quinta-feira, 21 de agosto de 2008

RIBEIRA - 77

O BODE

Naquela manhã, ainda cedo, chegou ao escritório do meu tio Zeca, o seu amigo de longas farras, Ze Areias, puxando um bode amarrado pelo cabestro. E era um magnífico bode velho, sem resta de duvidas, pois pela cara dizia. No escritório estavam Rapa-Coco (Antônio Patricio), e mais alguns inseparáveis amigos do meu tio, só esperando a hora de chegarem ao bar, Lago Azul, o preferido de todos os bons "biriteiros" da cidade. Só faltava Zé Areias. E este, por fim, chegara, com seu inseparável bode de bons berros e chifradas bem melhores ainda. Ao ver o velho bode, meu tio estranhou: - "Como é que pode, Zé? Um bode?" . E todos os que estavam presentes caíram na gargalhada. "Uma vez, você com um carneiro. Outra, com um peru. E agora me vem trazendo um bode?", comentou o meu tio ainda perplexo. Com sua barriga de fazer inveja a qualquer um, e peito ainda maiores, Ze Areias cumprimentou a todos e em seguida rebateu: "Vai querer? Um bode macho pra ninguém botar defeito. Olhe aqui os documentos dele! Bode pai de chiqueiro! Cinco mil reis, a senha! Vamos?". Naquela altura dos acontecimentos, mesmo sabendo que era difícil de tirar, pois mais fácil era acertar no bilhete da Loteria Federal, meu tio não pestanejou e tirou, de imediato, quatro números, pois, quem sabe se a sorte não lhe sorria?. Zé Areias ofereceu a mais alguns que estavam alí, porém ninguém teve os cinco mil reis para levar o bode, se desse no final do dia, na Loteria o numero apostado.

Essa história do bode ganhou o mundo, pois era um feito inusitado o de Zé Areias. Isso me faz lembrar da história de um peru que ele inventou de apostar. Um dia, Zé Areias procurou um "Doutor" Abelardo, para saber se o homem queria comprar um bilhete da sorte de um peru. O homem perguntou onde estava o peru e ele respondeu que estava bem guardado. Porém, só o "doutor" quisesse ver, não faria questão. Zé Areias iria buscar o peru. O homem aqcedeu dizendo que se Zé troussesse o peru, ele comprava mais de um bilhete. Com isso, Zé não contou conversa e disse que voltaria num instante.

Acontece que Zé Areias sabia que o Juiz, que ele chamava "doutor", tinha em sua casa um peru por quem a mulher não se dava bem com a ave. O peru vivia preso no quintal e todo dia o marido dava de comer àquela ave, antes mesmo de fazer o seu desjejum. Com isso, a mulher esbravejava todo santo dia. E daquela vez, chegou a sua casa Zé Areia como recado do Juiz, dizendo que ele podia levar o seu bendito peru. A mulher do juiz nem se deu conta e mandou Zé pegar o peru que estava preso no quintal. Em seguida, Zé Areias saiu com a ave, e foi embora de porta a fora. Ao chegar onde estava Dr Abelardo, ele mostrou o peru. Satisfeito com a façanha, o Juiz comprou logo cinco bilhetes e disse esperar pelo resultado ainda naquele dia. Zé saiu da sala e voltou a casa do Juiz, onde amarrou o peru, sem ninguém notar, no mesmo canto que a ave estava. No fim da tarde, o Juiz Abelardo foi procurado por Zé Areias que, de imediato, foi logo dizendo:" Homem do sorte! O bicho foi peru e o bilhete é o seu". O doutro se encheu de vida, pois sabia que ele teria conquistado aquela sorte, com certeza. Mas, logo perguntou: "Cadê o peru?". E Zé Areias respondeu: "Deixei em sua casa!". Amplo e satisfeito o Juiz voltou para casa naquele dia, com a intenção de olhar o peru. Qual não foi sua surpresa quando viu o mesmo peru, preso pelo pé, no quintal de sua casa. Então, perguntou a sua esposa se Zé Areias tinha estado ali. A mulher respondeu que sim e até levou um danado de um peru, para sossegar a sua paciência. Então, o Juiz respondeu como era possível se a ave estava alí, presa pelo pé? A mulher então nada soube dizer. No final das contas, o Juiz já estava consciente de que perdera para Zé Areias, pois nenhum peru recebera. A ave que estava no quintal, era mesmo a dele.

Essa e outras boas piadas conta-se de Zé Areias. Eu o conheci. Vez por outra lá estava o homem oferecendo um bilhete da sorte para quem quisesse comprar. Muitasde tais histórias foram inventadas e creditadas ao homem, José Antônio Areias Filho, nascido no ano de 1900 e que faleceu 72 anos após. Certo tempo, o homem teve dinheiro, em dólares. Porém, de todo esse dinheiro não lhe restou uma sobra sequer. Morreu em um quarto alugado, na Rua do Areal, bairro das Rocas, em Natal, (Rn). Quando o Brasil entrou em guerra contra o Eixo, Zé Areias foi trabalhar no Campo de Parnamirim no seu ofício de barbeiros. Certa vez, ele conseguiu passar aos soldados norte-americanos uma ave de rapina - um urubu - como sendo um peru. Zé Areias foi muito bem tratado no Campo de Parnamirim pelas tropas que voavam para Natal. Ele chegou a ser levado para Dakar, no Senegal, apenas para fazer a barba dos soldadinhos americanos, porque os militares acharam nele um barbeiro exemplar.


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