sábado, 14 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 44

- MEIAS DE SEDA -
- 44 -
Dias depois de ter terminado o seu romance quando tudo já estava preparado para a solenidade nupcial, Jubal descia a ladeira das Pedras – ou Rua da Pedra, pois era mais ladeira do que imensamente rua – e lembrou de que esteve em outros dias na residência de Salésia para se confirmar da decisão tomada pela moça em ter que enfrentar a sagração de Freira. A moça teria que passar primeiro por Noviça antes de se postular Freira como era normal se fazer. Isso levaria um bom tempo. Era um período de sacrifícios, abnegação e silencio. Salésia, moça débil para agüentar um terrível martírio como aquele, teria de estar certa do que pretendia era ser Freira. E foi por isso que Jubal retornaria pó mais vezes a residência da moça. Certa vez, ele falou de assuntos que Salésia não entendia muito bem: a questão de Deus.

--- Salésia, minha querida, eu, um dia desses, estava no Mercado da Cidade quando apareceu um homem, aparentemente doido. Não sei bem. Ele contou-me uma história de que Deus não existe como nós imaginamos. Um velho de barbas brancas, cabelos longos. Esse Deus....Eu disse Deus, não Jesus. Mas Deus. Ele não existe. E mostrou uma gema de um ovo de galinha onde podia se enxergar um pontinho preto ou escuro que ele chamou de “Vida”, pois ali era a vida do pintinho. E mais que a mulher, em seu útero, tinha um órgão que se chama de Óvulo, onde é a mesma coisa do ovo de galinha. Disse-me ele que no homem tem um outro órgão que está na Bíblia. É o gen ou gênese. Esse gen é um que trás o espermatozóide que se chama de esperma. Esse espermatozóide, quando o homem tem relação a mulher, ele caminha serpentuoso – ele disse que daí vem o nome de serpente – e vai até encontrar com o óvulo da mulher e lá penetra, fechando a “porta” – disse ele – para os outros espermatozóides não entrarem. E dai a mulher, fecundada, rejeita todos os outros espermatozóides. Ele falou numa quantia muito alta de espermatozóides. Cerca de 40 milhões. Desse total, apenas um escapa. E é fecundado, ganha vida e passa nove meses para nascer. Ele me mostrou tudo isso.

--- Pode ser. Mas não acredito. Deus é Deus. Ele existe. No céu e na terra. – refutou Salésia ao comentário de Jubal.

--- Eu também não acredito. Deus é único. E até disse ele que o Deus da criação é esse mesmo Deus que está no óvulo da mulher. Quando ela coloca para fora aqueles que sobraram, os espermatozóides vão mesmo para o que se chama de inferno, que em outras palavras, é a terra. O local onde se sacode o resto do que sobrou. Eu fiquei assim, abismado. Mas ele foi categórico. Até aludiu que Jesus tinha dito: Muitos serão chamados e poucos os escolhidos. É ai que esta a explicação para os “muitos”. Esses são os que sobram, vão para o inferno, ou seja, para a terra. E os poucos são os que se iluminam quando vêem o óvulo da mulher. Coisa grande para uma partícula tão pequena que é um espermatozóide.

--- Eu não acredito em nada disso. Esse homem é um louco. – rechaçou Salésia tremendo de medo perante o que lhe havia dito o seu ex-noivo.

O automóvel sacolejava em cima das pedras na descida da rua e Jubal mais parecia um boneco de pano puxado por um cordame como os bonecos de feira que os mágicos fazem propaganda de medicamentos. E então, ao sacolejo do veículo Jubal se lembrou de outra passagem com Salésia quando a moça foi se internar no convento de Freiras. Naquele dia, ele ficou na igreja de onde podia ver a entrada do convento pelo lado de fora. Ele se esquivou um porco para detrás da porta e notou quando Salésia chegou da companhia dos pais e de um irmão. Ali na porta, ela se despediu dos pais e do irmão, apertou numa sineta e veio de imediato uma Freira que lhe abriu a porta. Nada foi dito nessa ocasião. Salésia trajava uma roupa simples, de algodãozinho, e portava uma maleta que a levava na mão direita. A Freira, uma mulher gorda até demais, dava a impressão para Jubal que se alimentava muito bem por ser tão avantajada. A Freira abriu uma portinhola na porta maior, toda feita de grade, e viu a moça. Então abriu a porta para a moça entrar sem dizer uma única palavra. Depois, a Freira olhou para o casal, pais de Salésia, e fechou a porta e também a portinhola. Assim foi a cena que não durou mais de um minuto. Os pais de Salésia deram meia volta para ir embora, levando o rapaz. A mulher, Suzana, mãe de Salésia, chorava demais, a assuar o nariz com um lencinho branco. Eles caminharam lento para seguir o seu percurso. O marido Artêmio, agüentou sem chorar bem como o rapaz.

A Igreja onde Jubal estava era um templo suntuoso, coberto pelo silencio, austeridade e paz. Era ali a Igreja do Silêncio feita anteriormente na Europa para educar padres e freiras em seu Seminário. Tanto as Freiras como os Frades e Padres eram por sua vez tradicionalistas e conservadores dos pés a cabeça. Na Igreja do Silêncio tinha em seu interior a imagem de Cristo ressuscitado, imagens de Nossa Senhora Mãe de Deus e de outros venerados santos por todo o meio ambiente. Na principal entrada da porta de magno tinha uma cobertura feita em madeira de magno que não permitia se enxergar o que estava dentro do templo. Ao se entrar na Igreja do Silêncio tinha-se a impressão de se estar em um lugar sumamente santo. Era um absoluto e mágico silencio. Às margens esquerdas e direitas do templo havia dois confessionários. Àquela hora da tarde uma fiel tinha se levantado com confessionário e ido rezar a sua penitencia. Em seguida, um rapaz se aproximou do pórtico para ser ouvido em confissão. Duas ou três mulheres estavam ajoelhadas em cantos diferentes da Igreja em bancos de madeira fazendo a sua penitencia. Era divino aquele espaço da Igreja do Silencio onde não se ouvia qualquer tumulto vindo de fora. Pois era tudo silêncio.

Por fim, Jubal se ajoelhou num dos últimos bancos para fazer a sua oração em penitencia a moça que acabara de entrar naquele Convento onde as puras e santas Religiosas teriam demais o que fazer, além dos estudos de todos os dias. O que estaria fazendo Salésia naquela hora de devoção e amor ele não saberia dizer. Apenas sentia a vontade de chorar copiosas lágrimas. E foi assim que Jubal fez nos dias seguintes na esperança de poder rever por um só instante a figura de Salésia, mesmo que de longe. Todos os dias, ele mudaria o seu itinerário ao passar pelo templo da Igreja do Silencio para assistir a Santa Missa. De tarde, voltava para fazer as suas orações na mesma Igreja em favor de Salésia que estaria estudando e orando de forma mais sublime e carismática naquela hora dogmática de recolhimento e teologia os assuntos sagrados dos cristãos. Na verdade, não era somente isso que Jubal queria. Ele apenas sentia o ardor e a vontade de afagar aquele corpo meigo e terno que então estaria rezando somente para Deus do Céu. Isso era tudo o que ele queria ter.

--- Por que ela fez isso comigo? Por quê? - podia-se notar no seu sacrílego momento de oração.

Quando a manhã já era tarde, Jubal deixou o seu carro na parte alta do caminho e pegou a descida para a Feira do Paço e, dali, para o seu sitio de feno. No momento em que estava mergulhado em pensamentos sobre a divina Salésia, eis que surge uma voz diferente a acudir os seus sentidos. Ele se voltou para ver de quem se tratava e, de imediato, veio-lhe a imagem de Nora, a sua primeira mulher. Que lhe falou foi apenas Natália aquela senhora que parecia por demais com Nora. E nesse brutal e importuno momento, Jubal percorreu os sentidos para se lembrar do nome a senhora. Ele percorreu nomes diferentes até que a própria mulher foi que disse:

--- Natália! Não se lembra? – sorriu a mulher.

--- Ah, sei. Natália. É que eu vinha um pouco distraído. Nem me acudiu ser a senhora! – falou Jubal procurando em vez se compenetrar.

--- Eu sei. Isso acontece! Hoje mesmo eu não me lembrei do nome de sua noiva! Com se chama mesmo? – perguntou a mulher.

Jubal ficou impressionado com tal presença de espírito a mulher, pois o noivado havia terminado há vários dias ou, quem sabe, meses. Mesmo assim, ele se compenetrou e disse, afinal.

--- Não somos mais noivos. Seu nome é Salésia. Ela, agora está no iniciativo das Irmãs da Igreja do Silencio. E se acabou o noivado. – respondeu Jubal, melancólico.

--- Ah, bom. É uma pena. Uma jovem tão atraente se dedicar a Santa Igreja de Jesus. – falou Natália querendo encobrir outro contentamento.

--- Não foi por falta de conselho e advertência. Até parece que eu tenho imensa culpa. Mas, afinal foi, ela que preferiu esse caminho – relutou o homem ao dizer tal caso.

--- É isso mesmo. Mas, e o senhor como está passando esses dias? – perguntou Natalia.



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