domingo, 1 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 30 -

- MEIAS DE SEDA -
- 30 -
Os bandolins cantavam musicas sublimes para casais apaixonados naquela noite de julho onde amantes da musica entraram em delírio alucinante abrindo então o salão de dança a festejar os quinze anos da jovem moça Oceanira que se mostrava feliz e contente. Um Buffet foi responsável por todo aquele arrumado dando-lhe completa harmonia em cada toque de sublime encanto. Os músicos contratados ficaram em grupos ao fim do salão grená. Em serenata, os bandolins tocavam canções espanholas para se ouvir a contento. A melodia embalava os corações da juventude presente embriagada pelos sucessos de tantas vezes. Os adultos também faziam a sua vez de sentir os beijos sob luar de prata ao som daqueles bandolins. Saudades e quimeras dos adultos. Vivencia e carinhos dos jovens os quais seriam então, um dia, também adultos ao passar das horas, dos dias e dos anos. Oceanira estava enfeitada com as vestes brancas, a tiara de prata a acimar a fronte pretendo seus capelos negros a cair aos ombros. Meias brancas e luvas acima dos bracinhos ternos pendentes como de musa. Ela era toda alegria e exultação. Os jovens rapazes a admiravam com fervor e a jovem moça nem sequer olhava a cada um. Eram iniciadas as músicas sob o som de bandolim que a fazia carinhosa e contente.
Um violino tocou dolente e anunciava que a mulher havia desaparecido para sempre. Era uma melodia dolente que fazia aos corações adultos recordações e quimeras de um longo e inacabável amor que de vez se foi para sempre. Era uma melodia triste para uma solenidade alegre e muito mais elegante. Lembranças guardadas de uma solidão experimentada pelo coração do amante. Para não colher quimera somente o violino acompanhado por bandolins recordou um vulto de mulher a passar frente ao lar de um antigo amor cuja distancia era somente a de um coração doído. Canções que retratavam a sedução de uma estrela a brilhar no amargor solitário. Um raio se soltava a iluminar uma vida a desabrochar naquele doce instante. O amor falou mais alto ate que chegara o momento da terna moça cantar mais alegre. O baile então tomou um novo impulso para até chegar ao fim.
No salão se observava a troca de olhares entre Salésia e Oceanira, como querendo sugerir que coisa que entoava não era própria para suave a ocasião. Oceanira também concordava com a sua amiga. E em certo instante pediu que o maestro pusesse algo melhor como as canções dos anos quarenta e até mesmo de algo mais recente. O maestro entendeu e a festa rolou com mais significativa alegria. Então Salésia olhou para Oceanira e piscou os olhos como que estivesse dizendo:
--- Agora, sim! – sorriu Salésia ao som de modernas canções.
Ouvia-se o toque de uma canção de amor onde um jovem e garboso impetuoso rapaz tinha endereçado cartas de amor para a sua namorada. Falava ou tocava de frases ditas para um coração cheio de brandura. De vez o maestro mudou de rumo e entoou canção que o jovem mancebo dizia apenas o amor eterno a uma grande dama que falava sobre gestos e olhares de um para o outro retratando apenas do amor eterno. Embriagado pela insinuante musica os jovens rapazes sacudiam-se para além do que se podia imaginar entre carinhos e ternura amiga para sua eterna namorada. E então se deleitava como ondas que chegavam do mar distante e as promessas de colocar nos braços de um velho amor para ser um coração e um afeto perto ou longe. Quando soou a meia noite, deu-se por outra vez o tocar da Valsa dos Namorados onde a jovem moça foi tirada por seu pai para entoar ainda mais os ingênuos e alegres corações.
A casa de Jubal Valadares Guimarães, como era o seu nome completo, era uma espécie de chalés dos anos 40, toda acabado em linhas e formas. A frente da casa era de uma largura de dez metros, tendo uma entrada recuada onde se colhia as visitas ocasionais que prestavam os seus modos. Do lado direito da casa, havia um quarto de casal onde a janela veneziana estava sempre fechada. O lugar do chalé ou da casa tinha um moro baixo logo na entrada. Percorriam-se uns batentes circundados por pés de pitangas, todos muito baixos, até se passar três metros e se chegar a casa. Por dentro, tinham mais três quartos, cozinha, salas de vista e de jantar e finalmente outra sala que se enquadrava com a cozinha. De resto, tinha o curral dos cavalos onde às vezes Jubal costumava guardar seus eqüinos. O terreno era grande. De uns 50 metros por cem. Fruteiras imensas guardavam toda a casa que até se podia chamar de Casa Grande. Era esse o lar dos Valadares, pois a casa foi construída por seu pai. No tempo que ele – Jubal - era ainda do Exercito, o seu pai já havia falecido.
