domingo, 29 de agosto de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 4 -

KIM NOVAK
- 4 -
O certo é que Honório havia cumprido a sua obrigação daquele momento e estava feliz por ter sabido qual a empresa aquela a jovem Adélia trabalhava e ter progresso no seu afazer. Para mais tarde Honório gostaria de ter noticias de Adélia, qual o seu progresso, uma vez passada a primeira fase quando houve o desmaio. Talvez, aquele desfalecimento fosse apenas conseqüência do mal tempo da noite anterior. O fato é como Honório ficou tão preocupado com a moça coisa não feito por outras moças de quem gostara certas vezes no passado. Então, restara apenas esperar pelo entardecer e procurar, em casa de Adélia, saber qual o seu estado.

Na tarde do mesmo dia, Honório esteve no Porto para verificar uma fatura de mercadorias vinda no dia anterior. Na ocasião ele passeou pelo Porto olhando onde os homens fizeram a construção de um dique para sustentar toda a força das águas quando havia maré alta. A situação do Porto era vexatória, pois em tempo de maré alta as vagas avançavam para fora das calçadas em uma verdadeira dança das ondas. Então, Honório notou aquela imperícia posta pela a engenharia e ficou a imaginar soluções cabíveis para o tal assunto. Dele não dependeria qualquer atividade. Mas, a direção dos Portos teria a resolver tal situação vexatória. Ele estimou num carrego que viesse a sofrer com a queda brusca do transporto para o rio quando as ondas ficassem mais bravas. Naquela hora da tarde, a maré já estava no cume da calçada a ponto de alcançar a rua. De qualquer jeito a situação para os portuários ainda era calma. Os guindastes imensos ali postados faziam o seu serviço de tirar e por mercadorias no interior dos navios ancorados. Honório olhou bem para os guindastes os quais formavam uma série de seis a levar e trazer mercadorias imensas como madeiras e sacarias. Então, Honório pensou como sempre pensava;

--- Esses guindastes ainda farão uma tragédia nesse porto. – pensou Honório conjecturando.

As águas do rio faziam uma afluência que batia na borda do cais. O rapaz viu tudo com imenso temor. De imediato, um dos navios encostou-se à borda do cais fazendo imenso barulho. Honório assustou-se com aquela zoada inesperada. Até correu para dentro do galpão do cais. Um portuário vinha a passar e sorriu para Honório. E o rapaz algo suado, ainda disse:

--- Que medo! – respondeu Honório assustado.

--- Isso é normal. É quando uma onda bate forte no casco do navio e ele encosta-se ao cais. – explicou o portuário.

--- Mas faz susto para quem não espera! – respondeu Honório com temor.

O portuário sorriu e já deixava o local quando Honório lhe perguntou sem emoções visíveis.

--- Escute aqui! O senhor não acha que esse cais está muito baixo? – perguntou Honório.

--- É. Está. Já foram feitos três requerimentos e entregues a direção do porto e não houve resposta. – respondeu o portuário.

--- É danado. Ninguém faz nada para resolver o problema! – reforçou Honório.

--- Semana passada a água bateu até na Capitania. Eles tiveram que retirar tudo! – sorriu o portuário.

--- É. Eu ouvi falar no caso. Mas alguma coisa tem que ser feita. – disse Honório com raiva.

--- É. Depois alguém faz. O rio alaga as outras partes do bairro. Alaga a praça. Alaga tudo. – explicou o portuário.

--- Isso é fato. Eu vou falar com um rapaz de um jornal para ele mandar fazer matéria sobre o assunto. – reclamou Honório cheio de ódio.

--- Um jornal de uns dias atrás deu matéria sobre isso. Quando houve uma maré braba. – sorriu o portuário largando caminho e dizendo até logo a Honório.

Com isso, o rapaz ficou cismado. Três requerimentos e nenhuma resposta. Talvez a dragagem do rio não pudesse ser feita, era o mais provável para Honório como solução. Ao cabo de tudo isso, o rapaz voltou ao escritório onde trabalhava no Bairro Alto. Sempre com a cabeça voltada para o problema do qual ouvira o homem do Porto dizer. Do primeiro andar do seu prédio, onde ele prestava serviços para um despachante, Honório ficou inquieto com o tal problema. Na verdade, não era mais para se preocupar. Essas cheias sempre aconteceram. Até porque as casas de comercio já estavam quarenta centímetros acima do nível da rua. Quando houve uma cheia no bairro, foi um verdadeiro transtorno para os donos de lojas. Houve um tempo onde na Rua do Carmo as casas de moradias eram mais baixas do traçado da rua. Porém, isso foi a bastante tempo. E naquela época, a maré alta entrava de casa adentro.

