terça-feira, 16 de setembro de 2008

RIBEIRA - 118

PALÁCIO DO GOVERNO

Este aqui, foi o Palácio do Governo e findou sendo o Arpege, um cabaré de gente mais ou menos rica. O Palácio do Governo funcionou nesse prédio em junho de 1869. O prédio pertencia a Domingos Henrique de Oliveira, comerciante rico de Natal (Rn). O Governador era Pedro Barros Cavalcanti de Albuquerque. A rua não era a Chile, mas a Rua do Comércio, visto que alí se concentrava a grande parte dos comerciantes da época. O prédio era um sobrado e o Governador morava na parte de cima. Pelo que se tem visto na História do Rio Grande do Norte, aquele era o sobrado mais caro, mais imponente e mais alto que existia em Natal. Foi uma época intensa na vida da política do Estado.

Com o passar do tempo, o Palácio virou em uma casa de comércio, na parte de baixo, com um vasto sortimento de secos e molhados pertencente a um verdadeiro homem de visão, Aurino Suassuna que deu emprego a uma ou duas dezenas de operários. Os consumidores que frequentavam o armazém eram recebidos e tidos como alguém de alta classe, pelos atendentes que sempre estavam a esperade mais um consumidor As pessoas mais ricas de Natal sempre se dirigiam àquele Armazém para fazer as suas compras de mercado. Isso, no ano de 1950, antes e depois. O sobrado tinha dois andares e as pessoas que alí frequentavam sentiam-se orgulhosas de estar fazendo as suas compras naquela casa de comércio, a mais ilustre da capital. No prédio em que ficava a casa de negócios, quem fosse ali, passava por montes de sacos e de bebidas finas que existiam na época na capital. Na verdade, era um assombro se ouvir dizer que se fez as compras naquela casa.

O tempo foi passando e o lugar foi alugado pelo dono de uma boate chamada Arpege. No local, tinham vitrolas, bailes, bebidas, comidas e muitas mulheres semi-vestidas fazendo o afago a seus namorados por um instante. Para se chegar até o palácio das ilusões fortuitas, entrava-se por uma porta nos fundos do edifício que dava para o rio Potengi. Todas as noites eram de prazer e de muito amor. As damas da noite, sorridentes, convidava o seu amante para beber e lhe pagar também, um drinque e um cigarro americano. Homens já velhos, charutos na boca, se agasalhavam entre os seios da mulher amada e dava a ordem que ela podia pedir o que quizesse. Sorrisos em desalinhos, uma pintura de uma deusa em um lugar da parede, salão grenat e todo o recinto era tomado de perfumes de mulheres em seu investigativo olhar para o seu amante da noite. Fervorosos gritos suaves acompanhava o parceiro na dança em meio a roda que se formava entre os dois. Com um pouco, três e mais além,todas os homens que ainda se aguentavam de pé. Era uma noite de encanto aquelas que se vivia na Boate Arpege.

O tempo, inexorável, foi passando e de cabaré só a lembrança dos homens mais velhos. No vetusto edifício, a água escorria como um ébrio balança em uma imaginária corda bamba. Era o tempo da chuva. Chuva torrencial que levava aos trambolhões tudo o que aplicava em seu caminho. Na rua, caminho de todos, outros noturnos ébrios se agasalhavam com o que podia da uma cobertura. O céu era plúmbeo dando a impressão que aquela noite não mais teria fim. Do cais ao lado, as buzinas dos barcos anunciando a chegada ou partida. O tempo rugia, frenético, por entre as paredes do Casarão. Em um momento nunca esperado, ouviu-se um estrondo. Algo que ruía por completo. Alguém olhou um tanto ébrio e pensou que era o tempo de dormir. Do casarão, uma parte enorme do edifício se espatifou no chão calçado. Era o fim, com certeza, daquele que foi um dia o Palácio do Governo, do Armazém de Cereais, da boate Arpege.


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