segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 5 -

Angelina Jolie
No dia seguinte, um tanto despreocupado por conta de Adélia, o rapaz chegou muito cedo ao escritório de despachantes e se apegou com seus apontamentos. O patrão, Jorge Dumaresq, sempre se atrasava por um motivo qualquer. O restante dos funcionários já estava no labor. Apenas Luiza não havia chegado. Portanto, aparentemente, estava tudo em perfeita ordem. No dia passado Honório também não viera na parte da manhã. Por sua importância ao serviço, o patrão nada reclamou. Afinal, ele, Honório, era sobrinho de Dumaresq. Portanto, o seu nome também era Honório Dumaresq. A chave do escritório, no primeiro andar do prédio ficava com um empregado. O homem chegava todos os dias logo cedo. Fazia a limpeza de tudo e até dos móveis e cestos de lixo, depois disso descansava até chegar quem mandasse fazer algo.

Nesse dia, Honório espirrava mais parecia um bode. Para cessar tanto espirrado ele usava um tubo de um medicamento o qual o médico lhe receitara. A todo instante o rapaz estava pondo o medicamento nas narinas apesar de com isso não cessar os espirrados.

--- Isso é o frio. – relatou o homem que abriu o escritório de despachante.

--- Essa porcaria, desde cedo eu estou desse jeito. É estalecido mesmo. – falou Honório ao tempo qual sugava as narinas. Os seus olhos se enchiam de lágrimas por conta dos espirros.

E o rapaz roncava feito um porco para desentupir o nariz todo congestionado. Era uma mania de tal forma onde a cada espirrado, Honório cuspia e gritava bravo:

--- Merda! Isso é uma porra!!! – gritava Honório com seus espirrados.

E toca a limpar as narinas, roncando, escarrando, enfiando o lenço na boca para evitar estar limpando de qualquer forma o nariz de vez em quando. Nesse ponto, chegou Luiza mais alegre que nunca dando bom dia até as paredes. No instante viu Honório com os seus espirrados e o lenço socado na boca. Luiza olhou admirada e perguntou ao rapaz se estava gripado;

--- Não! Espirando! – respondeu Honório com muita raiva.

--- E para que o lenço na boca? – quis saber a moça de ver o rapaz com a boca cheia de lenço.

--- Pra não responder pergunta besta! – gritou o moço a sua companheira.

--- Tenha calma. Tudo se ajeita. Não precisa ficar com raiva. - respondeu a moça com imensa calma e depois sorrindo.

--- Merda! Isso é uma merda! – era o sinal de que vinha mais espirrado.

E a moça sorrindo muito ainda disse com calma.

--- Eu vou logo sair daqui antes que eu leve um coice de jumento. – e se retirou para outra escrivaninha mais afastada.

O rapaz nem notou a observação de Luiza e se notou não levou em consideração. Aquele estalecido durava o dia todo com certas pausas quando o rapaz podia descansar um pouco. Em meio aos estalecidos, surgiu o dono do escritório de despachantes, senhor Jorge Dumaresq. Ao ver o rapaz com a tal rinite alérgica, o homem tratou de dispensar Honório do expediente para que o jovem fosse para casa por os pés em água morna ou quente. Dizia o homem ser um santo remédio para rinite.

--- Já receitaram tudo na vida. Só falta eu meter uma bala no focinho! – respondeu o jovem atônito.

O homem o repreendeu dizendo que ele tivesse cuidado com as palavras e pensamentos, pois aquele mal não era tão ruim assim.

--- Há coisas piores da vida. Vá pra casa. – relatou Dumaresq.

O rapaz obedeceu e pegou um carro de praça para poder ir mais depressa e agüentar a coriza no tempo vindo. E no carro, toca a espirrar como nunca até que o motorista disse a ele:

--- Cheire um pouco de gasolina! – falou o motorista com certa malícia.

--- E é bom isso? – perguntou Honório surpreso da vida.

--- Não sei. Nunca tive isso. Talvez seja porque desde menino cheiro gasolina. Os mecânicos dizem ser bom pra. ... – respondeu o motorista.

--- Besteira. Isso não põe ninguém pra frente. – resmungou Honório.

--- E como o carro anda? – perguntou o motorista sorrindo.

--- (?) – Você quer é gozar com minha cara! – respondeu Honório da dúvida.