A mulher gorda acompanhada de uma jovem moça entrou na sala pequena, por sinal, e foi falar com o homem cuja atividade era de despachante. A mulher cochichou baixinho o qual mesmo o homem não pode ouvir. Em contrapartida o homem falou tão baixo ainda onde apenas ele e a moçinha se entenderam. Certamente, o homem despachante sairia com pouco mais para cumprir sua obrigação. E assim foi feito. Dentro de instantes, o despachante passou talco no rosto e disse ao rapaz.

--- Cuide que eu volto logo. – disse o despachante.

O rapaz concordou com o despachante. A moça estava a trabalhar, batendo a maquina em um requerimento. Quando o chefe saiu, ela olhou para Honório e fez um ar de riso. Ele entendeu e disse a moça que aquela “estava no papo”.

--- Mais tarde somos nós. – respondeu Honório caçoando com a moça cujo nome era Luiza.

--- Pegue aqui, ó! Já tenho o meu! – respondeu Luiza apontando o dedo.

Honório sorriu e tudo voltou ao estado original. Ele sabia do caso de Luiza. E sabia também de uma boa cantada a moça, vinte e dois anos, não escapava. Certa vez ela se ofereceu ao rapaz. Aquela desatenção não passava de um minuto. Até porque, quem queria ter uma renda para manter a sua luxúria. O emprego lhe rendia um salário. O noivo nada lhe provinha. Uma vez ou outra, ela saía com certas pessoas, inclusive Honório. E então, nada mais do que certo procurar a casa de Zé Barros depois do expediente. Mesmo assim, os dois se ocuparam no serviço e nada mais foi falado. O rapaz pensava então no caso da moça adoentada. Adélia podia estar melhor ou pior. Isso ele não sabia. Tentaria saber mais tarde, indo até a casa onde Adélia residia. Afinal, os dois moravam em um só bairro: o Belém.

Tão logo o expediente terminou, os dois se despediram com a promessa de um dia melhor. Porém, a mocinha retrocedeu e chamou Honório. Esse logo entendeu o seu chamado. E assim caminharam para a casa do Zé de Barro e enfim ambos ficaram ao desespero imenso de um amor infindo. Em nada conversaram. Ao sair, o rapaz lhe deixou a gorjeta para ouvir apenas o reclamo da companheira:

--- Muquirana! – disse a moça para o rapaz.

Então Honório sorriu ao perguntar:

--- Quer mais? Amanhã eu tenho recebido dinheiro e te dou. – respondeu Onório sorrindo.

--- Verdade? Sou tua apenas. Se quiser, eu sou! – respondeu a moça delirante.

--- Verdade? Só minha? E teu noivo? – indagou Honório querendo escapulir da enrascada.

--- Eu não sou noiva. E acabo hoje mesmo. Eu te quero. Só a ti! – respondeu Luiza cheia de ânsias e dengo.

O rapaz voltou a sorrir. Ele não se esquecia de Adélia, pois afinal talvez fosse virgem. E se não fosse, tudo bem. Nada havia de importante no caso.

Depois do jantar, Honório largou para a casa de Adélia, para saber das novidades com relação a virgem moça. Quando passou perto de sua casa, uma urna mortuária guardava alguém. Certamente esse alguém havia morrido durante o dia ou a noite passada. Talvez um velho, com certeza. Ele nem parou para saber de mais detalhes. Tinha umas pessoas a porta e outros dentro a casa. Era tudo que ele conseguia ver, afinal. Remoendo a sua cabeça por não ter de ficar qualquer tempo, Honório chegou à residência onde morava a jovem moça. Havia luz no terraço e ele bateu palmas para alertar quem pudesse ouvir. Pessoas de casas vizinhas chegaram de imediato para saber quem era. Uma mocinha respondeu com um sorriso. Ele devolveu tal sorriso com o seu modo de tratar aqueles que se acercavam dele.

--- Olá! – respondeu uma voz. Ele viu que se tratava de Adélia. Era ela muito jovem e bela.

--- Olá. Você está bem? – sorriu Honório para a jovem.

--- Estou. Entre. Faz favor. – sorriu Adélia com prazer.

--- A senhorita nem sabe como passei o dia! – respondeu Honório a sorrir.

--- Ah. O senhor foi até meu trabalho? Eu soube. A moça que o recebeu esteve aqui. Não precisava de tal coisa. Eu fui à tarde à repartição. Tive uma licença de três dias. – disse a moça a Honório.

--- Assim é bem melhor. Três dias de repouso. Fico feliz ao saber a noticia. – sorriu Honório.

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