segunda-feira, 1 de setembro de 2008

RIBEIRA - 96

PRAIA DA REDINHA

Esta é a praia da Redinha. Ou, era. Ali não havia casas como hoje. Podia-se encontrar casebres de palha e só. Seus moradores eram pescadores, homens que viviam da pesca. Ou lançavam redes no mar, ou saíam a navegar de mar a fora a procura de peixes. Os crustáceos, eles encontravam na beira da praia ou do rio Potengí. Em tais locais, o pescador se enfiava no mangue do rio a cata de caranguejo, camarões e mesmo os peixes miúdos que estavam ali para procriar. Mangue, tinham muitos. Ambos, dos dois lados do rio: esquerdo e direito. A Redinha viveu assim por vários séculos e nem pensava em progresso. PROGRESSO? QUE PROGRESSO! Não paga a pena! Aqui, nós "véve" assim "mermo", diziam os pescadores desprezados da sorte Aqueles anos, dos séculos XVII, XIX e parte do século XX, eram anos bem vividos. Os coqueiros, que ninguém sabia quem plantou, enchiam a vista de quem pudesse vê. Eram muitos, os coqueiros trazidos pelo mar e que ali tomavam raizes, nasciam e cresciam como queriam. Ninguém sabia de onde eles tinham vindo. "Nao paga a pena", com certeza, diziam os pesadores. E alguém mais sabido se aventurava em dizer: "Vem do mar. É coisa que vem do mar". No outro dia, era dia de pesca. Então, as mulheres e mocinhas tratavam de arranjar as redes, costurando onde se romperam. Coisas desse tipo. Os pescadores já eram brasileiros, pois seus pais, que eram ou foram portugueses, lhe ensinaram o ofício. Quando pescar, como pescar, puxar as redes, cozer o que tinha que cozer. Essa era a faina do homem que vivia do mar ou do rio. Nos meninos ou mesmo, os menores, e alguns mais velhos, quando a maré secava, eles se enfiavam por entre os mangues do rio a procura de crustáceos. Eles viviam dessa comida. Os peixes grandes, ah, esses eram para os doutores da cidade a quem os pesadores levavam o pescado. Se pegavam peixes miúdos, esses, eles deixavam com as mulheres que ajeitavam as redes de pesca. É certo que o pescador tem suas histórias. Por exemplo, eles costumavam contar um causo que teria acontecido, lá para os anos que não se sabe quando. Um pescador foi tragado por um peixe muito grande e, nos tempos que eles contaram essa história, o homem continuava percorrendo o mar, dentro do peixe grande. Por isso, nem todo mundo acredita em história de pescador. Com certeza, lá no fundo a um ponto de veracidade. Porém, com o assombro que fazem do fato, o homem da cidade finda por não acreditar, dizendo que essa é história de pescador, com certeza. Na verdade, o pescador não mente. Ele, apenas conta história já por ouvir de outro pescador. E cada um procura dar sua versão, aumentando um pouco.

Na velha Redinha, antes dos homens da cidade chegarem por lá, ali não era nem vila. As casas existentes eram poucas, bem poucas mesmo. Uma cabana feita de palha onde cabia a mulher e os quatro ou cinco filhos, e um cercado que não tinha mais fim, onde o mestre guardava alguma coisa do barco de pesca, ou outro barco qualquer, uma baiteira, uma barcaça de pesca artesanal muito utilizada pela comunidade de pescadores. Ou mesmo, uma canoa que servia para pescar nas águas do rio Potengi. E assim, viveu o pescador e até hoje ainda vive. Porém, bem mais moderno em seus equipamentos de apanhar o peixe. Inda hoje, se usa a rede para fazer o arrastão onde se colhe peixes de variadas espécies e tamanhos. E com os peixes, vem o sargaço, a moreia, a arraia e os danados dos peixes miúdos que os pescadores deixam com suas mulheres, para que fritem e vendam como tira-gosto de cachaça ou para comer com tapioca. De resto, fica a lembrança da velha Redinha de tempos remotos, pessoas esquisitas e homens sujos de lama preta que se untavam para pegar sirís, caranguejos e outros espécimes raros do mangue.


Nenhum comentário: