quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 49 -

- MEIAS DE SEDA -
- 49 -
Com a insistência de sua filha Chiquita, mãe de Jubal se levantou da cama onde estava sentada, rezando o terço de qualquer hora e se levantou para ir com ela até a sala de visita ver o que estava a acontecer. Quando chegou à sala fez uma cara de quem olha e não entende muito bem. Apenas vislumbrou o seu filho Jubal e uma moça que estava com ele. Nesse instante perguntou quem era a moça. E o rapaz respondeu que era alguém que desejava conhecê-la. A mulher se voltou para sair da sala e a filha disse logo à sua mãe:


--- Espere minha mãe. Espere. Não é a quem a senhora pensa. Veja direito! – falou Carmen, irmã de Jubal.

--- Olha o que? É uma mulher, ora! – respondeu Chiquita um pouco brava.

--- Mas, não é assim que se faz. Olhe bem como ela se parece! – discorreu Carmen insistindo com a mãe Chiquita.

A mulher de pouco menos de setenta anos se voltou e olhou para a senhora com mais cuidado até que enfim se aproximou da mulher para enxergar de perto e respondeu para a filha:

--- É Nora? Essa mulher é Nora? Isso é bruxaria! Vou embora! – falou a anciã querendo partir de imediato amparado por uma bengala. E então começou a voltar para o seu quarto de dormir.

--- Minha mãe! Escute! Ela é a mesma coisa de Nora. Entenda! – falou Carmen, baixinho, para ver se a anciã entendia.

--- Heim? Não é Nora. Mas se parece com Nora que morreu! – falou a anciã com a voz tépida ao ver novamente a mulher com seus olhos quase cegos pela catarata.

--- Não mãe! Ela é a cara cuspida da defunta! – ponderou Carmen.

--- Ah, é? Deixa me ver! Como é o seu nome, moça? – perguntou a anciã.

E a moça respondeu para tirar o espanto geral que reinava no ambiente.

--- Bom dia, dona Chiquita. Meu nome é Natália. Prazer em conhecê-la. – sorrio Natalia

--- E como é que essa doida me pôs confusão na cabeça? – perguntou Chiquita a sua filha Carmen.

A senhora sorriu e disse apenas que aqueles que a conheceram quando era menina sempre diziam que elas eram irmãs. Quando conheceu Jubal, este também teve a mesma impressão. Isso depois de tantos anos passados. E naquele momento Jubal quis fazer uma surpresa a sua mãe a levando para sentir com a igual forma a anciã reconhecera como Nora, a primeira e única esposa de Jubal. Natália fez saber que não era a mocinha que a anciã pensava ser. Sua profissão era de mestra de ensino e conhecera Jubal por acaso quando caminhava para a Feira do Paço.

--- Ah, bom. Sente-se. Sente-se. Eu mando servir um café para a gente tomar. Sente-se. Sente-se, por favor. – proferiu a anciã Chiquita então que a surpresa foi desfeita.

E as duas mulheres conversaram como nunca. Natália dizendo que conhecera Nora quando menina. Elas estudavam no mesmo colégio. E chegou a contar peraltices que as meninas fizeram em classe quando uma professora perguntou qual das duas era Nora. E ambas disseram a uma só vez:

--- Essa! – apontando cada uma a uma só vez em direção oposta. Nora dizia que Nora era Natália e Natalia dizia justamente o contrario: Nora era a outra.

Isso deu muita gozação por parte dos alunos, com toda a gente gargalhando numa verdadeira anarquia. A turma batia nas carteiras e cadeiras de madeira enquanto a professora alertava:

--- Parem com isso! Ora já se viu? Eu ponho todos de castigo se continuar assim! Quem é Nora afinal? – perguntou a mestra cheia de raiva.

--- Essa! – fizeram as duas ao mesmo tempo.

