento.

--- Moro ali na Primeira Travessa. É logo perto. – respondeu a mulher sem mais se preocupar enquanto se afastava do animal.

Jubal ficou a pensar na semelhança existente entre sua ex-mulher e a outra senhora causa que lhe provocou espanto. Embora de vestido longo de varias cores, a senhora mesmo assim era parecida demais com Nora. Talvez fosse prima de Nora. Talvez. Ou seria pura coincidência aquela semelhança. De momento para outro, Jubal já esquecera o incidente havido entre ele e a mulher cujo nome nem se lembrou em perguntar. Se ela disse um nome, ele com o tempo esqueceria de vez. Ficaria só a lembrança daquela fisionomia. Ao chegar ao cercado, ele encontrou a porteira já aberta, pois o garoto José tinha chegado ali horas antes. Por isso nem deu importância ao caso. Jubal soltou o cavalo para pastar e foi a Feira do Paço para comprar milho para os dois animais que ele criava.

Nenhum comentário: