domingo, 8 de agosto de 2010

MEIAS DE SEDA - 36 -


- MEIAS DE SEDA -

- 36 -
Por volta de oito horas da manhã de um dia qualquer Oceanira estava a regar o plantio de rosas e de flores que o seu pai detinha em sua casa, logo na entrada, após o muro baixo da frente e a entrada da casa, uns três metros de distancia. A horta ficava no meio dessa distancia coisa de dois metros. Ela regava descuidada e as vezes olhava para a rua e em outra olhava para o céu vendo a posição do sol para não esquentar muito o plantio das flores. Com seus mais de quinze anos, Oceanira cuidava do jardim e lembrava-se da noiva do seu pai. Elas combinaram de fazer uma tarde de lazer em qualquer fim de semana. Talvez fossem a praia, logo cedinho da manha, se fosso o caso ou a tarde, também podia ser a praia para tomar um banho de mar. Oceanira olhou para o relógio de pulso, mas este não estava em seu pulso. Ela sorriu por estar tão distraída. Com a mangueira na mão, em pé, Oceanira apenas jorrava a água sobre as mudas de plantas que o seu pai havia fincado há poucos dias. Nesse pensamento mesmo distante, Oceanira nem percebeu que estava por trás a sua irmã, Olinda, coçando com o dedo o seu pequenino nariz a olhar atenta o jato de água que saia da mangueira. Olinda permaneceu ali por pouco tempo e logo saiu para fazer alguma travessura. Uma revoada de pombos passou do leste para o oeste e aquilo, pois a admirar a moça.


--- Pombos! – disse Oceanira, despreocupada.

Era comum aparecer pombo naquela região. Além de pombos também havia pássaros, gaviões e até mesmo outras aves de rapina. E ela ouviu o chilrear de um canário e de outros pássaros que pareciam até fazer uma sinfonia silvestre. O sol batia um tanto forte de queimar a pele da moça. Ela sacudiu água no seu corpo como que para esfriar. Alguém passado olhava para a macaquice da moça e findava por sorrir. De pronto, surgiu um carro de praça estacionando em frente da casa de Oceanira. Ela olhou para ver quem era e de imediato vislumbrou a figura de sua tia Carmen, irmã de Jubal e filha de dona Chiquita. Com a sua tia vinham mais duas mulheres, por que deu para notar de onde estava, no meio do jardim, a moça Oceanira. Dona Carmen abriu a porta do carro e saltou chamando as outras duas amigas a descer também, ficando no carro apenas o motorista.

--- Onde está o dono da casa? – perguntou de forma ríspida à senhora Carmen.

E a mocinha respondeu sem desaforo de forma tranqüila e imediata.

--- No trabalho. – respondeu Oceanira de forma tímida.

--- Pois sim. Diga aquele bruto que se quiser ver a sua mãe ainda com vida que corra para o Hospital. Ela está internada desde a manhã. – gritou a mulher sem meias palavras.

--- Onde mesmo, tia? – perguntou a moça apavorada.

Nesse igual instante Carmen entrou no carro de aluguel, e pediu para que as duas amigas entrassem também e ordenou ao motorista a dar partida, seguindo direto para – com certeza – o Hospital sem dizer mais nem uma palavra de volta a Oceanira.

Em seguida, Oceanira entrou correndo para dentro de casa, desesperada, muito agitada, com a pulsação a mil, gritando por Eunice, a doméstica, dizendo coisa com coisa como não pudesse mais falar. Do monte de ocorrência que se entendia era ela a dizer, impertinente, que a sua avó estava para morrer.

--- Quem? – perguntou Eunice em pavoroso.

--- Vozinha. No hospital. Tenho que dizer ao meu pai. – respondeu a moça chorando.

--- Dona Chiquita? – voltou à mulher a indagar.

--- Ela mesma! – disse a moça a chorar.

--- Quem está doente, heim maninha? – perguntou a do meio, Olinda.

--- Sua avó. Minha avó. No Hospital. – respondeu Oceanira bem depressa enquanto procurava o dinheiro para ir até seu pai avisar do caso e tinha ainda que mudar de roupa. E nesse caso qualquer uma servia.

