domingo, 3 de agosto de 2008

RIBEIRA - 45

Orquestra Sinfônica
Pela primeira vez eu vi o meu tio Zeca vestido a rigor em companhia de sua esposa, Miriam para assistir a um concerto ou a uma sinfonia que uma Orquestra se apresentava no Teatro Carlos Gomes, em Natal (Rn) naqueles idos tempos dos anos 50. Muito pomposo, perfumado até, ele vestia um uniforme de gala feito para ocasiões como aquela, de terno preto Oxford com o paletó de igual tecido e cor, colete igualmente preto, camisa branca quase sem abotoar, uma gravata borboleta para melhor disfarçar o toque do colarinho, nas mangas, botões como se fossem ouro que encandeava a visão de quem olhasse com mais atenção, por fim, meias pretas igualhando com a cor dos sapatos sociais, ultimo modelo. No bolso do paletó, um lenço branco com letras douradas JL, mostrando em uma orelha que saia logo acima.
O convite para assistir o sinfónico lhe fora passado pelo próprio Diretor do Teatro, o senhor Meira Pires, pois queria fazer daquela apresentação da Orquestra vinda de fora um marco na história de sua casa de espetáculos, tão rica como igual não havia por todo o Estado. Na festa, eram convidados especiais os Governador do Estado e sua família, o Prefeito da Cidade, igualmente com a família, o Presidente do Tribunal de Justiça e família e toda uma seleta classe de empresários que ocupavam as frisas distrubuidas ao longo do recinto. Nas poltronas, a clientela de maior custo apinhava-se em cada cadeiras bem dispostas em números iguais para aqueles que podiam ir ver a grande e monumental Orquestra Sinfónica. As Senhoras procuravam vestir os ornamentais modelos feitos fora de Natal ou mesmo sob encomenda. Vestidos longos, chegando a quase tocar os pés, adornos os mais diversos, jóias, pulseiras, colares de vários estilos, brincos que pareciam iguais colares. Nas mãos, luvas da cor dos vestidos, todos de cores variantes. Aquela era uma ocasião sem par para as damas exporem suas vestes acalentadas por madeixas cobertas por chapéus de fino trato.
O chapéu é uma peça do vestuário feminino que registra a história da moda, pois é um dos únicos itens que acompanha sua evolução. As mulheres usam chapéus de abas curtas estilo Mónaco por facilitam os cumprimentos às demais damas acompanhadas por seus augustos e pomposos maridos. A palavra Chapéu provém o latim antigo "cappa", "capucho" que significa peça usada para cobrir a cabeça. As primeiras modalidades de proteção para a cabeça surgiram por volta do ano 4.000 a.C. no antigo Egito, na Babilônia e na Grecia quando o uso de faixas na cabeça tinha a finalidade de prender e proteger o cabelo. Mais tarde originaram-se os turbantes, as coroas e as tiaras usadas por nobres, sacerdotes e guerreiros como símbolo de status social. O primeiro chapéu efetivamente usado foi o "Pétaso" por volta do ano 2.000 a.C. Tratava-se de um chapéu dotado de copa baixa e abas largas.
Naquela noite, José Leandro, ocupando uma frisa ao alto quase não cumprimentava os seus vizinhos, salvo raras excessões, como as autoridades e gente mais conhecida. A sua mulher, com seu leque de seda, abana-se e ao seu marido que se fazia de imponente a fumar o seu perfumado charuto Swerdik, algo nobre para uma ocasião como aquela que se fazia presente, ainda em palco fechado, a Orquestra Sinfônica que ele estava pronto para assistir com todo o desconforto que provocava o seu traje nunca usado e sempre guardado em um guarda-roupa próprio para tal. Igual a uma criança, José Leandro era uma pessoa que estava ali para aceitar o convite que lhe formulara o Diretor da Casa.
Por fim, a cortina se abriu sob os intensos aplausos da platéia que duraram cerca de 5 minutos para depois se fazer um silencio com o maestro agradecendo a todos e se voltando para o corpo de músicos. Então, ele fez o sinal com sua batuta para iniciar a parte do espetáculo, orquestrando a primeira parte do programa ouvindo-se os acordes iniciais do magistral "Capricho Italiano" de Tchaikovsky ante o maior silencio já ouvido em uma plateia por demais heterogênea, de pessoas das mais variadas idades e títulos. Era o sinal de um começo que se tornaria magistral. Tchaikovsky nasceu em 1840, na cidade russa de Votkinsk. Um dos seis filhos de uma família de classe média russa, teve as primeiras impressões musicais com as canções populares cantadas pela mãe. Aos cinco anos, aprendeu a tocar piano. Ele morreu a 6 de novembro de 1893, aos 53 anos, ao contrair cólera depois de beber um copo de água não fervida. Seu nome completo era: Piotr Il'yitch Tchaikovsky. Ao terminar aquela partitura, as pessoas que ocupavam as poltronas se levantaram sob aplausos intensos e assobios estridentes, ao grito ensurdecedor de Bravo, Bravo, junto aos acordes finais. Nos camarotes e frisas também a plateia se comportava de igual forma. José Leandro e sua esposa, Miriam, alegres e felizes ostentavam aplausos engrossando o todo da fila que ovacionava a orquestra enquanto o maestro se voltava, curvando para agradecer e apontando para os músicos que, de pé, faziam seus carinhosos obrigados.

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