terça-feira, 2 de setembro de 2008

RIBEIRA - 99

TEMPESTADE

Já era de madrugada, coisa de quase tres horas, quando eu me encolhia todo, morrendo de frio, em baixo da tenda daquele bar, na margem da estrada e na beira da praia. O vento frio de fazer tremer os mais fortes, a mim também fazia, um pobre coitado vestindo uma camisa de pano comum, de mangas compridas. No salão, ouvia-se o alarido dos mais bêbados que eu, rindo por tudo e por nada. Na rua, somente os farois dos carros que passavam céleres, levados por seus ocupantes, talvez sem tremer assim como eu do frio que fazia. Das coberturas, caíam enxurradas de água não permitindo sequer eu tentar atravessar a calçada. Um pobre coitado se esfregava pela parede, puxando o corpo, tentando chegar até onde eu estava. O aguaceiro transbordava em toda a imensa rua, fechado por completo a visão de quem queria enxergar. Para mim, aquilo era um dilúvio. As minhas temporas batiam em uma zoada sem fim, como se um monte de grilo tivessem acordado em ploena noite para me atormentar. No meu estado, mais ébrio do que o normal, ouvia aqueles grilos ensurdecedores fazendo a sua algazarra sem parar. Jurei, naquele momento, nunca mais beber na minha vida. O bebado se encostou na parede perto da entrada do bar dizendo algumas frases que somente ele entendia. Do interior do bar, uma gargalhada solta de algum outro embriagado ao tempo que gritava que vencera, talvez uma partida de dama. Na rua chuva sem cessar. Os automóveis passavam rápidos em busca do desconhecido. De um deles ouviu-se o gargalhar de uma mulher como se fosse estérica. Os que serviam as mesas, os garçons, migravam para um lado e para outro, com certeza, procurando satistafer aos pedidos que os embragados costumavam fazer. Lá de dentro, onde havia um fogão, o cheiro profano de carne assada que me dava vontade de vomitar até as tripas. Por um certo tempo, acossado pelo vendaval, gritei. Um grito ébrio de alguem que estava ao desespero. Gritei o nome da mulher amada que nem me esperava mais. Com certeza, já dormira coberta em lençois limpos e aquecidos, como costumava fazer. Na verdade, a mulher, agasalhada, dormia o sono dos justos. E eu, estava ali, tremendo de frio, embriagado e sem destino. Naquele instante, por entre os carros de luzes incandescentes, eu parti para o outro lado da rua, me enxarcando todo, buscando enfrentar o mar de suas águas escuras e revoltas rumando em minha direção. Estava alí, eu e o mar. Ambos todos enxarcados pela tempestade.


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