domingo, 22 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 52 -

Maureen O'Hara
- MEIAS DE SEDA -
- 52 -
No dia do casamento de Jubal e Natália não foi tão simples assim. Para se adornar, Natália ficou em sua casa onde teve a ajuda de sua “filha”, com se chamava a jovem moça de 20 anos de nome Mirna. Além de Mirna, outras pessoas amigas estavam na casa de Natália. Vizinhas; comadres, conhecidas, amigas. Eram as arrumadeiras que se encontravam presentes na preparação dos arranjos, como vestido de noiva branco e longo, grinalda para por na cabeça, véu comprido de arrastar no chão, sapatos brancos, luvas, bolsa branca e sem falar nas meias, por sinal, de seda. Com todo o cuidado, a mulher, Natália, se vestia com aprumo e elegância que sempre fazia uma mulher no dia do seu primeiro casamento. Apesar de todo o cuidado possível, a meia de seda de Natália arrastou um fio, coisa imperceptível, ao longo de seu comprimento deixando a noiva inquieta a chorar.


--- Não pode ser! Logo agora? E comigo? Esperei tantos anos para vir logo acontecer comigo? – pronunciava Natália a prantear o fato de a sua meia ter se rasgado furtiva e delicadamente ao longo do seu trajeto que percorria do pé a coxa.

--- Espere! Não chore! Deixa de agonia! – dizia uma das comadres.

--- A gente ajeita! – dizia Mirna com todo o seu cuidado em rematar a noiva.

No entanto, nada era possível fazer. Apenas um simples fio de seda aberto acabou com a festa da mulher de seus quase quarenta anos. A noiva chorava com todo o rigor de que entra em um estado de depressão. Arranjos florais estavam postos a cama ao passo que o buque de nova feito de rosas puras e brancas encostado igualmente na penteadeira não faziam diferença para Natália. E nesse redemoinho de puras emoções descontroladas alguém falou:

--- Aqui perto tem uma lojinha de arranjos de noivas! – falou a mulher despreocupada.

--- Então chegue até a lojinha e veja se tem um par de meias para ser usada! – rebateu Mirna aquietando a noiva.

--- Aleluia! Aleluia! – declarou uma comadre alegre e festiva.

Naquele instante preciso, Mirna foi de imediato com a comadre de Natália ver se a mulher dispunha a tempo de meias de seda e que pudesse vender após explicar o que acontecera com ao outro par. Dos muitos modelos apresentados, Mirna escolheu dois e falou que estava levando sob condições. A mulher do Bazar das Noivas deu sim como resposta e, alegremente, destacou que esse tipo de situação era o sacrifício das noivas quando estavam com pressa de casar. E Natália era uma das quais. Foram sorrisos a valer. E em um instante Mirna e a comadre de Natália estavam de volta com novos pares de meia de seda. Para o contentamento da noiva, um dos pares bem que dava certo, pois era da mesma cor do vestido em cetim brocado de renda italiana. Era um magnífico vestido de noiva bem aceito pela sociedade do momento. Enfim, ao caso Natália deslumbrante e bela, chegou a Catedral com quinze minutos de atraso como era praxe de acontecer: a noiva sempre atrasar para o seu primeiro casamento. Na Igreja Matriz estavam já a postos todos os convivas, desde padrinhos ao majestoso pessoal, convidado tanto pelo noivo Jubal Valadares Guimarães e a suntuosa noiva Natália Coimbra que, após a cerimônia, teria o sobrenome do marido: Guimarães.

Dona Chiquita, mãe do noivo, com sua bengala, era uma das mais entusiasmadas com a majestosa festa. Outras que fizeram festa mesmo na Catedral eram as filhas e filho de Jubal, o garoto Otavio, e as mocinhas Olinda e Oceanira. De outra parte, a irmã do noivo Carmen e os seus filhos Ricardo e Roberto. Da parte de Natália, tinha a sua filha de criação, chamada Mirna além das comandes, amigas e gente próxima. A festividade era em um suntuoso local que era próprio para tais comemorações. Uma orquestra animaria a festa tendo ao piano o mais conceituado maestro, Oscar Novaes cujo requinte era magistralmente o de se notabilizar por tocar em festas de casamento, noivados, debutantes, saraus além de acompanhar a grande Orquestra Sinfônica local uma das prestigiadas Orquestras da região cujo nome atravessou fronteiras.