--- Olhe bem como você está espirando menos. – rebateu o motorista alegre da vida.

--- Pois vou cheirar. Pronto! Um garrafão de gasolina! – retrucou de vez Honório.

E o motorista caiu na gargalhada com a tolice do rapaz.

Quando a jovem Adélia estava em casa, pensou no rapaz Honório. E pensou forte. As coisas ruins pelas quais ele enfrentara no tempo em que ela sofrera o vertiginoso desmaio. Aquilo ela nem desejaria mais pensar. Tudo não passara de um pesadelo. E assim, Adélia acharia um meio de satisfazer Honório a convidá-lo para um passeio às margens do rio do Algodão, tão famoso pelo seu acabamento alinhado, com as antigas residências à sua margem. Os barcos à vela a passear pelas águas melancólicas da ribeira. Para Adélia, aquele voltear seria uma forma de agradecer a Honório pelo feito. Ela pensava o tempo todo de como aquele rapaz morasse no bairro onde ela também morava e não tivera uma oportunidade apenas de vê-lo antes daquele malsinado dia.

Com o passar dos dias, Adélia recebeu em sua casa a visita do rapaz Honório, caso já bastante comum para ambos. Era noite. E eles conversaram a bel prazer. A mãe de Adélia trouxe uma xícara de café para oferecer ao moço. A irmã mais moça chegou até a porta do corredor e sorriu para o rapaz. Não disse nada. Apenas sorrio. Adélia foi quem falou:

--- Cumprimenta o moço, Ângela! – falou Adélia como querendo se desculpar pela falta de gentileza de sua irmã.

A moça meio sem jeito chegou até o rapaz e o cumprimento bem lento.

--- Como vai, senhor? – sorriu Ângela.

--- Não tão bem quando você. Mas vou seguindo a vida. – respondeu Honório com um sorriso

--- A senhora é minha mãe. – referiu-se Adélia a mulher do café.

--- Prazer, senhora. Meus respeitos. – falou Honório a mulher.

--- Com prazer. Meu nome é Almira. Qual o seu, por favor? – perguntou Almira.

--- Honório, senhora. Imensa satisfação. – respondeu Honório com os seus cumprimentos.

Algumas horas eram passadas e Honório se preparava para sair quando deu a lembrança de convidar Adélia para ir à praia da Costa, no domingo seguinte. De inicio Adélia ficou meio cismada e, então, Honório disse que podia levar as irmãs. Ele não sabia se tinham mais algumas além de Ângela, que foi apresentado naquela noite. Com efeito, Ângela era uma linda garota, talvez um pouco jovem. De uma forma ou de outra, ela faria excelente companhia a Honório uma vez que a mocinha tinha semblante primoroso. Com um impulso de Ângela, a moça se decidiu em ir à praia da Costa no sábado, logo cedo da manhã.

--- Eu irei, sim. – declarou Adélia já não cismada, pois a sua irmã caçula era a força de seguir em frente.

--- Ótimo. Eu virei apanhá-las! Certo? – sorriu Honório direto para Adélia.

Em retribuição, a moça também sorriu, mostrando prazer em ter um amigo que se poderia contar como fiel, até aquele ponto. Na verdade, Adélia não sabia de mais nada a respeito de Honório como se ele era casado, se tinha namorada ou noiva, se tinha pais e irmãos, de quem era a sua família e coisas simples cujo poder era demais eficiente. Apenas Adélia sabia que ele era Honório e morava no mesmo bairro onde a moça morava e nada mais. Quando o rapaz saiu de sua casa, Adélia ficou a meditar sobre esses temas.

--- Será mesmo que ele seja só? Tem mãe? Irmãs? Trabalha em que? – isso era o mais por saber Adélia depois daquele encontro casual em sua moradia.

--- Ele é noivo, Adélia? – perguntou Ângela de supetão.

--- Quem? Não sei! Como vou saber? – indagou Adélia querendo desviar o assunto da irmã mais nova.

--- Perguntando a ele: “Você é noivo?”. E veja se ele fala a verdade ou não. – respondeu Ângela sorrindo.

--- Eu vou lá perguntar uma coisa dessas! – respondeu Adélia ainda por demais cismadas.

--- Pois eu pergunto domingo. E vejo o que ele responde! – sorriu a garota.

--- Você não vai perguntar nada. Está ouvindo? – respondeu Adélia com voz ativa.

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