terça-feira, 17 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 47 -

ZSA ZSA GABOR

- MEIAS DE SEDA -
- 47 -
Àquela hora da manhã, logo cedo, cinco e meia, chega ao Café de Nazinha, vestindo terno branco de brim, seu Jubal com um sorriso alegre na face. Após dar bom dia a Nazinha e aos demais freqüentadores do Café, o homem procurou um banco para sentar, encontrando um tamborete meio solto que para se usar teria que se ajeitar com o corpo. A mulher, notando, resolveu dizer a Jubal que aquele tamborete não prestava para se sentar. Era melhor ele procurar um outro que estava guardado em baixo da mesa.Jubal não se fez de rogado e encontrou o outro tamborete. A conversa era a de sempre que os freqüentadores do Café ouviam. Um balaieiro passou com sua pressa carregando um balaio cheio de compras de um cidadão e disse para dona Nazinha que por sinal estava de costas para ele e para a rua:

--- Volto já! – informou o balaieiro sem se virar e com a cabeça bem colada ao corpo mais parecia ter nascido assim.

A mulher nada respondeu e perguntou a Jubal vendo o homem todo alinhado para uma manhã de qualquer dia.

--- Que chique! Vai à missa? – sorriu a mulher ao perguntar tal episódio.

--- Não. Não. Vou ver minha mãe. Mais tarde. É que me arrumei para levar uma moça até ela para lhe apresentar.

--- Ah, bom. Casamento? Está na hora de se casar! – brincou Nazinha com Jubal.

Jubal sorriu e não disse nada. Emendou para outra conversa que não tinha nada a ver com casamento. Era mais para descartar o assunto. E foi assim que ele falou:

--- Tem um sítio em Mangabeira, caminho de Macaíba, perto do famoso Engenho Ferreiro Torto que o homem dono da terra quer vender.

--- Onde fica? – perguntou Nazinha com seu bule de café quente trazendo para a mesa.

--- Mangabeira. Perto do Ferreiro Torto. – respondeu Jubal.

--- Ferreiro Torto! (pensou a mulher). É por que o homem era torto mesmo? – sorriu Nazinha ao perguntar novamente.

--- Parece. Parece. Diz a história que no local tinha um ferreiro que punha ferraduras em cavalos, bois e coisa e tal. No local também tinha um coqueiro que era torto. Daí o nome que o povo colocou. Ferreiro em baixo do coqueiro torto. Dizem. – sorriu Jubal.

--- Engraçado. Minha avó falava muito nesse Ferreiro. – sorriu a mulher buscando tapioca e macaxeira para servir ao seu Jubal.

--- É. Ainda hoje se fala no Ferreiro. Como também Peixe-Boi. – sorriu Jubal.

--- Ah. Esse eu me lembro. Era menina quando minha mãe dizia que ia para Peixe-Boi. Interessante! – (pensou Nazinha) – Eu nunca vi peixe boi por lá. – sorriu a mulher com bastante franqueza.

E então sorriu Jubal e os outros freqüentadores do café com a hilariante proeza de dona Nazinha.

--- É o povo que inventa. – respondeu um circunstante do Café.

--- É. É povo. Não tem Quintas? O que diabo é Quintas? – perguntou a mulher a sorrir.

--- Quintas tem sentido. Era um português que arrendou do Governo um terreno localizado naquela região e em troca pagaria uma quinta parte do lhe renderia de seu plantio. Depois vieram outros portugueses. ...uns quatro. ...e também requereram parte da terra em troca do pagamento da quinta parte do que eles tirassem da terra. É por isso é se chama de Quintas. – explicou Jubal.

--- Dá pra ver. Eu pensava que era porque era longe. Lá pros quintos dos infernos. – caiu na gargalhada a mulher.

E todos sorriram com a impetuosidade de Nazinha que, enfim, nunca parava de trabalhar trazendo cuscuz, tapioca, mungunzá, macaxeira e sem falar no café.

--- Leite? – perguntou a mulher em volta das cozinheiras que a ajudavam.

--- Um pouco! ... Basta! – fez um circunstante com as mãos.

