domingo, 15 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 45 -

- MEIAS DE SEDA -
- 45 -
No final de semana houve um baile em uma casa perto do sitio de Osias, como era chamado o sitio de Jubal. Foi um baile que logo ganhou o nome Mafuá do Forró por quem compareceu. Aquela dança foi esquentada a custa de muita cerveja, vermute e cachaça. Tira-gosto tinha caranguejo, tripa assada e um bom picado. Um fole animava puxado por Zé Ciço e Saxofone por Otavio do Sax além de bombo tocado por Zé Bigode e outros poucos instrumentos. A dança começou às dez horas da noite, mas a folia rolava desde as duas horas da tarde, com o serviço de bar. Nesse caso muita gente ao chegar às oito horas da noite já estava às quedas. No entanto, vira e mexe, gente nova chegava ao Mafuá do Forró porque as pessoas, geralmente pobres, teriam que se divertir mesmo no período da noite quando largavam o serviço diurno. Assim, era o caso de Zeca, o José Bento que trabalhava o dia todo de segunda feira a domingo no sitio de Osias. Ele era empregado de Jubal porque Osias já vendera o sito a Jubal. Mesmo assim, ficou o nome de Sitio de Osias, apesar de ser o sitio de Jubal.

Quando começara a fuzarca no Mafuá do Forro, lá pelas nove horas da noite, Zeca já estava presente infernizando a vida de uma garota que ele a encontrara alheia no Forró. Conversa vai, conversa vem, Zeca chamava a garota, moça de seus vinte anos, de nome Zuleide, para beber alguma coisa, como seja, uma dose de vermute. De vermute, ele passava a cerveja. E de cerveja, com uns tira-gostos de caranguejo e picado, lá estava Zeca bebendo com Zuleide a verdadeira cachaça. Quando começava a dança, estava Zeca e Zuleide um tanto grogue, no meio da animação. A moça já sem noção do que fazia, somente dançava forró para agradar o popular Zeca ou mesmo para se agradar. Teve instante que a moça levantou a saia e a turma gritou:

--- Opa! De novo! Segura! Tá danado! – gritavam todos de uma só vez.

E a moça continuava a dançar sacudindo a saia e Zeca animado com aquela travessura da mulher onde era só encanto. O Forro terminava as quatro horas da manhã e nessas alturas, Zuleide, para lá de embriagada, deixava-se levar por Zeca que a levava para a sua casa de taipa muito mal arrumada e a deitava em uma cama coberta com feno. Naquela hora, ele aproveitou que a moça estava embriagada e já dormia e fez com ela o que quis. Sem saber de coisa alguma Zuleide dormia a sono solto, pregada por conta da bebedeira. Zeca, mais esperto, teve mesmo que trabalhar na manhã de domingo, pois a bebida que ingerira fora pouca apenas para fazer Zuleide a sua única parceira de cama. Ela não foi a primeira que caía nessa arapuca e nem seria a última. Dessa vez, fora uma garota das proximidades. Quando acordou na tarde do domingo, por volta das duas horas, a moça ainda estava tonta e sem saber o que tinha se passado com ela durante a noite.

Incerta do que estava a fazer, Zuleide procurou o seu parceiro, pois se lembrava que ele era um rapaz de algum lugar não perto de onde ela morava. E assim, foi até a porta de trás e por lá enxergou um homem vestindo roupas velhas, agachado, a retirar feno com um facão rabo-de-cavalo. Ela então chamou por ele para saber o que estava fazendo ela naquela casa mal assombrada. Zeca se soergueu o sorriu para Zuleide e mandou que ela fizesse café bem forte para tomar.

--- Eu? Quero saber o que estou fazendo aqui. – gritou brava Zuleide.

--- Aqui é sua casa. Prepare o café forte. Chego já. Estou com uma fome danada. – respondeu Zeca.

--- Ora merda. Não quero ficar aqui. – respondeu Zuleide contrafeita.

--- Pois vai ficar aqui mesmo. – sorriu Zeca para a moça.

--- Tem uns negócios que não estou entendendo! – gritou a mulher.

--- O que? – perguntou Zeca sorrindo de longe.

--- O que você fez comigo? – perguntou Zuleide com cara chorosa.

--- EU? Nada! Por quê? – perguntou Zeca.

--- Nada! Eu sei que você fez. Eu só quero vê. – respondeu a moça maia lacrimosa.

--- Eu não fiz nada. Você só queria dormir. E pronto! – respondeu de longe Zeca.

--- Tá doendo. Você me paga! – respondeu a moça meio triste.

--- Tá doendo que nada! Faça o café forte. – sorriu Zeca e voltou ao trabalho.

Zuleide voltou para dentro e daí foi até a porta da frente onde olhou o panorama e viu a casa que identificou como sendo a do Mafuá do Forró onde Zuleide esteve a noite toda. Pelo que ela se lembrou, no Mafuá ela conheceu o rapaz por nome de Zeca e com ele esteve à noite toda. Zuleide morava no bairro das Quintas, um bairro pouco longe da Rua do Cemitério, para onde teria vindo participar de um forró. Ela lembrou ainda que sua família houvesse brigado com ela por desavenças corriqueiras que sempre havia em todas as famílias. Zuleide tinha um namorado que acabou sem que nem mais. Um dia a moça chegou e acabou o namoro com Patrício e nunca mais teve sossego em sua casa. Vez por outra surgia uma briga por parte de sua mãe por causa de Patrício. Certo dia ela tomou conhecimento de que haveria um forro perto da linha do trem foi para lá onde se deu a aproximação com Zeca. Então, nem podia voltar para casa e não saberia se ficasse ou se saísse da casa onde estava até àquela hora.

Nesse momento a moça voltou para dentro da casa, um desarrumado e tanto que havia para limpar. Parecia até que nunca ninguém esteve ali fazendo limpeza geral. Ela foi à cozinha e encontrou uma panela de barro com um resto de feijão, de tão velho que era, esturricado era o seu modo de como estava na panela. Verificou uma chaleira de barro e colocou o dedo para ver se tinha água fervida. Não tinha. Olhou o fogão a lenha e viu que ainda tinha uns torrões queimando como se fosse do dia que passou. Ela olhou por todos os locais vendo se havia mais torrões de madeira e encontro do lado de fora da casa. Zuleide apanhou umas achas de lenha e conduziu para dentro de casa. Ainda teve a preocupação de olhar as suas vestes, porém não tirou nenhuma parte. Conservou o vestido que ela trazia como se não houvesse outro trapo para mudar. Zuleide olhou para fora vendo se Zeca já terminara o serviço. Não terminara ainda. Só tinha mais um homem sentado em uma cadeira de rodas a conversar com o rapaz. Ela olhou admirada, pela meia porta da janela entreaberta e perguntou consigo mesma:

---Quem é aquele? Um rum! – fez à moça estranhada com a presença do homem.

Com um abanador que encontrou em cima do fogão de barro, aqueceu a água que tinha posto a ferver para fazer seu café forte. Ela ainda teve que procurar o bule, o café e o açúcar. Acocorada, encontro o bule em baio do fogão. E retirou dela um recipiente reclamando horrores.

--- Aqui não tem nada! Isso é uma merda mesmo! – disse a moça para consigo.

Depois de atear fogo na madeira, foi lavar a mesa cheia de resto de comida que o homem teria feito no dia anterior. De tudo tinha um pouco. Do pouco, quase nada. Ela reclamou barbaridade.

--- Quem já se viu morar numa pocilga dessas! – reclamou Zuleide com asco.

Pegou num resto de vassoura de piaçaba que estava encostada atrás da porta da cozinha e procurou varrer o chão da casa. Era um chão feito de barro apenas. Ali, se encontrava de tudo. Ratos, baratas, escorpião, aranhas e o diabo a sete. Se ela pisava em um num determinado lugar, tinha outro para se esconder em baixo da cama feita de feno. Baratas? Tinham demais. Era uma correndo e a outra morrendo. Moscas, mosquitos e outros vermes que ela assim chamava.

--- Vermes! Moscas! Ratos! Que falta de asseio! – declarou a moça sem mais nem menos para tanto horror que tinha aquela casa.

De onde estava ela gritou para Zeca, cheia de ira.

--- Aqui não tem mulher, não? – gritou Zuleide com toda força de seu pulmão.

O rapaz apenas sorriu e disse em seguida:

--- Tem você. – gritou Zeca achando graça.

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