domingo, 17 de agosto de 2008

RIBEIRA - 68

ÁTILA, O REI

Em um dia de sábado, eu ouvi o caminhar ligeiro de alguém que chegava ao escritório do meu tio Zeca. Logo percebi pelo arrastar dos pés, não tão devagar, não tão arrastado, que alí caminhava pelo corredor a figura de Gastão, o amigo do meu tio. Não esperei muito e na verdade, ele já estava na porta da sala. Ao entrar, deu os seus cumprimentos, aos quais agradeci da mesma forma. Com seu traje de quem não muda nunca, paletó, calça, camisa, gravata, chapéu, sapato e meia, ele logo penetrou no recinto. Notando a ausência do meu tio que ainda não chegara, perguntou por Zeca e eu responde que ele estava por chegar. Mesmo assim, alí estavam os jornais do dia, pois eu sabia que Gastão havia de querer passar a vista nos matutinos. Naquele instante eu me recordei da vez que estive em seu quarto - um quarto do Avenida Hotel, que ficava na rua Duque de Caxias esquina com a rua Sachet, bem ao lado do Teatro Carlos Gomes. Eu estava ali para chama-lo, pois o meu tio sentiu falta de Gastão que por alguns dias não aparecia no escritório. De relance, vi no quarto , um guarda-roupa, cama e outros móveis e além disso, uma estante de duas portas, fechada, cheia de livros, uns que se resumiam a História Antiga. A estante estava do outro lado do quarto, por isso eu vi. Não me interessei em pegar em algum livro. O que eu fui fazer, foi dar o recado, e nada mais.

Então, naquela manhã de sábado, eu estava sozinho com Gastão no escritório e pensei em perguntar a ele o que fazia tantos livros naquela estante no meio de um quarto. Mesmo assim, fiquei calado, pois era o melhor que fazia. Gastão, de pernas cruzadas, passava a vista no jornal, com a sua cabeça abaixada e já sem chapéu. Algo que de deixou surpreso. Ele tinha poucos cabelos em sua cabeça. De imediato, aquilo me lembrou de uma figura soberba, justo ao contrário de Gastão. Figura essa que vi no cinema, uma certa vez. Átila, Rei dos Hunos. Não tinha nada uma coisa com outra. Mas a figura de Átila me veio à memória diante de Gastão, de poucos cabelos. E quem foi aquele bárbaro?

Diz a História que Átila (paizinho - verdadeiro contrassenço) era um rei dos nômades mongóis conhecido pelos hunos. Os hunos eram guerreiros ferozes e hábeis cavaleiros, capazes de cavalgar em batalhas com uivos selvagens. Sua violência era apenas por pilhagens. O hunos tinham origem na região da Mongólia, na Ásia. No século IV, começaram a migrar para o Ocidente devido as mudanças climáticas. Pelo que diz a História, eles eram criadores de cavalos e adeptos de combates a cavalo, com lanças e arcos. Movendo-se com suas famílias e grandes rebanhos de animais domesticados, dentre eles, o cavalo, os hunos migraram em busca de novos pastos onde se estabeleceriam.

O apogeu do império huno aconteceu durante o governo do seu principal líder, Átila, responsável por diversas conquistas em guerras e batalhas. Ele tornou-se líder dos hunos em 433 d.C. e empreendeu uma série de incursões ao sul da Rússia e Pérsia, então se dirigindo sua atenção para os Bálcãs causando suficiente terror e destruição. Em 450, ele se dirigiu ao Império Romano do Oriente, cruzando o Reno ao norte de Mainz com 100 mil guerreiros. Átila saqueou várias vilas, inclusive a França. O general romano Aécio levantou um exército romano-visigótico e avançou contra Átila, que estava sitiando a cidade de Orleans. Na principal batalha de Chalôns, Átila foi derrotado, mas não destruído. Foi a última grande campanha militar do Império Romano do Ocidente.

Átila então invadiu a Itália, procurando novos saques. Enquanto ele passava, refugiados fugiam para as ilhas na costa do mar Adriático, iniciando a povoação que mais tarde daria origem à cidade de Veneza. As forças romanas estavam esgotadas e seu exercito principal continuava na Gália. Os hunos também estavam fracos, esgotados por incessantes campanhas, doenças e fome na Itália. Numa reunião com o Papa Leão I, Átila concordou em recuar. O império desintegrou-se após a morte de Átila em 453 d.C. com nenhum líder forte para mantê-los unidos. Átila foi o último e mais poderoso rei dos hunos. Governou o maior império europeu de seu tempo desde 434 até a sua morte, em 453. Suas possessões se estendiam da Europa Central até o Mar Negro, desde o Danúbio ao Báltico. Durante o seu reinado foi um dos maiores inimigos do Império Romano, invadiu duas vezes os Bálcãs, esteve a ponto de tomar a cidade de Roma e chegou a sitiar Constantinopla na segunda ocasião. Ainda que seu império tenha morrido com ele e não tenha deixado nenhuma herança notável, tornou-se uma figura lendária na história da Europa.

Gastão acabou de ler os jornais do dia e anunciou que já ia embora, pois teria que passar no barbeiro para mandar aparar o seu cabelo. Pôs o chapéu na cabeça, ajeitando de um lado para outro, deu o seu bom-dia cordial e anunciou que talvez voltasse mais tarde, pois o meu tio até aquela hora não chegara. Com sua fala mansa se despediu e saiu, rumando pelo corredor do sobrado. Uma figura passava o pano no assoalho, varrendo com uma vassoura de pelo. Era Joel, o rapaz que morava ao lado, no mesmo prédio em que meu tio tinha o seu escritório.


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