quinta-feira, 4 de setembro de 2008

RIBEIRA - 101

PRAIA DO MEIO

Esta é a praia do Meio, em Natal (Rn). Uns, preferem chamar de Praia dos Artistas. No tempo remoto era comum dizer que aquela era a Ponta do Morcego. Isso, agora, não importa. Eu conheci a Praia de Meio quando ainda era criança. Uma praia limpa de águas puras com um cheiro peculiar de sargaço que as ondas do mar traziam e despejava fora, na beira mar. Casas? Muito poucas. Estrada? Só a de pedra da praia que a gente fazia força para subir a ladeira. Coisa de louco. Lembro ainda dos pescadores fazendo o arrastão da rede de colher pescados? Muitos? Nem tantos. Uns poucos. Porém os pescadores teimavam em dizer: "É! Tá ruim! Hoje não deu! É a lua!". E assim eles teimavam em lançar a rede no outro dia, quando a maré estivesse cheia. A meninada catava entre os sargaços algum buzio. Interessante, isso! Nas suas casas..Casebres..Choupanas...as mães olhavam o mar, com seu cachimbo na boca, tirando uma baforada. Elas não conversavam nada. Somente olhavam o mar. A filha quase moça, descia a encosta da praia para ver de perto o que o seu pai conseguira pescar. ..Nada..Quase nada"..Um pouquinho que o homem lhe entregava e mandava fritar para o café da noite. A moçinha dava de volta, rumando para casa. Lá, estava a sua mãe. A moçinha dizia:

--- Pegue! Pai mandou!

--- Bote lá dentro! - respondia a mulher de cara fechada, fumando seu cachimbo.

Os homens recolhiam a rede e estiravam em umas forquilhas armadas ao longo da praia. Era um estirão danado de rede tão preta que fazia dó. Com isso, o dia passava. Os homens buscavam uma zinebra para tomar um trago na esperança de que no dia seguinte pudessem pagar. O caderno do bodegeiro de tanto abrir e fechar já estava com as folhas caindo. O homem anotava a despesa e lamentava do insucesso do dia, porque a lua estava fraca, reconhecia ele.

Era assim que os moradores dos mocambos de palha viviam ao esperar a sorte que o mar lhes dava. Tempos depois, apareceu um Chefe. Prefeito. Homem forte. Falando de progresso. Sucesso, Melhores dias para todos os pescadores. Por fim, anunciou que estava para fazer um muro e assim, impedia que o mar tomasse conta dos casebres. Todos os presentes bateram palmas. A não ser um pescador que dizia com seus botões:

--- Sei não! Muro, aqui? Sei não"! - dizia o pescador.

E o prefeito fez o prometido. Mas não pensou que, um dia, o mar voltava a subir. E nesse dia, Havia uma destruição total. E foi o que deu. O prefeito já não estava na beira da praia. As casas, casebres mesmo, tinham sido derrubadas. Daqueles homens, somente restava a lembrança. E a praia, antigamente seca ou cheia, agora era só destroços. A maré veio cobrar de volta o que lhe pertencia.


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