sábado, 13 de setembro de 2008

RIBEIRA - 113

DAMA DA NOITE
Certa vez, cumprindo o meu dever de ajudante de escritório, ia eu percorrendo as ruas da Ribeira, em plena manhã quando, por um motivo qualquer, olhei para uma casa grande que ficava na esquina das ruas Duque de Caxias e Ferreira Chaves. Ali é a "pensão" de Alice, eu soube depois. Uma casa alinhada, com um muro que dava para a Rua Duque de Caxias, deixando um pequeno espaço entre a rua e a casa. Na frente, um recuo para se poder entrar. Cadeiras alcochoadas e de vime também, havia naquele casarão. Para mim, que era de menor idade, entrar? Nem pensar! Logo pela manhã, o movimento era tranquilo. Uma mulher ou outra saia para fazer compras no comércio. Um homem, todo sujo, trazia na cabeça um balaio de compras. Eu podia vê o que ele trazia: verduras e mais verduras. Mais em baixo, vinham as compras propriamente ditas. O homem, robusto, de cor enegrecida, tamanho médio, pés descalços, entrou pelo beco arrodeando a casa para dobrar no final e lá atrás fazer a entrega daquilo que a dona tinha comprado. A dona não era Alice. Mas uma outra mulher que fazia isso todo santo dia. Alice, com certeza, estava dormindo a essa hora do dia em uma casa alugada em uma das ruas do bairro das Rocas que lhe servia de morada. Naquele instante, três mulheres muito bem vestidas, saíram pela porta da frente, conversando asneiras e caindo na gargalhada. Ela atravessaram a rua e seguiram pela calçada do outro lado da rua Duque de Caxias, desaparecendo entre os transeuntes. Por certo, elas rumavam para fazer compras de vestidos reluzentes e calçados ultima moda na sapataria mais chique da Ribeira, que ficava em uma esquina da Travessa Aureliano com a Praça Augusto Severo. Alí, ela escolheriam os sapatos. As roupas da moda, num armazém que ficava na rua Dr. Barata: o Armazem Potiguar, com certeza.
A prostituição, uma troca de favores sexuais por interesses não sentimentais, com certeza é uma troca de sexo e dinheiro, por profissão, evidentemente. Mais praticada por mulheres quase sempre jovens e belas, não restam dúvidas, apesar de ter homens metidos no meio também. Em alguns lugares do mundo, a prostituição é reprimida. Porém, na antiguidade, esse comércio do prazer e da orgia era praticado por meninas quando atingiam a puberdade. Na Grécia e em Roma, as prostitutas eram admiradas, mesmo tendo que pagar altos impostos ao Estado para praticarem a profissão. As cortesãs da Grécia participavam de reuniões dos grandes intelectuais da época, como ainda hoje acontece no nosso Brasil com as damas bem vestidas a frequentar solenidades nos mais diversos organismos, como o próprio comércio.
Na verdade, foi no salão de Alice que vim a tomar conhecimento, nos idos de 1952, das casas "alegres" de Natal (Rn) que proliferavam por todos os cantos da cidade, como Lagoa Seca, Cidade Alta, Ribeira e Rocas. Todas essas casas eram muradas - na sua maioria -, ficando por dentro como para ninguém vê o que se passava lá por dentro. Eram seus adeptos os homens ricos de Natal, apesar de ter os cabarés da gente pobre nos bairros mais afastados da cidade, como Quintas e Carrasco. Essa era a vida das mulheres que bem podia se chamar de Damas Da Noite, como uma forma de expressão de plena cortesia.

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