sexta-feira, 29 de agosto de 2008

RIBEIRA - 92

REDINHA

Na manhã daquele domingo do ano de 1962, eu e meus amigos deixamos de lado o que era de bom em Natal e resolvemos mudar de rumo e seguir viajem com destino à Redinha e, dalí em diante, até poder chegar na praia de Genipabu. A Redinha só tinha casas de veraneio e casebres de pescadores, logo no seu inicio. Ali, a pessoa descia da lancha e era recebido pelas mulheres que vendiam tapioca e peixe frito no Mercado Publico da vila. Aos domingos, o movimento de gente era bem maior que nos dias de semanas. A Redinha tinha ainda, além das casas de veraneio do pessoal da cidade, uma Capela de Nossa Senhora e uma espécie de bar, o Redinha Clube cuja casa era toda feita de pedra de praia.

Bem antes disso, tinha a Redinha com casebres de palha e seus humildes quintais onde se abrigavam os pescadores. A areia era fina e o vento que soprava fazia um redemoinho que chegava até mesmo a cobrir as casas mais próximas da beira do rio ou do mar. A primeira referencia existente sobre o local figura no texto da sesmaria, concedido ao vigário do Rio Grande, Gaspar Gonçalves Rocha por João Rodrigues Colaço, em 23 de junho de 1603. Nesse recanto de mar aberto, os portugueses daquela época já conheciam o potencial pesqueiro da praia, que era um antigo porto de pescaria dos capitães-mores, os quais foram os primeiros colonizadores do lugar. Um mapa do local indica a existência do um "Porto de Pescaria", com a presença de "rede" no mesmo local onde hoje é a Praia da Redinha.

O topônimo da praia faz referencia a uma vila em Pombal, na beira baixa de rio Tejo, em Portugal.. "Distrito vila, a margem esquerda do município de Natal", Redinha-de-fora é um local arruado. A Redinha de dentro fica na foz do rio Doce., desaguadouro da lagoa de Extremoz. A Igreja de pedras pretas, construída pelos veranistas, em 1954, foi erguida de costas para o mar, ato imperdoável para os pescadores. E é por isso que os pescadores continuam frequentando a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, bem mais antiga, construída em 1922 - igrejinha menor, "branca, como uma capelinha panda ao vento", para usar a expressão de "Praeira", de Othoniel Menezes.

Na festa de Nossa Senhora dos Navegantes há duas procissões, com duas imagens: a da capelinha antiga é a imagem da Procissão Marítima, pelas águas do rio Potengi, entre a Boca da Barra e os confins da Base Naval; e a imagem da igreja preta, que vai por terra, levada pelos veranistas ao longo das ruas e becos da vila. De pedras do mar, também foi construído o Redinha Clube, em 1937. Durante décadas, o Redinha Clube, teve uma importância relevante para a sociedade que frequentava aquele recanto do Potengi. Hoje, está abandonado e esquecido, quase enterrado pela areia que avança para a vila. Foi alí, no cais da Redinha que eu e meu amigos desembarcamos e seguimos viagem pela beira da praia com destino a Genipabu. Ali não havia casa alguma, Eram só dunas de areia branca e salsa que crescia ao seu redor. Na frente, bem lá na frente, cruzamos o rio Doce, de água limpa e saudável. Quando já era quase onze horas, chegamos ao nosso destino. Enfim, pudemos contemplar a maravilha de terra vazia para quem sabe , um dia, viesse a ser ocupada pela sanha imobiliária. Naquele tempo não havia tal sanha como hoje existe. A Redinha "velha" se tornou em uma surpreendente nova praia por quanto tempo, não se sabe precisar. Enfim, para todos, aquela é simplesmente a velha Redinha, e nada mais.


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