A festa de casamento atravessou a madrugada quando a lua crescente já imaginava já por demais tarde. Os noivos recém casados voaram para um novo esconderijo em local plenamente desconhecido onde se ouvia o bater das ondas a marulhar nas pedras quando o silencio era total. Em local ermo e descuidado ainda dormiam os recém casados sob um céu de flaboian onde ninguém acordava para se ingerir a primeiríssima refeição da manhã. Como deslumbrar chuva de prata era o luar que ascendia os corações medrosos dos apaixonados. A noiva quieta dormia e não ouvia nada além do seu eterno respirar. Quando a manhã já era alta com o sol ao cume uma vitrola tocava uma melodia dolente fazendo com que Natália se espreguiçasse toda e voltou o seu olhar para o homem adorado que apenas procurava um beijo do amanhecer.

--- Dormistes como um anjo, querida. – falou Jubal ao dizer que aquele momento era um instante de amor que não passaria nunca mais.

--- Bobo! Nós já podíamos ter isso há muito tempo! – sorriu Natália infantilmente.

--- Mas eu não te conhecia, amor! – sorriu Jubal para a bela dama.

--- Porém eu te conhecia há longo tempo. – respondeu a mulher com alegria.

--- E por que tu não me procuraste antes? – perguntou Jubal com espanto

A mulher sorriu e fez um aceno com a mão como quem dia: “Deixa pra lá, homem”. E novamente beijou o seu marido.

Quando à tarde já morria a mulher procurou arranjar suas vestimentas de noivado em uma caixa forrada de veludo. Quando Natália pos as meias de sedas no lugar, ela se lembrou dos outros pares de meias e com isso ternamente sorriu. O marido a vendo sorrir pergunto de que estava lembrando.

--- Nada! Besteira! Eu apenas fiz um dramalhão a vestir as minhas meias e notei que um dos fios havia se soltado. Quase o mundo caiu. Mirna teve que ir comprar outro par de meias. – sorriu Natalia com muito vagar.

--- Interessante! Um par de meias por sinal de seda quase acaba uma felicidade para longos tempos! – falou Jubal ao encostar-se ao corpo da amada.

--- Pois é. Um par de meias. – sorriu Natalia pensativa.

--- Em que estás a pensar? – perguntou Jubal um pouco atento.

--- Em nada ou em tudo. Você disse que eu me parecia com sua ex-mulher. Eu disse que eu e ela fizemos presepadas no colégio onde estudávamos. Tudo aí, muito bem. Acontece que as aparências enganam muito. Você sabe disso muito bem. Mas, ontem, ao terminar a solenidade na Catedral, quando saiamos, uma mulher de certa idade, veio me dizer que eu estava casando com o ex-marido da minha irmã verdadeira. Eu fiquei atônita. Mas a mulher desapareceu. Eu me lembro que um certo dia, a minha mãe vinha comigo pela rua da Cidade e uma mulher – parece que seu nome era Vitória – perguntou a ela:

--- Olá Corina. Essa é a menina que você cria? – falou Vitória.

--- A minha puxou pelo meu braço e atravessou a rua sem dizer uma palavra. Eu nunca me esqueci desse fato. Eu era pequena. Muito pequena. Mas me lembro como hoje. – relatou Natália com angustia.

--- E você nunca perguntou à sua mãe? – perguntou Jubal com espanto.

--- Não. Não. Eu queria muito bem a minha mãe. Às vezes eu olhava para ela e sentia vontade de perguntar. Mas eu sei que ela não diria nada. Se foi ou se não era. No muito ela diria:

--- Quem disse isso? – diria a mãe de Natália.

--- Eu pensava duas vezes e terminava por não perguntar. – declarou ensimesmada Natália já chorando.

--- É muito estranho o que você está me dizendo! – falou Jubal pensativo.

--- E Nora nunca tocou no assunto? –perguntou Natália levantando a cabeça.

--- Não. Nunca. – disse Jubal remoendo a lembrança.

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