E a aula terminou por aí com todos os alunos sendo postos de castigo absoluto a rezar um rosário inteiro. Quem terminasse logo, continuava a rezar de novo. E assim foi o tempo todo com os escribas há sorrir o período inteiro. Ao fim do momento de aula a professora só fez dizer:

--- Amanhã não tem aula! Podem sair! Vocês me deixam louca! A minha paciência acaba! E vocês duas, venham já pra cá! Escrevam seus nomes até encher o caderno! Só voltem quando encher as folhas! Ouviram bem! – gritou a professora com os olhos bem arregalados.

Com essa história a anciã Chiquita, a irmã de Jubal e o próprio Jubal caíram na gargalhada recordando o tempo de escola onde cada um fazia o pior que podia fazer. À hora do almoço avançava e a visita acolheu o pedido de Carmen para almoçar. Os dois filhos de Carmen – Roberto e Ricardo – estavam presentes àquela hora da refeição. Jubal não se fez de rogado. Um lauto almoço foi servido e até vinho e champanhe Jubal e os seus sobrinhos foram comprar para que todos, menos Chiquita, bebessem para valer. Foi uma tarde de festa com as amizades foram refeitas entre Jubal e Carmen, coisa que já durava um bocado de tempo. Os irmãos acordaram em que ficasse a casa onde estava do jeito em que fora feita e a mãe dos dois irmãos podia voltar quando quisesse, pois, afinal, não haveria mais má querência entre ambos. Os filhos de Carmen – Ricardo e Roberto – aplaudiram a iniciativa dos dois irmãos. Na oportunidade, Jubal tomou a iniciativa de pedir a mão de Natália em casamento uma vez que dona Chiquita fazia bom proveito desse acerto. A anciã Chiquita, com o rosário da mão, não conteve as lágrimas ao ver o filho beija a mão direita de sua noiva. E dizia sem mais rancor:

--- Nunca mais tinha visto noivado tão lindo como o do meu filho Jubal! – e caiu no choro para todos os efeitos.

A festa de noivado durou até as cinco horas da tarde, quando os noivos se despediram dos que ficavam com a promessa de dona Chiquita voltar de imediato para a sua casa e Carmen também fazer visitas mais constantes à sua mãe.

Três meses após, houve o casamento de Jubal e Natália, na Igreja da Catedral e todos aplaudiram com entusiasmo a festa dos nubentes. Estavam presentes dona Chiquita mãe de Jubal, a irmã Carmen, os filhos desta, Ricardo e Roberto, e o filho e filhas de Jubal, como sejam Otávio, Olinda e Oceanira. Todos os presentes eram de completa alegria. Eles olhavam a madrasta como sendo a sua verdadeira mãe pela semelhança que Natália estampava em seu rosto. Delicada e cheia de encanto, a senhora não só depositava a alegria bem como a satisfação de poder casar com o homem que ela vira unir com a sua melhor e maior amiga: Nora. Mais de quinze anos se passaram e a festa voltou a acontecer, então com a segunda pretendente ao cavalheiro romântico. Ao sair da Catedral, ela ouviu de uma pessoa uma frase que a inquietou. A mulher falou baixo, quase ao ouvido de Natália:

--- Esse homem era marido de sua irmã verdadeira. – cochichou depressa a mulher e desapareceu por entre o pessoal que se aglomerava na calçada da igreja.

Natalia ficou aturdida e não sabia o que pensar. E buscou encontrar aquela anciã por entre o pessoal, mas a mulher desapareceu de imediato. Ele ficou a cismar com o que ouviu da mulher. O seu marido, com pressa para chegar, puxou a mão de sua noiva e muito alegre, disse:

--- Vamos querida. Vamos passar a perna neles! – pronunciou Jubal muito alegre.

A senhora Natália, agora senhora mesmo, ainda atribulada com a notícia, entrou no veículo de Jubal olhando sempre para um lado e para outro a procura da desgastada anciã, contudo não a encontrava. O noivo, inquieto, somente perguntou a sua então mulher:

--- Que foi amor? Eles vêm logo atrás! – sorriu Jubal.

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