quinta-feira, 14 de agosto de 2008

RIBEIRA - 66 - Parte 2

O MUNDO DO QUMRAN
A água também era canalizada para os banhos rituais, que eles (essênios) tomavam duas vezes por dia para se redimir dos pecados e das impurezas do corpo. O ritual consistia em relatar todas as faltas e então submergir. Essa foi uma prática que influenciou o batismo e a confissão dos católicos, diz Ruth Lespel, historiadora da USP. Outro ponto em comum entre os essênios e o catolicismo seria a figura de João Batista, o profeta de batizou Jesus Cristo. O santo promovia batismos no Rio Jordão numa região próxima a Qumran. Sua postura messiânica era muito próxima à dos essênios. Há quem acredite que, quando foi batizado, Jesus teria visitado o monastério e sido influenciado por sua doutrina. Há outras relações entre essênios e crsitãos. "Existem passagens dos Manuscritos do Mar Morto, aqueles encontrados em 1947 nas cavernas do Qumran, que soam como as do Evangelho cristão", afirma James Vanderkam, da Universidade de Notre Dame, Estados Unidos. Traços da doutrina dos primeiros seguidores de Jesus - como o elogio de uma vida humilde, a proibição do divórcio e a invocação a Deus como um pai - têm ressonância na fé do Qumran. Quanto a Jesus Cristo, apesar das descobertas e polémicas levantadas por Ouseley e Szekely, não há nos manuscritos encontrados nas cavernas do Mar Morto ma única menção a ele. É por isso que a maioria dos pesquisadores duvida da teoria de que Jesus tenha se aproximado dos essênios. Jesus pode ter recebido influência das mais diversas correntes do judaísmo, inclusive deles.
Afirmar que Jesus se alimentava apenas de vegetais é ainda mais complicada. Ele celebrou a pascoa judaica, que envolve alimentos como ovo, patas de cordeiro e frango. As passagens do Novo Testamento afirmam que Jesus se alimentava de carne. A doutrina do vegetarianismo não seria bem recebida pelos judeus, acostumados a fazer sacrifícios e a comer carne. e Paulo, o apóstolo, teria modificado os Evangelhos para tornar o cristianismo mais popular. Um exemplo dessas alterações estaria na passagem do Novo Testamento em que Jesus multiplica pães e peixes para alimentar uma multidão. O Evangelho dos Doze Santos traz uma outra versão desse milagre, na qual os peixes são substituídos por uvas.
No ano de 68 o monastério de Qumran foi aniquilado numa devastadora investida do Exercito romano que arrasou a Judéia e destruiu Jerusalem. O ataque era dirigido principalmente aos judeus zelotes, que se insurgiram contra o domínio romano. Qumran, que não era nenhuma fortaleza, foi presa fácil para as legiões de César. Mas nem todos os essênios morreram aí. Alguns fugiram para Massada onde, aí sim no ano de 73, descobriram o que é um final trágico. O esconderijo, uma fortaleza zelote ao sul de Qumran, localizada no alto de uma colina, parecia impenetrável. Mas, 15.000 romanos fizeram um cerco que durou dois anos e metodicamente construíram uma rampa de terra e areia para alcançar o topo da fortaleza. Quando os soldados finalmente invadiram Massada tiveram uma surpresa: todos os 1.000 rebeldes estavam mortos. Em um sorteio, os zelotes haviam escolhido um grupo de soldados para assassinar todos os habitantes da fortaleza e, em seguida, cometer suicídio. Eles preferiram morrer entre os judeus a se tornar escravos dos romanos. Sobraram para contar a história apenas duas mulheres e cinco crianças, que haviam se escondido nos reservatórios dágua. O episódio foi relatado por Flávio Josefo e provou ser verdadeiro em 1965, quando arqueólogos pesquisaram a região. Eles acharam a marca dos oito acampamentos romanos e pedaços de cerâmica com inscrições dos nomes dos zelotes, utilizados no dramático sorteio.
Segundo (Flávio) Josefo, os essênios existiam em grande número em diversas cidades da Judéia. Mas algumas variações da seita podem ter ocupado regiões ainda mais distantes. Uma comunidade egípcia do século I, os terapeutas, possuía um modo de vida semelhante ao da seita de Qumran e a mesma divisão entre luz e trevas. Também é possível que ebionitas e nazarenos, duas das primeiras seitas cristãs, sejam descendentes de essênios. Há quem acredite que os nazarenos (povo natural de Nazaré, cidade onde Jesus viveu) formaram uma grande comunidade em Monte Carmel, no norte da Israel atual, que seguia os ensinamentos de Qumran, mas com algumas diferenças. As regras seriam muito próximas daquelas encontradas nos escritos. Ao contrário de Qumran, eles não praticavam o celibato e até mesmo formavam famílias. Fanáticos pelo principio de amar todos os seres vivos, eram muito mais rigorosos em relação ao vegetarianismo: não comiam peixes nem matavam os vegetais para comer. Comiam folhas de alface, por exemplo, sem arrancar do pé. Os essênios permanecem como um assunto vivo. os pergaminhos e evangélios que eles deixaram são exaustivamente estudados por cientistas e religiosos do mundo inteiro, Seus ensinamentos recrutam milhares de fiéis e, qualquer que seja a relação que mantiveram com Cristo, deixaram, sem dúvidas, sua influência impressa no coração e na mente do cristianismo.

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