domingo, 8 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 37 -



- MEIAS DE SEDA -
- 37 -
Inaldo chegou cedo a repartição, assinando o ponto e sem explicação alguma saindo em seguida. Ele tinha estado logo cedo no Café de Nazinha, no Mercado Público da Cidade. No local, Inaldo não avistou o seu amigo Jubal. De longe percebeu a mulher dona Doca que estava no seu Café sem a presença de Zilene. Fazia três meses que a moça tinha sido atingida por um disparo de arma de fogo e tempos depois o seu agressor foi morto em frente ao Café de Dona Doca. Seu agressor era Tulipa que voltou a se encontrar com a moça no intuito de matar. E não matou porque foi ferido de morte por um jovem que o chamavam “Negrinho” por ser um rapaz de cor negra feita carvão. O caso foi esquecido pelas autoridades policiais. E, então, Zilene viveu mais quieta, passando o dia em casa da sua tia Sinhá sem fazer muita coisa. Inaldo combinou com Zilene voltarem a viver juntos. E ela aceitou o convite. Nesse dia, três meses depois, o moço queria ter a certeza da parte de Jubal, pois quando desfez o namoro Jubal foi o primeiro, a saber.


Os dois eram amigos há longo tempo. Às vezes, Inaldo estava de porre e Jubal não se incomodava em suportar os tais porres. Eles viviam vidas diferentes. Jubal era quieto. Inaldo era mais alvoroçado. Quase sempre se pegava Inaldo dando belas gargalhadas. Já. Por seu turno, Jubal não era de tanto sorrir. Sorria, sim. Mas moderado. Assim era a diferença de comportamento entre os dois cavalheiros. Porém. A despeito da cachaça que bebia, não raro de cair na rua, Inaldo era por assim dizer, respeitador. Além de ter um trabalho por demais eficiente, ele mantinha ainda um emprego em um jornal da cidade na parte da tarde. Quando Inaldo chegou à Feira do Paço, ele observou um trem que se aproximava, vindo do interior. Ele estava em cima do muro de pedra que protegia a Rua Ocidental de Cima da linha do trem. Depois da linha tinha a Rua Ocidental de Baixo onde se instalava a Feira do Paço, o sitio de Jubal e algumas casas de pescadores para o lado norte da rua. O sitio ficava para o lado sul. Inaldo ficou a observar o trem cheio de vagões com gente e mercadorias. Era o trem das sete horas que chegava um pouco atrasado. E Inaldo ficou a pensar o que faria aquele pessoal na cidade. Ele olhou a máquina que rebocava os vagões e nesse momento ficou a pensar em Zilene. Talvez ele ficasse a morar com a moça em um quarto alugado nos confins da cidade, por certo. Talvez.

Tão logo o trem se foi, Inaldo iniciou a travessia dos trilhos –( eram duas linhas do trem) – e notou a presença de Dagmar, um rapaz da mesma idade que a sua. Dagmar vinha saindo da Feira do Paço e notou, de sua parte, a presença de Inaldo que vinha em sentido de quem chega à Feira. Houve uma alegria de ambas as partes com os dois amigos apertando as mãos e se abraçando como nunca fizeram antes desse dia. Até parecia que eles não se viam há muito tempo e enfim se encontraram no cruzamento da linha do trem. Conversa vai, conversa vem e Dagmar perguntou o que havia de novo. Inaldo sorriu e disse a seguir:

--- Vou casar! – respondeu Inaldo com muita alegria.

--- Casar? Você é louco! – contrapôs Dagmar atordoado com a irônica noticia.

--- É mesmo. Vou casar. – sorriu Inaldo como se brincasse com o que dizia.

--- Vai pra merda! Quem já observou você casado! - comentou Dagmar.

--- Juro! Tai. Agora deu. E não pode!? – perguntou Inaldo sorrindo.

--- Nossa Senhora! Inaldo casado! Tem quem acredite nessa história? – perguntou Dagmar ao tempo.

--- E você vai ser meu padrinho! –respondeu Inaldo, sorrindo a beça.

--- Padrinho? Eu? Tais louco, tais? – perguntou Dagmar a Inaldo com os olhos esticados

--- Não. Até que estou sóbrio. Vai querer? – perguntou Inaldo.

--- Me tira dessa. Eu? Nem morto! Casar! Quem já se viu! – falou Dagmar afobado.

E saiu atravessando os trilhos do trem subindo a seu modo as escadas que davam para a Rua Ocidental de Cima. Quem olhasse para a cara de Dagmar, de cabeça baixa, pensaria que um furacão caiu por sobre seu crânio a qualquer tempo. Inaldo, porém, ficou a observar por algum tempo enquanto o amigo subia os degraus da escadaria apenas a sorrir pensando que o jovem era maluco mesmo.

--- Esse é doido! – e Inaldo caiu na gargalhada.

No momento seguinte, ele rumou para o sitio de Jubal onde pretendia contar a novidade a ele também e ouvir o seu conselho. Ao chegar à porteira viu logo Jubal encurvado, arrancando ervas para o consumo dos cavalos que o posto da Prefeitura pedia, e mesmo o Esquadrão de Cavalaria da Policia. Alem de vender a esses dois órgãos públicos ele também fazia negocio com os carroceiros, que eram muitos nessa época. Ao ver Jubal ele deu um assobio forte para chamar a sua atenção. Então Jubal se soergueu para ver quem assobiava e o garoto José também fez o mesmo. O garoto foi quem disse:

--- É aquele homem. Seu colega. – falou José sem mais nem menos.

--- Estou vendo. – respondeu Jubal baixinho. É continuou. – O que diabos ele quer? Lá vem bomba. – comentou Jubal ao ver Inaldo.

--- Estou entrando. – falou Inaldo. E prosseguiu: - Tem cachorro aí? – perguntou o jovem a sorrir franco.

--- Tem um. Mas não morde! – respondeu Jubal para incrementar a dúvida no rapaz.

--- Deixa de brincadeira! Onde está ele? – perguntou Inaldo olhando em volta, por temer cachorros.

--- Estou vendo um agora. – respondeu Jubal, sorrindo.

--- Vai-te a merda. Ei. Eu preciso de uma orientação tua. – falou Inaldo.

--- “Eu pecador me confesso a Deus todo poderoso”. Diga o que ti magoa filho? – respondeu Jubal com cara de sacerdote.

Inaldo voltou a gargalhar de modo atassalhado. Quase que não parava mais. E lembrou-se de Dagmar, o seu outro amigo.

--- Você não presta mesmo. – voltou a sorrir Inaldo. E continuou: - Como vai à velha? – perguntou Inaldo se referindo à mãe de Jubal que sofrera um derrame cerebral.

--- Você casar com ela? – perguntou Jubal de forma irônica.

--- Não, porras. Eu digo se ela está bem de saúde. Ora. – falou Inaldo.

--- Do derrame, ela parece não sentir nada. Foi fraco. O braço esquerdo é que tá meio molenga. Mas vai bem. E por quê? – indagou Jubal de forma mais irônica.

--- Por nada. Por nada. Só por saber. Escute: O que você acha de eu casar? – perguntou Inaldo mudando o tom da voz.

--- Comigo não, jacaré. Comigo não. Você não faz o meu tipo. Isola. – e procurou Jubal bater no portal de madeira do alpendre.

--- Deixa de vendagem! Falo sério mesmo. Você aceita ser o meu padrinho de casamento? – perguntou Inaldo direto a Jubal. –E continuou: - É festa simples. – disse Inaldo.

--- Quem é a moça? – perguntou Jubal de modo serio.

--- Você conhece. É Zilene. Aceita? - inquiriu Inaldo esperando resposta positiva.

--- Menino. Deixa de maluquice. Você já escapou de uma com Zilene e vai se meter noutra. É loucura, meu jovem. – respondeu Jubal de forma mais seria.

--- Não. Ela mudou. Quem vê de perto é quem entende. Aceita? – voltou a perguntar Inaldo.

--- Aceitar, eu aceito. Mas por que vocês não vivem “juntos” por um tempo. Se der certo, então vocês se casam. – respondeu Jubal.

--- É. Pode ser. Vou pensar no caso. Mas você aceita ser meu padrinho? – novamente indagou Inaldo.

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