Enquanto isso, Jubal costumava café no Mercado Publico. Ele não quis por empregada na sua casa se valendo dos afazeres da sua mãe e da filha mais velha, quando essa chegou a idade dos dez anos. Não raro aparecia uma mulher que costumava fazer limpeza da casa e até cuidar do almoço e da prataria do guarda-louça. Depois desses afazeres, a mulher partia. Com o tempo, vendo sua mãe alquebrada, Jubal contratou a mesma mulher de nome Eunice para cuidar melhor dos afazeres da residência. Eunice tinha por perto dos 50 anos de idade e andava sempre com um neto que ela chamava de José. Era um garoto esperto e sagaz. Depois que Eunice chegou à casa de Jubal, o garoto aprendeu a seguir o homem até o sitio onde ficava a plantar ou ajudar a plantar o feno. Não raro, o garoto estava no sitio próximo que Jubal comprava a seu Osias. E assim o garoto levava a vida.
Com isso, Jubal lavava a vida um pouco tranqüila. Certa vez, o homem falou à sua mãe que voltaria a casar com uma jovem moça:
--- Casar? Com quem? Imagine só! Te aquieta! – respondeu a mulher anciã.
--- É verdade, minha mãe. A moça é de respeito. Eu a conheci quando Salésia era menina, da idade de Oceanira. – explicou Jubal querendo ganhar confiança de sua mãe
--- Eu vou é embora daqui. – respondeu a anciã com raiva de ter que dividir o filho.
--- Escute. A senhora vai se dá bem com Salésia. É uma boa nora para a senhora. – explicou Jubal à sua mãe.
--- Vou sair daqui. Vou embora para longe. Afinal você já tem uma que lhe quer. Na verdade, você se casou com Nora, e ela foi à única mulher de você. – respondeu de pronto a anciã com raiva.
--- Tá danado. Oceanira vê se acalma a sua avó. – recomendou Jubal balançado a cabeça para um lado e para o outro.
Nesse dia, acabou a conversa com a anciã Chiquita. A mulher se pôs em guerra com o seu filho por causa do casamento tão apresado que o filho anunciava fazer.
--- Vá ver que ele fez “coisa” com essa mulher! – reclamou Chiquita.
--- Não tem nada disso, minha avó. Ela é uma moça. E eu gosto muito de Salésia. – respondeu Oceanira procurando tranqüilizar dona Chiquita.
--- Eu é que não confio. Ele estava bem com o sítio e agora aparece essa “moça” querendo levar vantagem. Eu sei que já não presto pra coisa alguma. Vou morrer mesmo. Deixo tudo aí para sua nova mãe. – retrucou Chiquita bem malcriada.
--- A senhora também! Nem quero ouvir mais nada! – respondeu Oceanira, largando tudo de lado.
--- Quem é Salésia, heim, Oceanira? – perguntou Olinda a sua irmã.
--- É uma moça. Pronto. – respondeu Oceanira, com raiva.
--- Eu queria conhecer essa moça! – comentou Olinda, a irmã do meio.
A guerra terminou nesse ponto. Um dia, Chiquita partiu para a casa de Carmen, sua outra filha, sem dizer nada a ninguém. Quando Jubal soube, ficou inquieto, pois os dois não se davam muito bem. E ele não queria ir à casa da irmã, pois haveria briga com certeza. A anciã Chiquita partira para a casa de Carmen então a situação tinha ficado embaraçosa. A sua irmã era viúva de um guarda da Saúde e guardava dois filhos de maior idade com ela. Abrigar a sua mãe, já era um sufoco. Pois, afinal, o dinheiro que recebia do Estado era uma miséria. Nunca ela viera pedir algo a sua mãe e se ocupava da casa e de uma renda que fazia a bordar tecidos para uma empresa que fazia roupas de cama e de pessoas. Com o seu dinheiro Carmen mantinha a casa. Pois não tinha outra renda a não ser a pensão do pobre marido, cuja morte se deu por fatores nunca revelados. Era assim a vida da mulher. Bordar e bordar. A Casa Grande não rendia coisa alguma. Desde o tempo em que perdera seu pai, Carmen lutou para fazer a divisão da herança, porém Jubal não aceito a oferta. E assim caminhou a vida. Umas cabeças de gado que o pai de Jubal e Carmen deixara, o rapaz vendeu todo de uma vez e deu uma espécie de troco a sua irmã.

Nenhum comentário: