domingo, 14 de setembro de 2008

RIBEIRA - 115

ASSIM FALOU ZARATUSTRA

Naquela manhã de um certo dia da semana eu passava pela "Livraria Ismael Pereira", na Ribeira, em Natal (Rn), somente para vê as novidades que estariam à venda. De preferência, Cinema. Nada de novo no front. Corri a vista pelas prateleiras e lá estava, um tanto escondido, um livro do qual já ouvira falar: "Assim falou Zaratustra", de Nietzseche. Pensei um pouco, com o parco dinheiro de me sobrava no bolso e resolvi comprá-lo, afinal era mais um livro que me fazia um "intelectual de sovaco", pois era comum os jovens andar com livros debaixo do braço, não raro, só para mostrar o que estava lendo naquele momento. Ele era um autêntico "intelectual de sovaco", como se costumava chamar. Não raro, o rapaz passava pra lá e pra cá com o mesmo livro, pois o que desejava era que todos vissem o livro que ele comprara. Isso não tem lá a sua grande importância. Eu até podia ser um desses intelectuais, mas, naquele momento estava interessado em passar vista na brochura. Que importa que chamassem o que chamassem?

Comecei a ler o livro antes mesmo de chegar ao escritório do meu tio. E, quando entrei, esperava que o "velho" me perguntasse: "Que livro é esse?". Porém, não foi isso que veio de lá. Ele, apenas, soltou um brado que me assustou: "AGORA?!". Não deu certo o meu modo de chegar um pouquinho mais tarde que o de costume. Depois de prestar contas do serviço, continuei a ler o tal de Zaratustra para "enriquecer" meus precários conhecimentos sobre o mundo.

Zaratustra era o mesmo que Zoroastro ou Zoroastres. Ele foi um profeta nascido na Pérsia, onde hoje é o Irã, lá pelos meados do século VII antes de Cristo. Ele foi o fundador do Zoroastrismo, religião adotada oficialmente pelos Aquemênida, pelo século 553 a.C. O significado do seu nome é um tanto obscuro, porém deve ter algo a ver com "camelo", de acordo com a língua persa.

Há muito tempo, nas estepes a perder de vista da Ásia Central perto do Mar de Aral. um lago de água salgada também designado como Mar do Interior, havia uma pequena vila de casas de adobe, tijolo de barro, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto dia da primavera, um menino nasceu naquela família. A sua mãe e o seu pai decidiram dar-lhe o nome de Zaratustra. Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebê rir ao nascer.

Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões, aquilo que a humanidade considera como sobrenatural e divino. Ele então decidiu tomar providencias e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer. Ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações".

O pai do garoto não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impos uma prova. Na manhã seguinte Pourushaspa Spitama fez uma grande fogueira e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso. Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebê não sofreu um só arranhão. Então o sacerdote arquitectou logo um outro plano. O menino foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila.

Ao crescer, um dia, Zaratustra meditava às margens de um rio quando lhe apareceu um ser estranho, de forma indiscritivel, tal a sua beleza e brilho. Veio-lhe anunciar que estava ali para leva-lo para um lugar muito bonito. Seu nome era Vohu Mano, a Boa Mente e lhe anunciou que Zaratustra estava ali para conhecer Ahura Mazda, o próprio Deus que cria tudo o que existe no mundo. E Deus conversou com ele. Depois de um longo período, Zaratustra voltou para casa onde contou tudo o que lhe acontecera. A sua família se encheu de júbilo mas os sacerdotes rejeitaram o que Zaratustra lhes disse e, então, resolveram dar cabo da vida do rapaz.

Porém, Zaratustra conheceu o plano e com a sua família vinte e dois companheiros e companheiras fugiram para um outro local. Depois de várias semanas, Zaratustra foi estar com Vishtaspa e com ela partilhou a sua descoberta.Passaram-se dois anos, entre prisões e liberdade até um dia que a moça aceitou o que Zaratustra lhe dissera. Dos 20 aos 30 anos, já conhecido por seus milagres, Zaratustra viveu em isolamento, no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Foi ele o primeiro profeta a dizer da existência do céu e do inferno e por 40 dias esteve isolado, tendo sido tentado pelo Demônio, mas não sucumbiu do mesmo modo como aconteceu com Jesus. Aos 30 anos de vida, Zaratustra, depois de sete visões divinas, recebido a unção, ele voltou para junto do seu povo.

E aos 30 anos, Zaratustra começou a sua missão, com muito sacrifício em converter as pessoas à sua nova religião. Ele surgiu, durante dez anos, como uma voz do que clama no deserto. Depois desse tempo, perseguido e hostilizado por sacerdotes, ele conseguiu a sua religião ser consagrada como oficial em um reino da Pérsia. Aos 77 anos de idade Zaratustra foi morto, assassinado, enquanto rezava no templo. Depois do Rei, ele era a maior figura do império. Seu túmulo estaria, hoje, em Persépolis. Na doutrina de Zaratustra, antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos antagónicos: os espíritos de Bem - Ahura Mazda - e do Mal - Arimã - O mal é representado como uma serpente. Ele é o criador de tudo o que é ruim; - dor, seca, mentiras, crimes, doenças e pecados. Já Ahura Mazda, o Deus, é o criador original, organizador do mundo perfeito.A doutrina de Zaratustra diz que o mundo duraria doze mil anos.


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