--- Deixa eu ir! – lamentou Olinda para satisfazer sua irmã mais velha.

--- Não. Você fica. Cuidado com Otávio. CUIDADO! Ouviu? – advertiu Oceanira a pequena irmã.

E em seguida passou recomendações a Eunice. De qualquer forma, Eunice já estava ciente. E começava a chorar também, como Oceanira.

Em poucos minutos Oceanira rumou para a avenida não tão distante onde passavam o ônibus e o bonde. Em lá chegando, a moça apanhou logo o Bonde que já estava a passar. Sentando-se no banco do meio, a moça voltava a chorar em silencio. Um homem que estava ao seu lado olhou a moça e trocou comentários alusivos que de um modo ou de outro não fazia diferença a Oceanira. A jovem moça rumou até o fim da linha – ou início – e de lá rumou para a casa de Salésia, pois assim teria maior coragem em dizer ao seu pai o que nem ela sabia ao certo. Ao chegar na casa de Salésia, essa se encontrava na sala. Oceanira a chamou depressa, pois tinha um assunto a resolver junto ao seu pai e gostaria que Salésia fosse com ela. A mãe de Salésia perguntou a Oceanira o que se passava e ela respondeu mais que depressa:

--- Depois a senhora sabe. – respondeu Oceanira ainda a chorar

--- Ora que merda mais fedorenta! A gente pergunta uma coisa que está havendo e a moça manda esperar.

As duas colegas saíram de casa bem que depressa. Oceanira disse a Salésia apenas o que a sua tia lhe havia falado. Após descerem o restante da rua, elas dobraram à esquerda e rumaram até o ponto de descida da Feira do Paço e de então seguiram em direção ao sitio de Jubal. O pai de Oceanira estava a trabalhar no sitio e se assustou quando viu a filha e a sua noiva entrarem pela porteira e ficou de sobressalto. Não imaginava sequer o que podia ter ocorrido. De repente, a filha se abraçou ao seu pai seguido da noiva. Foi então que Oceanira contou ao homem tudo o que lhe havia dito a sua tia Carmen. O homem ficou mais alarmado ainda e procurou de ajeitar e de imediato estava pronto para ir ao Hospital ver o estado de sua mãe, dona Chiquita. Deu as instruções que teria que dar ao menor José e então partiu em direção a Praça da Matriz onde havia carros de aluguel estacionados

Quando chegou ao Hospital, Jubal estava já desesperado. Com sua filha e noiva entrou no recinto e foi até a sala de recepção indagar pela saúde de uma paciente que estava internada desde a manhã daquele dia.

--- O nome, por favor! – perguntou a recepcionista.

--- O meu ou o da minha mãe? – soletrou Jubal meio impaciente.

--- Sua mãe. – respondeu a atendente.

--- Chama-se Francisca Valadares. – respondeu Jubal atarantado.

--- Momento, por favor. – replicou a atendente.

Daí para tanto foi um tempo enorme, no entender de Jubal. A filha e a noiva também estavam inquietas. De momento, a noiva Salésia se agarrou ao braço de Jubal e, por conseguinte a filha também fez o mesmo gesto. A demora não chegou há cinco minutos quando a atendente chamou Jubal para orientá-lo o que deveria fazer. A sua mãe estava em coma na UTI do Hospital. Jubal teria que falar com o médico que lhe atenderia para dar novas explicações. E assim Jubal seguiu pelo corredor adentro, após abrir uma imensa porta, com a sua noiva e filha até chegar ao consultório do médico de plantão. Ao entrar da sala, ele topou com sua irmã e duas amigas que estavam ali há um tempo infindo. Após algum tempo, o médico o atendeu e lhe disse que o que fora acometido a senhora Francisca Valadares foi um derrame cerebral. Ela estava sedada e passaria assim por dois dias. Seu estado de saúde era bom, não fora o derrame. Com relação à visita, a senhora Francisca somente poderia receber após os dias de internação na UTI por questão de segurança. Jubal agradeceu e saiu, encontrando-se novamente com a sua irmã Carmen.

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