E a mulher pôs um pouco de leite no caneco em que o homem tomava café.

--- E o sitio? – perguntou Nazinha a seu Jubal que já estava de boca cheia de tapioca.

--- Pois é. Eu tenho que ir ao local. Têm vacas, cavalos. ... A peste dos cavalos. ... Eu me lembro do “Otario”. – sorriu Jubal de boca cheia espalhando tapioca pra todo lado.

--- “Otário”? Que “Otário”? – perguntou Nazinha se assustando de vez.

--- É um cavalo que eu tenho. Todos que me conhecem acham graça porque eu o chamo de “Otário”. – sorriu Jubal ainda com a boca cheia de tapioca. – Mas ele é Otário mesmo. – gargalhou Jubal naquele instante.

Os demais que estava no Café olharam um para o outro e também acharam graça pelo modo como que Jubal se comportava. E nem ligava para a sua roupa toda respingada de tapioca. E Nazinha gargalhou por que os outros também gargalhavam.

Ao passar esse bom tempo, Jubal largou para o sitio onde já estava pego no serviço o garoto José, já um pouco alto, corpo largo e com uma barriga saindo das calças. Ele, Jubal se comportou pelo modo como vestia e deu as ordens ao rapaz que já sabia até de co. Em seguida disse ao jovem que tinha que sair para uns compromissos inadiáveis sendo assim que logo subiu para pegar o seu auto em cima na Rua Ocidental onde deixara estacionado. Um trem que passava de norte azucrinava o juízo de Jubal com aquela barulheira toda.

Ao chegar da primeira travessa que dava na casa onde morava a senhora Natália, o homem estacionou seu veículo e desceu para bater palmas à porta. Coisa que nem precisava, pois a senhora já estava pronta. Ela falou qualquer coisa para uma moça que estava dentro da casa e logo saiu. Um bom dia foi o que ambos disseram. Dalí em diante Jubal rumou para as Quintas, próximos a Tração, onde sua mãe estava a morar na casa de sua adorada filha de nome Carmen. Em tudo isso Jubal voltou a explicar a sua acompanhante Natália para que a senhora ficasse sabendo do que teria de passar. A mulher era a cópia fiel de sua primeira e única esposa Nora. O homem já estava em meio a um romance com a mulher, talvez por causa da imensa semelhança que essa apresentava com a sua primeira senhora. A mulher se encantara desde a primeira vez que conheceu Jubal em uma festa de casamento com Nora. Porém, naquela ocasião não disse nada. E o tempo passou lento, Jubal ficou viúvo, ela perdeu a ligação com o homem e assim continuou a vida. Solteira para todos os efeitos.

Entremeios, Jubal olhou para Natália e esta se apresentava mais deslumbrante do que já havia ele notado. Vestida a rigor, com um traje longo, bolsa a tiracolo, pintura sem exagero, a digna senhora era cheia de encantos. Certa vez, a filha de Jubal, em uma Missa na Catedral, teve oportunidade de ver a senhora em um banco da nave principal e disse ao seu pai com muito espanto.

--- Que mulher mais parecida com a minha mãe! – falou Oceanira de boca aberta.

Jubal não disse coisa alguma. Nem mesmo se já havia encontrado. Apenas fez que olhou e assinalou para Oceanira que ela – a mocinha - estava na Missa e por meio disso se comportasse. A mocinha não mais falou no assunto. De qualquer forma não se conteve e ao sair da Missa resolveu passar perto da senhora para olhar mais de perto.

Ao chegar à casa de sua irmã Carmen, o homem bateu palmas como era costume para ver se alguém estava a atender. De imediato, veio a irmã, Carmen, e olhou para a senhora pondo uma cara de espanto. Ela abriu a porta e o casal logo entrou na sala. Por fim, ainda espantada, correu para o quarto de dormir e chamou ás pressas por sua mãe, Chiquita, que estava rezando o terço.

--- Mamãe! Venha ver quem está aí! – falou a filha assombrada.

--- Deixa eu rezar meu terço! – disse a anciã sem pressa.

--- Venha, minha mãe! – insistiu a mulher.

Nenhum comentário: