sábado, 9 de agosto de 2008

RIBEIRA - 55

Que peixe é esse...?....
Um dia como um sábado, Rapa-Coco, nome de Antônio Patricio, chegou ao escritório de tio Zeca com a cara azeda de quem bebeu durante a noite toda e com um enorme peixe na mão, dizendo a quem estava presente com um jeito enfarruscado que aquele peixe ela havia apanhado no meio da rua, no bairro das Rocas, onde tinha mais uns tantos que a meninada disputava à toda garra entre homens e mulheres. É claro que meu tio Zeca não acreditou em uma palavra sequer dita por Rapa-Coco quando Zé Areias entrou também no escritório e deu fé ao que o homem com a cara de bêbado acabara de dizer.
---- Tem muito peixe e pra quem quiser. Os bichos estão vindo do rio (Potengí) e pulando para a terra para não morrer na água doce, ao que parece. Até parece mentira: peixe que se apanha em terra.
E caiu na gargalhada. Mesmo assim, tio Zeca não acreditou, temendo que os dois estivessem macomunando uma daquelas piadas para lhe tomar dinheiro. Para bem lembrar, as Rocas era um mangue onde ancoravam os barcos de pesca que todos os dias voltavam à terra, vindos do mar. Os peixes, com certeza foram descarregados por alguma daquelas embarcações e, como era natural, alguns escaparam de um momento para outro das mãos dos pescadores.
Acontece, porém, que a noticia dos peixes vivos se espalhava de toda parte pela Ribeira e até outros mecânicos também traziam peixes nas mãos, cada um vibrando mais que o outro, pois sua pescaria lhe rendeu um bom apanhado para mais tarde os homens da graxa fazerem do peixe um salutar tira-gosto, onde comeriam aquele bom pescado com uma soberba cachaça feita de cana.
A essas alturas, Rapa-Coco foi lá para dentro, pedir a dona Osmarina, uma inquilina de tio Zeca para que ela fritasse o peixe que ele apanhara ainda vivo, lá para os lado do Canto do Mangue, pois queria saboreá-lo também. Ele, que era natural da praia de Pirangi do Sul, conhecia muito bem de peixes e até ajudou a descamar o belo pescado enquanto a mulher tratava de acender o fogo feito em um fogão queimando a carvão. A essas alturas, tio Zeca, mesmo sem ainda acreditar na tamanha façanha de Rapa-Coco, olhava, atento, no final do armazém o que estava sendo preparado para o sacrifício do então já sem vida, porém ainda novo, o peixe que era a atracão daquela manhã de sábado no velho armazém.
Durou um pouco de tempo a tritura do pescado e Rapa-Coco, lambendo os beiços, fazendo careta as mais diversas, com a roupa suja de tanto trazer e lavar o seu peixe, ainda ficava em pé, junto ao fogão de brasa, com uma garrafa de cana que alguém lhe presenteara pela façanha de ser o ébrio pescador, esperando apenas que a mulher lhe fizesse o presente do peixe assado. Então, todos comeram do peixe e beberam da cachaça que a essa altura tio Zeca mandara trazer do armazém, onde guardava umas garrafas para melhor satisfazer o seu augusto e imponente salutar presente de fim de semana. Nesse dia não houve mais expediente no Armazém de Madeiras.
Rocas nasceu com a cidade. Era o caminho entre o Forte dos Reis Magos e a Cidade Alta, passando-se pela Ribeira que ficava depois das Rocas. Antes dos dias atuais, as Rocas, cujo os historiadores teve o nome tirado de um Atol. o Atol das Rocas, ao longo da costa do Rio Grande do Norte, era um lugarejo onde havia, por força do rio, um verdadeiro manguezal. Hoje, onde circulam ónibus e carros, era bem diferente nos idos de 50, quando ali só existia mangue. Uma lagoa que ficava mais aquem do mangue das Rocas, era a Lagoa do Jacó, cujo proprietário tinha esse nome: Jacó. Na lagoa havia peixes. E esses peixes migravam para o rio de onde vinham. Quando o rio Potengí estava enchendo, era comum se vê os peixes nadando por entre o mangue das Rocas e em direção a Lagoa do Jacó. Desse modo, não foi por caso que Rapa-Coco encontrou o tal famoso peixe. Ele, o peixe, como os outros estavam vindo do mar, entrando pelo Canal que dava para o mangue, eram os habituais peixes de todos os dias que por ali entravam.

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