terça-feira, 2 de setembro de 2008

RIBEIRA - 98

PRAIA DE AREIA PRETA

Esta é a praia de Areia Preta, em Natal. (Rn) no tempo que as senhoras vestiam uma espécie de maiô que lhe chegavam até a metade das pernas ou canelas. Os meninos iam vestidos de calça e as meninas, de saia. Era assim que toda a família tomava banho de mar. Isso foi no ano de 1920 quando ninguém pensava no tal chamado fio-dental. Os casebres de taipa à beira mar, eram cobertas de palhas de coqueiros. Por sinal, tem um pé no quintal de um casebre. Na frente das casinhas tinham um alpendre também coberto de palha de coqueiro. Nessas casas, o praiano podia tomar água doce que era bem servido. Os donos das casas tinham o maior prazer em oferecer uma caneca de água àqueles que o visitavam. A água se tirava de cacimbas cavadas no fundo do quintal. Para se lavar roupas de casa, as mulheres e mocinhas iam até as cacimbas que os pescadores cavavam na praia ao lado da foto que mostrava. Eram cacimbas rasas, pois a agua salobra dava com uma certa profundidade, não precisando se cavar muito. Nas casas, tinham zinebra, uma bebida extraída da cana. E cachaça, conhaque, isso para os homens, os pescadores quando voltavam do mar onde passavam de 4 ou mais horas pescando. Carros? Esses não passavam pela o que podia se chamar de rua. Não raro, o pescador pegava o bonde que parava mais acima. No alto do morro, não havia casa. Era só morro mesmo. Se alguém falasse em morar lá no alto, o pescador olhava um tanto desconfiado. Assim, era Areia Preta onde os ricos nem pensava em ir morar lá, por dinheiro nenhum.

O tempo passava lento, com os pescadores e sua família - Belinha, a dona da casa, e os filhos Beto, Vão, Lia, Jacira - fazendo o que todos dos dias eles tinham para fazer. Os mais velhos ajudavam os pais a pescar. E as meninas, ajudavam as mães nos afazeres domésticos e nada mais. Um dia ou outro, os filhos mais velhos rumavam para a cidade, onde vendiam os peixes no Mercado Público. E as mocinhas, batiam perna levando alguns pescados para dar de presente às suas madrinhas, no bairro Solidão. Em troca, elas levavam para a suas mães, um pouco de dinheiro, mangas, bananas e mamão. Era essa a luta de quase todas as semanas, que as famílias tinham que cumprir. Com olhares travesso, as mocinhas ficavam surpresa quando notavam algum móvel cheio de louças, cristais, travessas e jarras bem postas nas prateleiras. Aquilo, era assunto para muito tempo, dizendo que seus padrinhos eram ricos. E as mocinhas ficavam a sonhar no dia em elas teriam todas as louças que certa vez, em casas alheias, chegaram a contemplar.

Um dia, com o tempo que passou, as casinhas de palha, de reboco ou mesmo de taipa, cederam lugar as notáveis casas, sobrados de não sei quantos andares, abrindo espaço para a pista por onde passariam os automoveis de luxo com seus motoristas nem se lembrando que alí viveram gentes desconfiadas, pauperrimas, de pele escura do sol que se expunham. No alto, o morro cedeu lugar às pequenas choupanas que, um dia viraram casas do mais augusto gosto. Os pescadores e suas jangadas continuavam a pescar para a certeza de que algum dia eles também teriam uma manção como aquela do homem rico que se apossou da terra. As casinhas? Ah. Elas sumiram diante do elevado progresso que veio a se instalar.


Nenhum comentário: