sexta-feira, 12 de setembro de 2008

RIBEIRA - 112

ARRASTÃO

Aqui se vê a praia de Areia Preta (foto) com um calçamento feito de barro batido. Mesmo assim, a praia não era lá de muito progresso. A estrada de barro era para ligar com uma casa existente bem para trás. Na praia propriamente dita, havia rede de malha dos pescadores que, em maré cheia, eles jogavam de mar a dentro para depois puxar. Esse era o chamado "arrastão" muito cantado nas canções de autores que tiravam das redes as suas inspirações. Na encosta do morro tinham uns casebres feitos de taipa ou mesmo de palha. Em um deles, os pescadores bebiam zinebra ou mesmo cachaça, pagando com o apurado que lhe rendia o mar. Cioba, cação, pargo, e até mesmo peixes mais caros, como arabaiana ou galo-do-alto, se desse um bom tempo. A rede era feita de fio de algodão pelos próprios pescadores ou por suas mulheres e filhas. Era interessante se vê quatro pescadores com a rede enrolada em um pau, eles carregando de volta com a rede sobre os ombros, para estirar em outros paus de três metros, numa distancia entre cada pau de cerca de dois metros.O peso da rede obrigava a eles marcarem a uns passos rápidos, com um chapéu de palha na cabeça, pernas das calças arregaçadas até o meio da canela, camisa desabotoada ou vestindo um camisão do Exercito que eles arranjavam com os soldados. Pés descalços, braços nus, pele queimada pelo sol, lá ia o pescador depois de ter feito o arrastão e tirado os peixes que Deus lhe deu. Depois da zinebra, era a casa, pois quem vendia os peixes era um "doutor" que ao pescador, ele pagava uma ninharia. Além disso, tinha outros homens que vendiam peixe nas portas de casa, nos bairros de Petrópolis e Solidão, mais tarde convertido no bairro do Tirol.Esses vendedores, ficavam com a parte miúda da pesca.Peixes pequenos. Mesmo assim, toda a gente comprava pois se costumava dizer que era "peixe fresco", pegado naquela hora. Assim, foi no que viveu a Praia de Areia Preta, hoje tomada por imensos prédios de apartamentos em lugar dos casebres de palha da folha do coqueiro.

Na verdade a relação do homem com os peixes é tão antiga quanto a história. Sem ainda ter desenvolvido as formas tradicionais de cultivo da terra e criação de animais, as sociedades primitivas praticamente dependiam da pesca como fonte de alimento. Com o aparecimento do cristianismo, os peixes passaram a ser vistos como refeição nobre. O consumo cresceu consideravelmente e a pesca marítima se estabeleceu. Na Idade Media o peixe se transformou em ouro. Usado como moeda de troca entre os senhores feudais e camponeses, era comum que o pagamento da renda da terra fosse feito em peixe ou óleo de peixe.

No Brasil, antes do seu descobrimento a pesca já havia se estabelecido entre os indígenas. Quando os portugueses aqui atracaram, encontraram tribos nativas com seus métodos próprios para a construção de canoas e utensílios para a captura de peixes. Registra-se a influencia da pesca no aspecto sócio-econômico do pais, visto que várias cidades litorâneas se formaram a partir de núcleo de pescadores. Essa é uma tradição que persiste até hoje em diversos locais, como em Natal (Rn), onde se serve o pescado extraído do mar ou pescado na praia com redes de pesca como as que um dia enfeitavam a praia de Areia Preta.


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